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Empreendedores usam tecnologia para gerar impacto social na pandemia

Laboratório no Rio usa dados de favela para monitorar deficiências; em Salvador, plataforma reúne profissionais de saúde; para especialista, investidores miram empresas que resolvam questões sociais

Por Thiago Conceição
Atualização:

Na favela do Jacarezinho, na zona norte do Rio de Janeiro, a pandemia do coronavírus também gerou danos sociais e econômicos para os moradores. A partir das dores observadas no local, como a insegurança alimentar, o estudante de Direito Thiago Nascimento, de 24 anos, e a engenheira de produção Mariana de Paula, de 27 anos, decidiram investir na produção de dados sobre a comunidade e fundaram o laboratório de pesquisa LabJaca. A exemplo da iniciativa, empreendedores brasileiros têm apostado na tecnologia para enfrentar os desafios socioeconômicos do País e gerar impacto social.

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O LabJaca nasceu de uma campanha de arrecadação no Jacarezinho, a “Jaca contra o Corona”, que atendeu 3 mil famílias em situação de vulnerabilidade social pela pandemia, ao longo de 2020. “Durante a campanha, a gente se deparou com a ausência de dados precisos sobre a comunidade, a exemplo do número total de famílias. Por isso, resolvemos empreender no Lab, que hoje produz dados sociais sobre as favelas do Rio”, diz Nascimento.

Por meio do site do projeto e das redes sociais, materiais multimidiáticos são produzidos com o objetivo de gerar conhecimentos que possam contribuir para a elaboração de políticas públicas locais. “A gente tem uma equipe com 14 colaboradores, gerando dados e informações sobre as comunidades. Estamos em fase inicial, enfrentando o desafio da sustentabilidade financeira. Porém, o LabJaca tem potencial para gerar um grande impacto social”, acrescenta.

Com a pandemia, Arthur Lima (à esq.) e Igor Leo Rocha, fundadores da AfroSaúde, ainda investiram no TeleCorona. Foto: Marianna Calmon

Em Salvador, o objetivo de fazer a diferença social impulsionado pelos desafios trazidos pela pandemia também motivou os empreendedores Arthur Lima, de 29 anos, e Igor Leo Rocha, de 34 anos. Fundadores da AfroSaúde, plataforma que busca dar visibilidade e conectar os profissionais de saúde negros com os pacientes, eles investiram na robustez e na segurança da tecnologia digital para atender a demanda gerada pela pandemia, em especial nas regiões periféricas da cidade.

“A pandemia aumentou o desafio e acelerou alguns processos da AfroSaúde, até porque ocorreu o boom das healthtechs. Em 2020, o negócio recebeu um subsídio internacional. Em março deste ano, um investimento do Google For Startups, através do Black Founders Fund. Essas iniciativas contribuíram para o avanço do protótipo para a versão mais completa do produto: agendamento de consultas, pagamentos online, ferramenta de consultas a distância”, explica Lima.

Ponte entre doadores e quem precisa

Ainda na área da saúde, em São Paulo, os empreendedores da Simbiose Social, plataforma que reúne patrocinadores e proponentes por meio da inteligência de dados, desenvolveram ações voltadas para o enfrentamento da covid-19. A partir das análises dos sócios Raphael Mayer e Mathieu Anduvt, a Simbiose também passou a atuar na mobilização de recursos de grandes empresas para organizações com ações para combater consequências da covid-19.

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"Existem empresas que nem sabem, mas podem doar parte de um determinado imposto para uma organização social. Por outro lado, existem iniciativas que nem sabem que podem captar recursos dessas empresas. Através da inteligência de dados, a plataforma da Simbiose Social tem contribuído para o avanço dos investimentos sociais. Para o futuro, queremos expandir o apoio para além dos incentivos fiscais”, afirma Mayer.

Para Maure Pessanha, diretora-executiva da Artemisia, que atua no fomento de negócios de impacto social no País, a preocupação com o social aumenta a importância dos negócios em situações como a da pandemia. Ela acrescenta que a busca por soluções para os problemas socioeconômicos também atrai os investidores.

"Muitos investidores, em especial os internacionais, estão atrás de empresas que resolvam questões sociais e ambientais. As empresas que olham para a questão social e de governança atraem capital. A Artemisia também atua no fomento dessas empresas. E como várias das iniciativas estão testando seus modelos, a gente montou um fundo de negócios para apoiar os empreendedores que são da periferia", explica Maure.

Equipe do LabJaca, que reúne dados das comunidades periféricas do Rio de Janeiro; Thiago Nascimento (à esq.) e Mariana de Paula (de vestido azul) são os fundadores. Foto: João Baraúna

Além dos investimentos internacionais, a diretora-executiva afirma que o ecossistema de empreendedorismo social tem como tendência o investimento familiar ou pessoal de quem está à frente do projeto. Ao olhar para o cenário do Brasil pós-pandemia, o apoio para os empreendedores de impacto vai trazer resultados positivos, garante Maure. 

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"Com o trabalho de ressignificação do papel do empreendedor e o reforço da importância social das empresas, a gente sente que os investidores estão apostando cada vez mais no empreendedorismo social. No pós-pandemia, quando o País ainda estiver lutando contra os impactos socioeconômicos da covid-19, essas empresas estarão contribuindo em áreas como a saúde, a educação", conclui a diretora-executiva.

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