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Hubs de pequenos produtores enfrentam desafios de estoque e logística

Pequenas empresas que servem de ponte entre cliente e fornecedores de produtos alimentícios lidam com gargalo de comprar, armazenar e entregar com rapidez

Por Marcos Leandro
Atualização:

Seja pela busca por uma alimentação mais saudável e sustentável ou até mesmo pelo prazer de consumir alimentos regionais, muitos brasileiros optam por comprar produtos naturais e artesanais, de fabricação quase caseira e em pequena escala.

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A empresária Kim Machlup é uma dessas consumidoras que preferem fazer compras nas mãos de pequenos produtores. Além de estimular a economia familiar e local, ela conhece a procedência e a qualidade do que está levando para casa. Porém, com a pandemia, ela sentiu mais dificuldade para adquirir produtos. Viu aí uma oportunidade para empreender, servindo de ponte entre o cliente e muitas microempresas de produtos artesanais.

“Durante a pandemia, eu me senti meio órfã desses alimentos. Comecei a buscá-los online, mas cada um tinha um formato de comunicação diferente, o que tornava o processo complexo”, conta ela.

Como é comum que cada produtor forneça produtos únicos, para fazer um lanche, por exemplo, ela precisava comprar o pão em um lugar, a geleia em outro e assim por diante. “Para cada coisa que comprava, tinha que pagar um frete diferente. Isso não é sustentável."

Focada em achar uma maneira mais fácil de conseguir esses produtos, conversou com produtores e realizou uma pesquisa com 150 potenciais compradores. Kim trabalhava no ramo imobiliário e largou o emprego em julho do ano passado com o objetivo de que a nova empresa começasse a funcionar um mês depois. Deu certo e assim surgiu a Baskets.

A empresária Kim Machlup criou a Baskets, servindo de ponte entre o cliente e microempresas de produtos artesanais. Foto: Felipe Rau/Estadão

A loja online reúne uma rede de vendedores diferentes, mas a administração do estoque e do envio dos produtos para os clientes finais é toda feita por Kim. “A ideia é conseguir trazer o pequeno produtor para o mundo digital, mas não é a praia deles.” Enquanto isso não acontece, cria-se acesso para que consumidores consigam chegar mais facilmente aos produtos deles. Hoje, são mais de 60 produtores e 450 produtos no e-commerce.

Ali, o cliente consegue fazer uma compra completa, com produtos variados, pagando um único frete e recebendo tudo de uma vez. Mas por traz dessa facilidade existe uma logística complexa. Os produtos vêm de diversos Estados do País e, além disso, possuem suas próprias particularidades. Um queijo, por exemplo, tem uma validade inferior a uma garrafa de azeite. Por isso, os itens são repostos de formas diferentes.

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“Em relação aos produtos que duram mais, como azeite, chocolate, cerveja e temperos, os produtores deixam com a gente, para que esteja sempre disponível. Já aqueles que duram menos, como queijos, defumados e brownies, a gente acaba tendo uma reposição quase que semanal. No caso dos pães, há a necessidade de repor diariamente”, explica. 

Cada produtor é responsável por enviar os alimentos para a sede da Baskets, que fica na cidade de São Paulo. O prazo de entrega depende dos itens escolhidos, podendo variar de um a cinco dias úteis. Se o consumidor pedir apenas produtos de pronta entrega, que também estão disponíveis na plataforma do Rappi, é possível receber até no mesmo dia. No momento, a empresa atende apenas na Grande São Paulo e, recentemente, abriu uma loja física na capital, na Vila Madalena, zona oeste.

Baskets reúnemais de 60 produtores e 450 produtos no e-commerce. Foto: Felipe Rau/Estadão

“O grande desafio hoje é conseguir encurtar cada vez mais o prazo de entrega para o cliente final, uma vez que as pessoas querem que os produtos cheguem mais rápido”. Segundo a fundadora, a loja física está sendo testada para ver se faz sentido investir em outros locais ou até mesmo em um sistema de franquias. Em paralelo, está sendo desenvolvido um novo site e será criado um modelo de assinatura. 

Clubes de assinatura e cuidados na entrega

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Há oito anos no mercado, o Cateto nasceu como um bar focado em produtos artesanais de pequenos produtores brasileiros, com destaque para as cervejas, que eram acompanhadas por queijos e itens de charcutaria. Ao longo desse tempo, foram abertas duas unidades na capital paulista, a última encerrada no ano passado por conta da pandemia.

“Fomos obrigados a procurar um outro modelo, pois era insustentável, uma vez que o nosso serviço e os produtos não funcionavam muito bem em delivery. A saída que encontramos para conseguir manter o trabalho vivo, com o trabalho de curadoria dos pequenos produtores, foi criar um clube de assinaturas. Aí nasceu o Cateto Crafters”, conta Eduardo Jarussi, um dos sócios da marca. 

Dos pampas gaúchos ao sertão baiano, todos os meses o Cateto seleciona produtos artesanais feitos por pequenos produtores de alguma microrregião do País e entrega em uma cesta para os assinantes.

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Mensalmente, a Cateto seleciona produtos artesanais feitos por pequenos produtores de todo o Brasilpara clube deassinaturas. Foto: Eduardo Jarussi

Até o momento, todas as cestas contaram com produtos inéditos. Apesar das entregas mensais, todo o processo de compra e armazenagem ainda é um grande desafio. Pela diferenciação dos produtos, Eduardo conta que em cada mês é necessário encontrar novos produtores que consigam entregar a quantidade necessária dentro do prazo e sem perder a qualidade. “A logística quase sempre é terrestre, o que muitas vezes, pelo prazo, acaba impossibilitando a venda de alguns produtos com validade baixa”. 

A assinatura é feita pelo site do Cateto e, atualmente, são cerca de 130 assinantes em São Paulo. “Imagina entregar, em três dias, mais de 100 cestas em uma cidade grande como São Paulo? É um trabalho bem delicado.”

Com dois anos no mercado, o e-commerce Chocolata (que reúne variadas marcas nacionais) entrega em todo o País. De acordo com o diretor Danilo Fortunato, os produtos vêm de diferentes partes do Brasil e são armazenados na sede da empresa na capital paulista, em locais com temperatura regulada de acordo com o tipo de chocolate. 

Para garantir que o produto chegue ao consumidor sem perder a qualidade, o processo de entrega precisa ter alguns cuidados. Os pedidos feitos em São Paulo são entregues em até quatro horas, já aqueles que precisam sair da capital têm um processo diferente. 

“Toda vez que o chocolate sai da cidade de São Paulo, ele vai dentro de uma caixa de isopor e envolto em um plástico bolha, protegido contra quedas. Dentro dessa caixa, vai um gelo logístico, que garante de 36 a 48 horas de transporte, que é o máximo de tempo que leva para a entrega. Dessa forma, já consegui entregar em Manaus, por exemplo.” 

Antes da venda, os chocolates são comprados e armazenados em São Paulo, e o tamanho do estoque depende do nível de demanda e da validade do produto. Por mês, são vendidas cerca de 500 a 600 barras.

Tecnologia para otimizar processos

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Criada em 2016, a foodtech Raízs conecta pequenos produtores de alimentos orgânicos de várias partes do País ao consumidor final com entregas em São Paulo. Segundo o fundador Tomás Abrahão, o processo logístico começa desde antes da plantação, com agrônomos que planejam a produção junto com os agricultores.

Existem dois modelos de compra: a assinatura, onde é possível personalizar a cesta e a quantidade de alimentos; e a compra avulsa, em que o cliente entra no site e escolhe o que quer comprar. 

“Trabalhamos com mais de 800 produtores na nossa base e é possível saber o que está na terra e o que pode ser colhido, por meio de uma plataforma feita com tecnologia própria.”

Para conseguir buscar os alimentos que estão nas mãos de diferentes produtores, a startup tem pequenos centros de distribuição espalhados pelo País. Nessa logística, há também um olhar diferenciado para as especificidades de cada alimento, principalmente frutas, verduras e legumes, que têm prazo de validade curto. 

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Então, quando a empresa sabe que um produtor tem alface disponível para ser colhido, disponibiliza esse produto para a venda no site. Feita a compra, o produto sairá do estoque virtual, será colhido pelo produtor e entregue para o consumidor.

Tomás conta que todos os produtos são comprados dos produtores antes da venda ao cliente final ser feita. “Damos essa segurança para o produtor.” Com 150 funcionários e mais de 2 mil produtos disponíveis, a Raízs vende por mês cerca de 360 toneladas de alimentos. Em processo de expansão, a startup já prevê entrar em outros Estados. “Ainda este ano, nós devemos ir para Rio de Janeiro e Paraná.”

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