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Coworkings se preparam para a volta com protocolo sanitário

Estadão PME acompanha reabertura em espaço compartilhado, com horário reduzido e menor fluxo de pessoas; para redes, mesmo com home office, coworking deve ser mantido como espaço de networking

Por Letícia Ginak
Atualização:

A pandemia do novo coronavírus atribuiu ao verbo compartilhar o substantivo ansiedade. Se dividir o mesmo espaço com familiares e amigos é algo que causa temor, imagine com desconhecidos? É com esse medo que o setor de coworkings precisa lidar em sua retomada. Outro desafio é a era do home office. O trabalho remoto passou de algo distante para os funcionários à compulsório. E agora, ao final de três meses de isolamento social na capital paulista, se tornou o modelo ideal para muitos. 

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A liberação e o protocolo sanitário a ser seguido para a volta aos escritórios foi publicado pela Prefeitura de São Paulo no dia 4 de junho. Na segunda-feira, 22, a reportagem colocou o notebook na mochila, a máscara no rosto e foi conferir de perto como é compartilhar um escritório após três meses de home office. Logo na chegada ao Cazamais Coworking, localizado no bairro da Pompeia e que comporta 80 pessoas, Haag Campedelli, administradora do local, explicou que o espaço não estava aberto ao público em geral, mas apenas para empresas e profissionais que já são residentes do coworking.

Com horário reduzido, ela conta que quatro profissionais retomaram o trabalho físico no Cazamais. Após medir a temperatura desta repórter e apontar o álcool em gel, Haag permitiu o uso de uma mesa por pouco mais de uma hora. 

Mesmo com poucas pessoas, as vozes abafadas pelas máscaras e o distanciamento de 1,5 metro, o espaço ao ar livre no segundo andar do Cazamais continua cumprindo o seu papel de reunir pessoas para, atenção, compartilhar. De ideias de trabalho ao bate-papo sobre a vida. Há pouco mais de um ano, o Estadão PME lançou o Guia de Coworkings da cidade de São Paulo, uma plataforma com curadoria que mapeou 247 escritórios compartilhados na capital.

Entre as vantagens apontadas pelos clientes dos espaços - seja um profissional autônomo ou uma empresa inteira com 200 funcionários - o networking estava no topo da lista. A rede de contatos e a troca de ideias (muitas vezes por meio de eventos nos locais) são a base dos coworkings. Sem eles, o que resta é o velho modelo de salas comerciais. 

“O grande ponto do home office é que você não gasta tempo no deslocamento, mas ao mesmo tempo você fica completamente isolado”, diz Rogério Ulliana, administrador do coworking Garage, inaugurado há 10 meses na Vila Madalena com 80 postos de trabalho e 40 posições flexíveis.

Haag concorda. "É muito diferente você mostrar um resultado final e pedir uma avaliação através de uma câmera. Eu não acho que o home office seja uma ameaça aos coworkings, o que eu acho que pode acontecer é em alguns dias da semana as pessoas trabalharem em home office e outros dias em um coworking."

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Rogério Ulliana, Thelma Cardoso (centro) e Haag Campedelli em espaço compartilhado do Cazamais Coworking. Os trêssão administradores de coworkings da zona oeste da capital paulista. Os três se preparam para a retomada do setor no pós-pandemia. Foto: Werther Santana/Estadão

É no que acredita também Roberta Vasconcelos, CEO da BeerOrCoffee, plataforma colaborativa que reúne mais de mil coworkings em 150 cidades brasileiras. “A palavra da vez é flexibilidade. Trabalho remoto é trabalhar de qualquer lugar, é ser híbrido. Hoje na minha casa, amanhã no escritório ou em um coworking. Agora vivemos em um confinamento forçado. Mas sabemos que compartilhar é importante, você faz conexões, se desenvolve como profissional”, diz. 

A startup, em parceria com a Sercon (consultoria em segurança do trabalho), lançou um guia de boas práticas para orientar os coworkings e prevenir a contaminação por coronavírus. Além do guia, eles criaram um selo para os locais que implementaram as ações e foram aprovados por uma inspeção realizada pela Sercon. 

Fernando Bottura, CEO da rede GoWork, fundada em 2013 e que opera 14 prédios em São Paulo com cerca de 7 mil posições e 5.200 clientes, também ressalta que o networking é essencial para o mercado corporativo, principalmente para os empreendedores. “O coworking é o networking físico. O ser humano é biopsicossocial. Se ele encontrar pessoas e trocar ideias, ele vai crescer”, diz. “O que muda é que antes o empreendedor tinha um cotidiano de todo dia ir para o coworking. Agora, ele vai três vezes por semana. Cada vez mais o coworking é menos estação de trabalho e mais espaço de convivência. A salinha comercial foi substituída pelo home office. ” 

Clientes com planos contratdos voltarama usar o Cazamais Coworking, que delimitou os espaços para manter o distanciamento e segue todas as indicações sanitárias em norma publicada pela Prefeitura de São Paulo. Foto: Werther Santana/Estadão

Bottura ainda afirma que, com as pessoas frequentando os coworkings menos dias da semana, será preciso conquistar novos clientes. “Antes era preciso fechar cinco contratos para cinco estações de trabalho, por exemplo. Hoje, você vai precisar de 20 clientes para as mesmas cinco estações de trabalho.” Para a retomada, a rede investiu R$ 1 milhão em medidas sanitárias, como tapetes sanitizantes nas entradas, sistema para a medição de temperatura, sistema UVC (uma iluminação ultravioleta de alta intensidade colocada no filtro dos ar condicionado e que sanitiza o ar), sanitização de três em três horas com protocolo de conferência, entre outras.

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Empreendedores enxergam novas oportunidades 

Para Thelma Cardoso, proprietária do coworking Baobá, também na zona oeste da cidade e com cerca de 50 postos de trabalho e 8 posições flexíveis, o cenário favorável ao home office pode ser uma oportunidade para novos negócios. “Eu acho que podem nascer novos produtos em associação com essas grandes empresas, como os escritórios pulverizados. Em vez de a empresa ter uma grande sede, as equipes podem estar espalhadas em escritórios menores localizados em coworkings. Ou uma vez por semana eles ocupam uma sala onde todo mundo se reúne. Ou ainda uma equipe de 100 pessoas pode rotacionar em uma sala para 20 pessoas durante os dias da semana”, acredita. 

Thelma ainda pontua o momento propício para o desenvolvimento dos coworkings de bairro. “A grande escolha pode ser entre trabalhar de casa ou perto de casa. E aí os coworkings de bairro teriam uma grande chance de crescer. Dá para fazer parcerias com as empresas para pacotes de horas. Não sei quanto cabe a empresa ficar investindo na casa do funcionário para ter uma estação de trabalho”, diz. 

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Os pontos levantados por Thelma têm respaldo no aumento do interesse das empresas pelos coworkings. Os administradores ouvidos contam que houve uma fuga de clientes nos meses de abril e maio, mas o mês de junho dá sinais de retomada. Rogério Ulliana, do Garage, disse que está com cerca de 150 propostas de orçamento na rua. As salas privativas são a preferência no momento. 

Roberta Vasconcelos, da BeerOrCoffee, também relata aumento de 60% na procura por empresas, inclusive com o coworking pass como benefício para os funcionários. Bottura, da GoWork, também relata aumento de 300% no volume de procura pelos espaços, contratando assim 20% a mais de vendedores.

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