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Incubadoras nas universidades amparam negócios com mentoria e networking

Startups como WeGott e TissueLabs, na Faap e na USP, contam com auxílio de professores e ponte com o mercado; para incubadoras, projetos devem ter aplicação prática imediata

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Por Letícia Ginak
Atualização:

Para amparar os alunos que avançaram do desejo de empreender e partiram para a prática, algumas universidades, como USP, FAAP e Belas Artes criaram incubadoras. Por definição, uma incubadora é um espaço em que é possível desenvolver e transformar uma ideia em um negócio, com auxílio prático e teórico de professores e, em alguns casos, players do mercado. No local, é possível ter uma estação de trabalho para se dedicar ao desenvolvimento da empresa, mentorias com professores, trocas de conhecimento com outros alunos empreendedores e ainda promover o networking.

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Esse foi o caminho escolhido pela estudante de administração e engenharia de produção na FAAP Barbara Brilhante. Após criar um aplicativo de mobilidade urbana chamado WeGott para participar da Renault Experience, competição entre estudantes promovida pela multinacional, Barbara divide seu tempo entre a sala de aula e a estação de trabalho no B.Hub, incubadora da instituição, há mais de um ano.

Aos 27 anos, a jornada empreendedora da estudante é intensa. Barbara leva com afinco o desejo de colocar finalmente o WeGott no mercado. O aplicativo de transporte por agendamento (com hora marcada e sem taxa flutuante) já tem mais de 120 motoristas cadastrados. No fim do ano passado, a startup fechou um contrato de vesting (espécie de contrato societário) com uma empresa que iria desenvolver o aplicativo para o usuário e para os motoristas. 

A previsão era lançá-lo em abril deste ano. Mas veio a pandemia. O ambiente incerto fez com que, inicialmente, a estreia da empresa fosse adiada para agosto. Porém, a desenvolvedora parceira sofreu perdas significativas com a pandemia e não conseguiu prosseguir com o projeto. “Recebi essa notícia no meio de maio. Tive a sensação de ser demitida. Fiquei muito mal e abalada”, conta Barbara.

Mas, como todo empreendedor, entrou em jogo a resiliência. “Já estou conversando com três empresas de desenvolvimento para finalizar o aplicativo. Não sei se o lançamento ainda será este ano, o mundo está parado, não tem problema ir devagar agora. Mas, no máximo, no início do ano que vem a gente vai estar no mercado. Já estabelecemos parcerias com empresas que fazem limpeza e desinfecção de carros, por exemplo”, afirma. 

Com uma pandemia na bagagem, Barbara ainda precisa entregar o TCC para se formar neste ano em engenharia de produção. Em paralelo, ela também se tornou uma referência no cenário universitário empreendedor. Além de ajudar alunos que chegam ao B.Hub, Barbara se tornou embaixadora da Renault e já mentorou dois grupos que participaram da última edição da Renault Experience. A estudante também já fez parte do grupo de mentores de hackathons e competições promovidas por empresas como Banco Safra e IBM. 

Gabriel Liguori, médico ecriador da startup TissueLabs, incubada no Cietec. Foto: Daniel Teixeira/Estadão

E não para por aí. Em paralelo a WeGott, TCC e mentorias, Barbara pretende trabalhar em uma multinacional ainda no início de 2021. “Eu quero mais. Isso é uma coisa que já estava no meu road map pessoal. Quero executar esse plano e já estou começando essa busca. Se eu consigo fazer duas graduações, gerir uma empresa, dar mentorias e ser embaixadora, eu consigo mais isso também”, afirma, aos risos.

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“Quero me colocar no lugar de alguém subordinado. Uma empresa grande traz duas coisas: seu nome bem posicionado no mercado e aprendizado, porque empresas muito grandes lidam com problemas grandes e isso te dá um conhecimento muito maior para você trabalhar na sua empresa. É isso o que me motiva”, completa ela, sobre a própria carreira

Pesquisa acadêmica antes

Gabriel Liguori escolheu uma jornada empreendedora mais longa. Graduado em medicina pela USP, inicialmente sua ideia era ser pesquisador na área de medicina regenerativa e engenharia de tecidos, que permite fabricar tecidos e órgãos em laboratório. Assim, o passo seguinte à graduação foi seguir para o doutorado, que fez na Holanda. Ao retornar para o Brasil, em 2017, ajudou a criar o laboratório de pesquisas do Instituto do Coração (Incor), permanecendo com as pesquisas no local por mais dois anos. 

“Com o tempo percebi que as ambições que eu tinha eram muito grandes para caberem em um projeto acadêmico. É algo que exige injeção de capital e precisa de um desenvolvimento a longo prazo, com muita gente envolvida e que não seria possível fazer na academia sozinho. É um tipo de desenvolvimento que exige investimentos em escala bilionária e isso não é compatível com o tipo de investimento que a gente tem em pesquisa acadêmica”, diz.

Impressora 3D usada pela TissueLabs, biotech especializada em engenharia de tecidos. Foto: Daniel Teixeira/Estadão

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Foi assim que ele criou a startup TissueLabs em 2019. “Nosso objetivo é fabricar e comercializar órgãos para transplante daqui a 10 anos ou 15 anos, com foco no coração”, completa Gabriel. 

A pesquisa intensa para fabricar órgãos artificiais deu origem a alguns produtos no meio do caminho, que ajudam a gerar receita para a startup. “Dos desenvolvimentos que a gente faz no sentido de chegar a um coração artificial daqui a 10 anos ou 15 anos surgem no caminho inovações que a gente transforma em produtos. Então a gente funciona patenteando e comercializando inovações tecnológicas que desenvolvemos no caminho”, explica. 

Um dos produtos é o MatriWell, plataforma para estudos de células do pulmão desenvolvido em cerca de dois meses e que foi distribuído pela empresa de forma gratuita para grupos de pesquisa que estudam os efeitos da covid-19 no pulmão. “A gente tem de 20 a 30 pesquisadores no Brasil e fora do País utilizando a plataforma”, diz. 

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A TissueLabs está incubada no Centro de Inovação, Empreendedorismo e Tecnologia (Cietec), entidade gestora da Incubadora de Empresas de Base Tecnológica USP/IPEN. Atualmente, 50% das empresas incubadas no local têm como criadores ex-alunos da USP. 

O Cietec ampara e fomenta negócios muitas vezes originados de pesquisas acadêmicas, mestrado ou teses de doutorado. “Mas essa tese precisa ter uma aplicação prática imediata. Este é o equilíbrio que a gente procura aqui”, diz Sérgio Risola, diretor-executivo do Cietec. 

“Percebo que esse estudante formado recentemente, com uma pesquisa ou com sua tese, tem nos estudos o embasamento e a linha que ele quer adotar para desenvolver um negócio”, completa. “O Cietec acaba sendo um selo de confiabilidade, quando o mercado vê que você está lá dentro fica mais tranquilo em usar os produtos da sua empresa”, ressalta Gabriel. 

Outra instituição que apoia negócios baseados em pesquisa científica é a Fapesp, por meio do programa Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (PIPE). “Eles ajudam a conseguir investimento inicial para algumas etapas essenciais. Então, você consegue andar com as suas pernas. Nós montamos nosso laboratório, por exemplo. A Fapesp tem um papel fundamental na área de biotech no Brasil”, afirma Gabriel. 

Barbara Brilhante estuda administração e engenharia de produção na FAAP; ela criou startup de mobilidade que está incubada na universidade. Foto: Valeria Gonçalvez/Estadão - 28/02/2019

Para os alunos que pretendem empreender na área de biotecnologia, Gabriel tem um recado. “Você tem que ter muito conhecimento antes de começar a montar a empresa. Quando eu me formei em medicina, se eu tivesse resolvido fazer o que a gente está fazendo hoje na TissueLabs, seria impossível. Esses anos do doutorado e também montar o laboratório do Incor foram importantíssimos para a base científica do problema que a gente, como empresa, pretende resolver”, ressalta.

“Se prepare cientificamente para depois começar a investir em um negócio nessa área, senão você não se sustentará a longo prazo, não conseguirá provar que aquilo vai funcionar. Desde a graduação, já se prepare no sentido de fazer iniciação científica, vá para o laboratório, se junte a uma biotech para aprender como é o dia a dia de uma startup do tipo e se prepare cientificamente”. 

INCUBADORAS EM SÃO PAULO

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E outros centros de empreendedorismo em universidades paulistas

  1. Belas Artes - Núcleo de Empreendedorismo e Inovação 
  2. FAAP - FAAP Business Hub
  3. FGV - Centro de Empreendedorismo e Novos Negócios 
  4. Insper - Centro de Empreendedorismo 
  5. USP - Cietec
  6. USP - Habits
  7. USP - InovaHC

 

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