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Micro e pequenas empresas vão 46% melhor em ESG do que médias e grandes

Pesquisa avaliou 300 corporações em relação a propósito, estratégia de valor e liderança; entre os destaques, pequenos negócios como Dobra e Ana Health e a gigante Magalu

Por Marina Dayrell
Atualização:

Os princípios ESG (ambientais, sociais e de governança) podem parecer estar restritos a grandes corporações, mas uma pesquisa realizada com 300 companhias de variados portes e segmentos no Brasil mostra que as micro e pequenas empresas saem na frente nos temas relacionados à Nova Economia, que inclui a sigla. Em relação ao ESG, elas possuem performance 46% superior às grandes.

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Os resultados também apontam que as micro e pequenas empresas brasileiras superam as grandes companhias em cinco princípios: propósito, estratégia de valor, cultura consciente, aprendizado e mudança e liderança consciente. A pesquisa “Melhores para o Brasil”, da Humanizadas, obtida com exclusividade pelo Estadão e apresentada nesta quarta-feira ao público, avalia a qualidade das relações que as empresas desenvolvem e mantêm com clientes, colaboradores, lideranças, fornecedores e a sociedade em geral.

“A tendência, no Brasil, é que as micro e pequenas performem melhor. Claro que tem grandes exceções, mas, no geral, é mais fácil para uma empresa com 5 ou 20 colaboradores nutrir uma cultura saudável, ter um ambiente de segurança psicológica e cuidar da sustentabilidade, do que uma empresa com 30 mil ou 100 mil colaboradores”, explica Pedro Paro, CEO da Humanizadas, empresa de inteligência de dados que conduziu a pesquisa.

Nas micro e pequenas empresas, os empreendedores conseguem estar mais próximos das pessoas, sejam funcionários ou stakeholders, e com isso identificar problemas e ajustar a rota com mais rapidez, explica ele. A partir do momento em que a organização começa a crescer, os níveis hierárquicos crescem junto e aumenta a complexidade na gestão e na liderança, o que interfere no tempo de resposta aos erros. 

Os sócios da Ana Health, startup que obteve nota A na pesquisa, da esq. à dir:Victor Macul, Vinicius Molina Garcia e Olivio Souza Neto. Foto: Taty Liberato

No entanto, há médias e grandes empresas que também foram muito bem avaliadas, como, por exemplo, Magazine Luiza, Liv Up, Sabin e Banco Inter.  Para chegar às notas, que variam entre 11 níveis evolutivos (de AAA à E, sendo o primeiro o mais elevado), a Humanizadas identifica quem são os stakeholders da empresa e os aciona por uma pesquisa online, que coleta a percepção desses públicos em relação às organizações. Quem respondeu aos questionários não é identificado. Entre as 300 avaliadas, 200 tiveram notas acima de BBB, nível considerado de alta qualidade.

“Percebemos que quanto melhor é a qualidade das relações, melhor para o negócio. É melhor para o resultado financeiro a médio e longo prazos, para o bem-estar do colaborador, a reputação da marca e a satisfação do cliente. Consequentemente, investidores tendem a procurar mais a empresa”, analisa Pedro. Entre as avaliadas, 31% são micro (até 19 colaboradores); 33% pequenas (até 99); 26% médias (até 999) e 10% grandes (mais de 1 mil).

Além do negócio de impacto 

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Entre as micro e pequenas empresas bem avaliadas figuram muitos nomes do empreendedorismo de impacto social, como Simbiose Social (que promove patrocínio para negócios de impacto), Politize! (de educação política) e 4 Hábitos para Mudar o Mundo (de reaproveitamento de resíduos). Porém, assim como acontece entre as médias e grandes companhias, há negócios que não são considerados de impacto, mas têm modelo sustentável e seguem estratégias de valorizar a ética e as pessoas.

A Dobra, empresa de nove funcionários de Monte Negro (RS), é uma delas. Os sócios Guilherme Massena, Augusto Massena e Eduardo Seelig começaram o negócio em 2016, com a criação de carteiras feitas com fibra reciclada, similar ao papel. Com o tempo, passaram a incorporar outros produtos, como tênis e capa de notebook. Hoje, a empresa foi avaliada pela pesquisa com nota AA. 

Pedro Paro, CEO da Humanizadas, empresa de inteligência de dados que conduziu a pesquisa. Foto: Gustavo Belezoni

“A gente não nasceu para resolver nenhum problema do mundo, não somos negócio de impacto, mas dentro do que a gente faz queremos causar impacto em várias frentes, desde a responsabilidade socioambiental até a financeira em toda a cadeia”, explica Guilherme.

Para isso, o trabalho é pensado em relação ao combo colaboradores, clientes e sociedade. Como medida interna, nos seis primeiros anos, a empresa estabeleceu a política da não existência de cargos e de um salário igual para todos, inclusive para os sócios. 

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“Até hoje, isso funcionou. Foi uma prática importante porque temos uma disparidade salarial muito grande no Brasil. Mas, agora, chegamos num patamar de crescimento em que a mudança vai ser necessária para darmos o próximo passo”, conta.

Do ponto de vista da comunidade, a criação e confecção dos produtos é feita de forma colaborativa. Artistas independentes criam suas estampas no site e recebem comissão pelas vendas. Após os produtos serem impressos e cortados, eles são enviados para uma rede da cidade que faz a montagem.

Já em relação à sociedade e ao ambiente, a empresa não trabalha com estoque, mas sob demanda. “Nós invertemos a lógica, primeiro vendemos e depois produzimos. Não trabalhamos a matéria-prima de forma inútil para que seja descartada depois”, explica Guilherme. Os clientes ainda podem enviar produtos antigos para a empresa, para reciclagem, e obter 20% de desconto em um novo. 

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Propósito para colaboradores

A microempresa Ana Health decidiu participar da pesquisa para ter uma avaliação de pontos de melhoria, a partir do olhar externo, e é uma das avaliadas com nota A. Com um modelo de negócio primordialmente B2B (que tem como cliente final outra empresa), a organização é focada em oferecer assistência de saúde online para os colaboradores das contratantes. 

Guilherme Massena, fundador daDobra, empresa de nove funcionários de Monte Negro (RS). Foto: Eduarda Nedel/We Midia

Durante 24 horas por dia, sete dias por semana, o contemplado pode se consultar de forma digital com médicos, enfermeiros, psicoterapeutas e gerontólogos. Os profissionais fazem o acompanhamento da pessoa em casa, no hospital ou no trabalho. 

“O serviço é personalizado. Nós montamos uma linha de cuidado com as necessidades de cada pessoa. Tem gente que faz triathlon e quer melhorar o desempenho, tem outros com problema no sono ou, por exemplo, algum associado transgênero que esteja fazendo a terapia hormonal”, explica Vinicius Molina, sócio ao lado de Victor Macul e Olivio Souza Neto.

Para os empreendedores, a boa avaliação é resultado do próprio modelo de negócio combinado com a sensação de propósito desenvolvida entre os colaboradores. 

“A gente quer ter uma empresa em que as pessoas acordem na segunda-feira e queiram trabalhar, então sempre pensamos na cultura. Juntou isso com a nossa insatisfação com o mercado de saúde”, diz Olivio Souza, que é médico. “A pessoa faz medicina para ajudar alguém. O que a indústria da saúde entrega está desalinhado há muitos anos. Então, trabalhamos o propósito ao trazer para a Nova Economia uma nova forma de cuidar dos associados e dos colaboradores.”

A empresa existe há um ano e, além dos três sócios, possui 13 funcionários. Neste mês, chegou à marca de atuação em 16 Estados. 

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