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Opinião|Nove eixos para endereçar os desafios da habitação de interesse social

Combater o problema da moradia é atacar a desigualdade social e promover oportunidades para a população de baixa renda; programa de aceleração vai apoiar negócios de habitação

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Atualização:

O empreendedorismo de impacto social tem se firmado como uma das potências transformadoras do Brasil por ter como diferencial o entendimento multifatorial de problemas socioambientais. Na prática, o empreendedor e a empreendedora social conhecem, em profundidade e com empatia, a dor e a vulnerabilidade social.

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Com base nesse conhecimento, criam empresas que oferecem, de forma intencional, soluções para problemas enfrentados pela população em situação de vulnerabilidade socioeconômica. Em alguns setores, esse modelo tem endereçado propostas para questões que estão extremamente ligadas à perpetuação do abismo social.

A habitação de interesse social é um desses setores que dialoga com a importante e urgente demanda de combatermos a desigualdade social. Trata-se de um problema que impacta a vida dos brasileiros em diferentes dimensões. Como já abordei em outros artigos, a moradia é mais do que um teto e quatro paredes; ela está associada a melhores oportunidades de emprego, ao acesso a uma boa educação e à saúde, além de representar reais chances de mover o ponteiro do elevador social.

Sabemos que os problemas habitacionais do País são complexos e dizem respeito, por exemplo, a desafios como regularização fundiária, ônus excessivo com o aluguel; envolvem, ainda, demandas urgentes de ampliação do acesso ao crédito imobiliário e a soluções de aluguel social. Sobre os déficits qualitativo e quantitativo, a Fundação João Pinheiro aponta que o País necessita de 5,9 milhões de novas moradias; a análise das inadequações estruturais ultrapassa os 24,9 milhões de residências.

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Pandemia reforçou a urgência de arranjos inovadores e escaláveis para o setor. Foto: Alexandre Cerqueira

Há mais de uma década, a Artemisia tem estudado o setor para avaliar formas de criar condições adequadas para o surgimento de uma nova geração de negócios de impacto social. Nesta jornada de suporte, com produção de conteúdos qualificados e inspiração, criamos a Coalizão Habitação - um movimento que reúne grandes players do setor da construção como Gerdau, Instituto Vedacit, Tigre, Votorantim Cimentos e Leroy Merlin. A iniciativa conta, ainda, com o apoio da Habitat para a Humanidade Brasil. Uma das principais frentes do coletivo é um programa de aceleração, que chega à quarta edição após dar suporte a mais de 80 empreendedores atuantes no tema.

A edição 2021 vai selecionar até 20 negócios focados na temática de moradia para uma jornada de apoio totalmente on-line, gratuita e com duração de 12 semanas. Os participantes terão acesso a uma rede robusta de mentores e empreendedores do setor, além de conteúdos práticos para a identificação dos principais desafios, validação de hipóteses e para o planejamento para os próximos passos da empresa ou startup. Ao final do programa, os cinco negócios que se destacarem irão receber, cada, um capital-semente de R$ 30 mil e contarão com um processo intensivo e individualizado de aceleração por mais três meses.

A busca por negócios recai, inclusive, por soluções que dialogam com os nove eixos que identificamos como chaves para endereçar os principais desafios enfrentados pela população de menor renda quando o tema é habitação.

  1. Acesso e eficiência de serviços básicos: soluções que promovam a diminuição da pobreza energética, além de maior acesso, armazenamento e utilização de água potável; saneamento básico doméstico; e logística e despejo do lixo.
  2. Aluguel acessível para moradia adequada: soluções que promovam possibilidades de locação acessível em moradias dignas e de boa localização, além de soluções que promovam o serviço de aluguel compartilhado.
  3. Soluções financeiras para a habitação: que permitam um maior acesso a crédito ao cidadão de baixa renda, para as diversas usabilidades no setor de atuação como reformas, construção, casa própria, aluguel e outros.
  4. Capacitação e oportunidades para profissionais na construção civil: soluções que promovam a profissionalização de pessoas para obras e assistências técnicas, podendo ter foco na formação de grupos minoritários, e serviços que possibilitem a intermediação para contratações.
  5. Reformas habitacionais e assistência técnica: soluções acessíveis de reformas e assistência técnica, e que ofereçam acesso à informação e conscientização da população sobre esses tipos de serviços.
  6. Inovações de processos e materiais na construção civil: que ofereçam melhorias nos processos de construção, como a utilização de energias e materiais não renováveis, produtos mais sustentáveis ou a melhora logística de reutilização e reciclagem de resíduos.
  7. Regularização fundiária: que ofereçam o acesso à informação e conscientização da regularização, além de serviços que facilitem a intersecção de todos os stakeholders e cobrem um preço justo para a regularização.
  8. Gestão de condomínio de habitação social: que qualifiquem e otimizem a gestão de condomínios e habitações populares, gerando inserção social e econômica às famílias impactadas.
  9. Qualificação dos espaços públicos e do desenvolvimento local: que qualifiquem espaços públicos/comuns em comunidades vulneráveis, fortaleçam a economia local e levem o acesso à cidade para as periferias.

As inscrições para o Lab Habitação: Aceleração de Negócios estão abertas até 17 de setembro e podem ser feitas por esse site. A nossa visão é que a pandemia reforçou a urgência de arranjos inovadores e escaláveis para o setor. E, para enfrentar problemas dessa magnitude, é preciso agir em colaboração, unir expertises de diferentes organizações e empresas que olham para os temas habitacionais. Apenas dessa forma é possível avançarmos na transformação necessária e construir um Brasil mais habitável para todos e todas.

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* Maure Pessanha é empreendedora e diretora-executiva da Artemisia, organização pioneira no fomento e na disseminação de negócios de impacto social no Brasil.

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Opinião por Maure Pessanha
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