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Opinião|Como gerar inclusão e diversidade reais no mercado de trabalho na era digital

A empresa Carambola, que ajuda a capacitar jovens de baixa renda para trabalhar com tecnologia, é exemplo de como escrever a história com foco no ser humano

Atualização:

O Brasil vive um paradoxo. Estamos entre os 10 maiores mercados de TI do mundo, mas temos um déficit de profissionais qualificados para atender a demanda de 161,5 mil vagas de tecnologia, de acordo com a estimativa feita pelo The Network Skills in Latin America para 2019. Na prática, há vagas disponíveis em uma indústria que exige mão de obra altamente qualificada.

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Quando pensamos em inclusão, vemos que o mercado de tecnologia nacional carece de cursos de programação e tecnologia digital realmente acessíveis, sobretudo para os jovens de baixa renda e grupos vulneráveis que vivem nas periferias das cidades.

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Hoje, os cursos existentes formam em torno de 45 mil profissionais do setor para uma demanda que deve ser 420 mil vagas em 2024, segundo a Associação Brasileira de Startups (ABStartups). Acrescentamos ao desafio a questão da diversidade. As vagas são ocupadas por homens brancos, heterossexuais, dos centros urbanos, pertencentes à classe média alta e formados nas principais universidades do país.

Para romper com esse círculo nada virtuoso - e preparar os profissionais que vão ocupar as melhores vagas tanto nos gigantes do setor quanto nas pequenas e médias empresas de base tecnológica que não param de surgir -, a Carambola oferece a grandes empresas um serviço de consultoria em tecnologia da informação, enquanto capacita jovens para atuar nesses postos de trabalho.

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Juliana Glasser, fundadora da Carambola. Foto: Tiago Queiroz/Estadão-11/9/2018

O negócio de impacto social criado por Juliana Glasser e Renato Prado capacita profissionais para o promissor mercado de tecnologia. Para isso, os empreendedores desenvolvem trilhas de projetos de programação alocadas em uma plataforma adaptativa de ensino. Os estudantes são divididos pelos seus hard skills e soft skills, agrupando em trios para uma capacitação de seis meses.

A empresa contratante tem, ao final do processo de treinamento, uma equipe com nível técnico alinhado às demandas internas; profissionais preparados que integram o time de funcionários da companhia. Nos diferentes pilotos, 180 pessoas foram capacitadas - todas pertencentes a alguma minoria. No processo de seleção, os conhecimentos básicos sobre tecnologia contam, mas o determinante para a inclusão no treinamento é a história de vida do futuro aluno. Sem dúvida, um recrutamento sob um olhar diferente.

A motivação para criar o negócio é genuína e veio da experiência de vida e do olhar atento de Juliana. Passando por dificuldades no início de sua trajetória, ela descobriu, por meio de um amigo, que o salário de programadores era muito melhor do que o seu, e que - nesse novo universo - havia boas oportunidades. Com essa premissa, decidiu estudar programação, mesmo enfrentando inúmeras dificuldades financeiras para concluir os estudos e se dedicar à nova profissão.

Com o tempo, tornou-se programadora em grandes empresas, criou a própria empresa - Infoprice, vendida para a B2W - e sentiu que poderia compartilhar o conhecimento com outros jovens e adultos. Hoje, com o sócio - empreendedor serial que já fundou seis empresas em diferentes setores -, Juliana atende dois públicos: grandes empresas que têm gargalos de profissionais para atingir a evolução tecnológica, e minorias que têm pouca representatividade no mercado nacional de TI.

São pessoas que colocam o ser humano no centro do negócio e ajudam a mudar a regra do jogo

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A análise do impacto social aponta a geração de renda, por parte dos alunos, desde o início da capacitação. Esses jovens de baixa renda são contratados pela Carambola como desenvolvedores mesmo ainda não tendo o conhecimento técnico, ou seja, recebem um apoio financeiro para estudar. Após a capacitação, amplia-se expressivamente o potencial de retorno financeiro e de crescimento de carreira.

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E cabe aqui um adendo bem importante. A Carambola não forma especialistas para ser mão de obra barata; forma profissionais capazes de competir - por vagas e salários - em igualdade de condições e alinhados ao que o mercado exige. Não é um projeto filantrópico. É um negócio de impacto social lucrativo e inovador.

Em outras palavras, é uma equação vantajosa para todos os lados envolvidos. Para o jovem profissional: educação, inclusão, emprego e perspectiva de uma carreira promissora. Para a grande empresa, a facilidade de realizar seus projetos de TI com qualidade e acesso a profissionais treinados para futura contratação. E para a startup: um modelo de negócio rentável e cheio de propósito.

Enquanto o mundo sofre a chamada "fadiga da empatia" (ou fadiga da compaixão) - classificada como um estado de exaustão psicológica como resposta à avalanche de notícias deprimentes que nos anestesiam e entorpecem - no Brasil, uma nova geração de empreendedores de impacto social está escrevendo uma nova história. São pessoas que colocam o ser humano no centro do negócio e ajudam a mudar a regra do jogo neste mundo de transição tecnológica que vivemos.

* Maure Pessanha é coempreendedora e diretora-executiva da Artemisia, organização pioneira no fomento e na disseminação de negócios de impacto social no Brasil.

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Opinião por Maure Pessanha
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