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Abertura de MEI tem recorde histórico, mas faturamento cai na pandemia

Alta de microempreendedores individuais, que chega a 12 milhões, é reflexo do desemprego, diz economista da Serasa; crise atinge faturamento de 82% dos MEIs, mostra pesquisa do Sebrae

Por Anna Barbosa
Atualização:

Nos últimos cinco anos, o número de MEIs segue em crescimento e, neste período, a quantidade de microempreendedores individuais praticamente dobrou. De acordo com dados divulgados pelo Indicador de Nascimento de Empresas, da Serasa Experian, o mês de janeiro deste ano registrou a maior série histórica desde 2010 de aberturas de MEIs: foram 312.462 novos empreendedores só em janeiro; hoje já são 12,1 milhões de MEIs no País.

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“Isso não é porque o Brasil virou um celeiro do empreendedorismo ou é um País de oportunidades. Esse crescimento, de forma geral, vem desde esse período porque o País não tem conseguido absorver a massa de pessoas que desejam desenvolver uma atividade produtiva. O Brasil bateu recorde de desemprego, são 14 milhões, e muitas delas acabam indo para o empreendedorismo como alternativa para sobreviver. É o empreendedorismo de necessidade e não de oportunidade”, pontua o economista da Serasa Experian, Luiz Rabi.

Ao analisar o crescimento por regiões, o Nordeste apresenta o maior número de novos microempreendedores (24,5%), seguido por Norte (15,7%), Sul (15,4%), Centro-Oeste (14,0%) e Sudeste (13,2%), segundo dados da série histórica divulgados com exclusividade pelo Estadão

Quando o recorte é feito por setor, o segmento do comércio foi o que mais cresceu no intervalo de um ano, comparando os dados de janeiro de 2020 com os de 2021. Na série histórica, desde 2010, contudo, o setor de serviços foi o principal responsável pelo recorde de abertura de MEIs, com 246.859 novos negócios. 

Queda de faturamento 

A massa de MEIs, porém, caracteriza o grupo mais afetado pela pandemia do coronavírus. Segundo a 10ª edição da pesquisa “O Impacto da Pandemia do Coronavírus nos Pequenos Negócios”, realizada pelo Sebrae em parceria com a Fundação Getúlio Vargas (FGV), a cada 100 microempreendedores individuais (MEI) no Brasil, 82 afirmam ter perda de faturamento.

A sommelière e consultora de bebidas Isadora Fornari, que é MEI e atua no setor de bares e restaurantes, viu o faturamento cair em torno de 30% a 40% com a pandemia. Acha que o tombo não foi pior porque ela tem uma cartela diversa de serviços, desde conceito de marca e construção de cardápio até degustação com o consumidor final.

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A sommelière Isadora Fornari teve de diversificar serviços de consultoria para compensar perdas. Foto: Leo Feltran/Feltran Fotografia

“Todo mundo do meio da restauração acabou se dando mal de uma forma ou de outra”, conta ela. Para recuperar parte do prejuízo, apostou em eventos online, montagem de kits de degustação e experiências para o mercado corporativo, que cresceram no período.

“Mas é claro que o evento presencial, com o serviço, tem um valor agregado muito maior. O virtual não traz a mesma sensação do físico.” Para Isadora, enquanto perdurar a pandemia, a solução é cavar oportunidades em diferentes lugares. “Está sendo importante estar atenta para prospectar e indicar não só a mim como outros profissionais que podem oferecer experiências e conhecimento.”

Além da queda do faturamento, dados da Serasa Experian de março de 2021 mostram que há mais de 5,4 milhões de negócios inadimplentes no País. “Nesse começo de ano, a inadimplência das empresas tem aumentado, juntamente com a queda do faturamento. Houve uma melhora, mas no primeiro trimestre a recuperação deu uma parada: aumento da inflação, diminuição do auxílio, aumento de juros, novos lockdowns são alguns pontos que influenciam”, diz Luiz Rabi.

Além disso, o levantamento do Sebrae com a FGV indica que 60% dos microempreendedores individuais procuraram as instituições bancárias para pedir empréstimos, mas apenas 28% conseguiram.

O economista do Serasa ressalta que a estagnação econômica é um dos principais problemas enfrentados pelos empreendedores, principalmente aqueles que estão entrando no mercado. 

“Eles estão abrindo empresa num momento em que a economia não está crescendo. Está acontecendo um aumento de empresas com estagnação econômica. O mais difícil é encontrar mercado. Quem é meu consumidor em potencial? Será que ele vai ter renda para consumir aquilo que eu estou querendo vender?”, questiona Rabi.

Veja 4 dicas para evitar inadimplência

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Rabi dá quatro dicas para MEIs evitarem a inadimplência, tanto para aqueles que desejam abrir um negócio quanto para os que já estão no mercado: 

  1. Conheça seu negócio. Encontre aquilo com que você tenha alguma afinidade, do ponto de vista de execução

  2. Encontre seu mercado. Antes de abrir um empreendimento, faça uma pesquisa de mercado para ver se há quem compre aquilo que você vai produzir. Por exemplo: não adianta abrir um salão de beleza em um bairro que tem 10 salões de beleza

  3. Separe a empresa da vida pessoal, principalmente a questão financeira. Existe o caixa da empresa, que não pode ser misturado com a sua vida pessoal. Você só pode usar para si depois que sua empresa pagou todas as despesas

  4. Se ficou inadimplente, renegocie. Não empurre com a barriga dívidas que não foram pagas. Isso vira bola de neve

Aumento de confiança

Mesmo com todas as adversidades enfrentadas pelos microempreendedores, ainda há otimismo para os próximos meses no comércio. O Índice de Confiança de Micro e Pequenas Empresas de abril indica uma alta de 6,6 pontos (depois de cinco meses de queda) e alcança 88,1, de acordo com o estudo “Sondagem Econômica MPE”, realizado pelo Sebrae em parceria com a FGV. 

A melhora do índice está relacionada ao Índice de Expectativa de Micro e Pequenas Empresas, que aumentou 10,4 pontos e chegou a 87,1 pontos. O crescimento é influenciado pela expectativa de aumento da demanda prevista para os próximos três meses, que cresceu 11,6 pontos, totalizando 84,8. 

Dentre os setores com melhor desempenho, o comércio se destaca. O Índice de Confiança do Comércio de Micro e Pequenas Empresas cresceu 11,6 pontos no mês de abril, atingindo 79,9 pontos. 

Ao mesmo tempo, o Índice de Expectativas de Micro e Pequenas Empresas apresentou grande aumento ao subir 20,9 pontos, com um total de 83,8 pontos, principalmente por influência do aumento das projeções de vendas para os próximos três meses: o indicador que mede as vendas previstas subiu 22,8 pontos, chegando a 80,5 pontos. 

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