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Para manter negócio aberto, talvez solução seja crescer e encolher depois

Com aumento maciço de demanda por entregas, pequenos negócios norte-americanos tiveram que mudar seus modelos de negócio para crescer durante a pandemia

Por Paul Sullivan
Atualização:

Mike Geller passou quase uma década ajustando o foco da Mike’s Organic Delivery, que ele fundou em 2009. No início, o modelo lembrava um programa de apoio à agricultura comunitária (CSA), por meio do qual os clientes aceitam receber os produtos da temporada.

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Já no terceiro ano, a empresa fazia cerca de 200 entregas por semana: em Fairfield County, Connecticut, e em Westchester County, Nova York. O acesso a produtos orgânicos era mais generalizado e os clientes queriam opções além das cestas pré-selecionadas. Assim, ele criou um mercado de orgânicos online, no qual as pessoas escolhiam antecipadamente as frutas, legumes e carnes que desejavam.

Em 2018, diante da acirrada concorrência de serviços online, ele promoveu nova guinada, reformando parte do armazém da empresa em Stamford, Connecticut, e acrescentando um mercado no ano seguinte. Seguiram-se festas particulares, eventos comunitários e aulas de culinária. “O crescimento foi um desafio", disse Geller. “A empresa não tinha alcançado o patamar que eu queria.”

Então, em março, a ordem de confinamento em casa foi dada em Nova York e Connecticut, e a empresa dele mudou de novo. Com o aumento maciço na demanda por entregas e, pouco depois, retiradas, o movimento chegou a um ponto que ele nunca imaginou, e para o qual não estava preparado. Os pedidos semanais aumentaram de 200-250 para 5.000. Ele também se tornou um dos principais vendedores dos produtos de meia dúzia de fazendas que vendiam sua carne, pão e produção a restaurantes de alto padrão, agora fechados.

“Não é questão de celebrar a prosperidade", disse Geller. “Eu e minha equipe estamos felizes com o movimento, e também por ajudar os pequenos produtores, mas ninguém está dando pulos de alegria.”

Para muitos negócios, a grande questão é saber como será a economia quando sua atividade for retomada. Mas as empresas que estão sobrevivendo — algumas estão até crescendo, como a Mike’s Organic — são aquelas que implementaram uma mudança brusca, seja com o negócio existente ou com uma nova linha de trabalho, disse Wendy Cai-Lee, presidente e diretora executiva do Piermont Bank, que oferece crédito a pequenas e médias empresas. “Aquelas que dependem de uma única fonte de renda têm mais desafios", disse ela (Geller começou com uma vantagem, é claro, já que os mercados são considerados essenciais).

Com o aumento maciço na demanda por entregas, os pedidos semanais da Mike's Organic aumentaram de 200-250 para 5.000. Foto: Chang W. Lee/The New York Times

Muitas das fazendas e padarias com as quais a Mike’s Organic trabalha se enquadravam nessa categoria: seu foco estava nos restaurantes que compravam quantidades substanciais e eram fregueses previsíveis. Agora, precisam encontrar varejistas para vender seus produtos e sobreviver.

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“Conseguimos dar conta de tudo", disse Geller. “Recebemos recomendações de nossos agricultores. O sujeito que prepara nosso molho de tomate conhecia um excelente fornecedor de cogumelos, que vendia apenas para restaurantes.”

O volume de entregas aumentou e o mercado vai bem, mas as entregas representam agora 70% do movimento, sendo que antes essa divisão era meio a meio. A possibilidade de mudar de rumo e vender para empresas como a Mike’s Organic diante do fechamento dos restaurantes ajudou muitos a seguir funcionando, mas não faltaram complicações.

“No dia 13 de março, 90% do nosso movimento se destinava aos restaurantes, na cidade e no Vale do Hudson", disse Marc Jaffe, dono da fazenda Snowdance, em Livingston Manor, Nova York, produzindo carne bovina e suína, frango e outras variedades. “Graças a Deus tínhamos alguns varejistas trabalhando com nossos produtos, caso contrário não teríamos nem mesmo um rótulo com aprovação do departamento da agricultura.”

Ainda que a Snowdance tenha escapado da necessidade de passar pelo demorado processo de obtenção da aprovação para a venda de sua carne no varejo, a fazenda teve que adaptar seu modo de produção. Se um restaurante pode encomendar 10 frangos inteiros em uma caixa ou 20 quilos de carne bovina, é improvável que um cliente faça compras nesse volume.

A mudança nas operações para atender ao mercado do varejo representa custos adicionais que reduzem a margem de lucro desses negócios — mas eles não estão se queixando.

Jaffe disse que as vendas da fazenda à Mike’s Organic aumentaram vinte vezes nos dois meses mais recentes, mas a receita da fazenda caiu. “Não posso determinar as quantidades exatas", disse Jaffe. “Mas meus custos aumentaram, pois temos que cortar tudo e embalar, e o custo de venda aumentou por causa desse esforço. Ainda não se observa um padrão de normalidade.”

A Mike's Organic também se tornouum dos principais vendedores dos produtos de meia dúzia de fazendasque vendiam sua carne, pão e produção a restaurantes de alto padrão, agora fechados. Foto: Chang W. Lee/The New York Times

Tim Topi, proprietário da padaria Wave Hill, com sede em Norwalk, Connecticut, considerada uma das 100 melhores padarias americanas pela Food & Wine, perdeu 60% do seu movimento com o fechamento dos restaurantes. Sua equipe de 25 funcionários produzia 2.000 pães por dia, e subitamente as encomendas caíram para 400 unidades.

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Mas, já no início de maio, graças a uma alta nas vendas no varejo e uma nova opção de entrega a domicílio, a padaria voltou à produtividade habitual de 2.000 pães diários, e ele disse que não teve que demitir ninguém.

“O movimento está 20% a 30% mais fraco” este ano em relação ao mesmo período do ano anterior, disse Topi. “Temos mais trabalho. Precisamos embalar os pedidos individuais, e os gastos aumentaram muito. Para os restaurantes, mandávamos apenas uma grande caixa de pães.” Ele diz acreditar que, no novo modelo, a padaria pode continuar evitando o prejuízo por mais cerca de seis meses.

Ambos os proprietários destacaram que, no momento, manter o negócio funcionando era mais importante do que recuperar a receita anterior.

Topi disse que contratar e treinar um novo grupo de padeiros seria um procedimento caro, podendo afetar a viabilidade do seu empreendimento depois que a crise passar, pois todos os seus pães são feitos artesanalmente no dia em que são vendidos; ele não teria pão suficiente para assar.

Jaffe disse temer algo pior: abater animais cuja carne não teria comprador. “Se interrompêssemos o trabalho, seriam necessárias des 14 a 20 semanas para retomar a atividade e, por isso, seguimos em frente", disse ele, dizendo que o prazo seria ainda maior no caso das vacas e porcos. “Exploramos as opções de varejo já existentes.”

A questão que se colocará é como as coisas ficarão quando os restaurantes reabrirem e as compras no mercado deixarem de ser uma operação tão complicada. “Mais do que nunca, ninguém sabe como será o futuro", disse Geller. “É tão difícil prever a situação daqui a 2 meses, que dirá um ano.” /Tradução de Augusto Calil

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