Tubarões da TV ensinam como empreender, inovar e obter investimento

Apresentadores do 'Shark Tank Brasil' dão dicas para empreendedores sobre afinar o discurso, fazer marketing, validar o negócio e saber a hora de mudar os planos

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Por Ludimila Honorato
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Os caminhos do empreendedorismo são árduos. Nada - ou quase nada - fabuloso nasce da noite para o dia, nem toda ideia ótima vai virar um negócio de sucesso. Pensar, testar, ouvir, reformular, testar de novo, colher informações, ampliar e refazer. Quem tem reforçado isso constantemente na tela da TV são os apresentadores e investidores do Shark Tank Brasil, programa que tem dado espaço para empresas de todos os tamanhos buscarem investimento.

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Mesmo que o investimento não venha, os empreendedores que entram no tanque dos tubarões têm a oportunidade de sair com sugestões de melhoria e mesmo visibilidade. Camila Farani (colunista do Estadão), Cris Arcangeli, João Appolinário, José Carlos Semenzato, Robinson Shiba, Caito Maia e, mais recentemente, Carol Paiffer são os empresários que estiveram em algumas ou todas as cinco temporadas do programa. A atração também já contou com participações do porte de Luiza Trajano, presidente do conselho do Magazine Luiza.

O Estadão PME ouviu quatro dos empresários que estão há mais tempo na missão de analisar negócios em poucos minutos e decidir se vale ou não o investimento. De micro a grandes empresas, nenhuma escapa das perguntas incisivas. Aqui, a partir das reflexões dos 'tubarões' sobre cinco temas, o empreendedor iniciante ou que já gastou muita sola de sapato pode ter um melhor direcionamento para o seu negócio. Confira a seguir:

Transformando ideia em negócio

Não é da noite para o dia e não parte apenas da cabeça do empreendedor. Para saber se o que você propõe faz sentido e pode virar um negócio, coloque-o em prática, pois é o cliente que dirá se o seu produto ou serviço tem validade. 

"Se isso não acontece, aquele empreendedor corre o risco de entrar no conceito do 'no market need', ou seja, criar uma solução que pode até ser boa, mas que o mercado não quer ou não precisa", diz Camila Farani. Ela orienta fazer um bom plano de negócios, conversar com as pessoas que estão testando a ideia. "Saia do escritório e vá para a rua."

Camila Farani, da boutique de investimentos G2 Capital, afirma quenão acredita em negócios feitos por'líderes de escritório'; é preciso estar na rua, ouvindo o cliente. Foto: Felipe Paes

José Carlos Semenzato sugere implantar o produto ou o serviço em um bairro, por exemplo. "Com pouco recurso e muito trabalho, dentro de uma amostra de 30 mil habitantes, você consegue validar sua ideia", explica. Após colher os resultados, percebendo que funciona, é "começar a colocar combustível e acelerar a ideia". 

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Para o empresário entender se a proposta pode ser mesmo um bom negócio, João Appolinário diz que é preciso conhecer bem os números do empreendimento, os riscos, se é escalável e se faz sentido para as pessoas. Mas o processo é um tanto longo, porque nem sempre a validação vem de primeira. "É importante que tenha testado, validado, modificado e que tenha conhecimento do que está levando."

Caito Maia reforça todos esses pontos, pois investe naquilo que já está em funcionamento e tem feedback dos clientes. Ele soma a isso um dado subjetivo, mas que faz diferença: o quanto o empreendedor acredita no negócio. Para ele, chama a atenção o brilho nos olhos. "Tem gente que fala que precisa de investidor, mas empreendedorismo é essa loucura, tem de se jogar e fazer."

Investimento é bom, mas tem hora certa

Criador da marca Chilli Beans, Caito conta que a empresa só teve injeção de capital externo após 18 anos de operação. Ele acredita ser um "erro gigantesco" o pensamento de que somente com investimento é que o empreendimento vai decolar. 

"Tem muito negócio que é detonado porque entra investidor antes do tempo, aí perde a essência. É importante, quando se vai buscar um investidor, ter muita clareza do que vai se fazer com aquele dinheiro", diz.

Camila reconhece que o investidor "tem um papel importantíssimo no desenvolvimento não só das empresas, mas também de um país", porque tem capital intelectual além do financeiro. Mas, para que negócios tenham bons resultados, ela acredita que o empreendedor deve ter mentalidade de aprendizado constante e que esteja próximo do mercado.

Caito Maia, criador da Chilli Beans, conta que a empresa só teve injeção de capital externo após 18 anos de operação. Foto: Tiago Queiroz/Estadão

"Eu não acredito em negócios de 'líderes de escritório', aqueles que gerem à distância sem ter o termômetro do cliente." O cliente, aliás, reforça ela, precisa estar no centro da estratégia da empresa.

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Semenzato também diz levar muito em consideração o perfil do empreendedor. "Esse perfil está muito ligado à atitude, o quanto ele é sonhador, tem sagacidade para construir a trajetória dele", diz o dono da holding SMZTO, que detém marcas de franquias como Microlins e Espaçolaser.

Marketing e comunicação não fazem milagre

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Uma ideia aparentemente comum entre novos empreendedores é a de que investir em divulgação está diretamente relacionado a aumentar vendas, faturar mais e alavancar o negócio. "Isso não faz sentido nenhum. Não adianta gastar em marketing se não tiver do outro lado pessoas que estão interessadas no seu produto", diz Appolinário, dono da Polishop, que é um grande anunciante. 

Por isso, afirma ele, é importante dar um passo atrás e colocar em prática o exercício de validar o que você está oferecendo. "Eu tenho muito essa consciência de que, se o produto não vira, posso botar o marketing que for, não vai vender." Semenzato ratifica: "Nem sempre investimento acelerado em marketing é igual ao sucesso de marca ou produto".

Isso não elimina a importância de investir nessa frente, que pode levar à captação de novos clientes e dar tração ao negócio. Para Camila Farani, da boutique de investimentos G2 Capital, o marketing também não se sustenta sem um produto que atenda as necessidades dos clientes. "O maior risco de ter uma estratégia de marketing maior do que os benefícios que um produto entrega é prometer demais e entregar menos."

José Carlos Semenzato reforça a importância de validar um negócio com uma amostra pequena de clientes para saber se ele é viável. Foto: Marketing SMZTO

Ela aconselha criar as diferentes personas do seu negócio, desenvolver o perfil do cliente ideal e também o mínimo negócio viável, ou seja, a primeira versão daquilo que chegará ao mercado. "Só com esses elementos colocados em prática, combinados a uma estratégia de marketing e comunicação, acredito que empresas conseguem ter resultados efetivos."

Não precisa ser único, mas tem de ser inovador

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Pensar em empreender pode dar a sensação de que é preciso criar algo nunca antes visto. Pode acontecer? Sim, mas é difícil e não ocorre sempre. Cada empresário tem uma visão diferente do quão importante é ter um serviço ou produto novo, mas tudo está sob o guarda-chuva da inovação.

"Há 20 anos, eu não inventei nada. A gente revolucionou o ato de vender óculos escuros, que antes era numa loja interna, trancado, atendimento chato. Eu coloquei cara nova no negócio", conta Caito sobre a Chilli Beans.

Ele observa que há muitos setores arcaicos que podem ser rejuvenescidos "e explodir" enquanto tem gente que perde a vida inteira tentando achar algo que ninguém nunca viu e acaba não achando. "Se você tem a galinha dos ovos de ouro, sorte sua. Se não tem, não perca tempo."

Nesse caminho, Camila destaca a importância de desenvolver uma mentalidade inovadora, percebendo que é preciso inovar constantemente. Ela lista quatro etapas para nutrir essa habilidade nas empresas: construir equipes colaborativas, não punir o fracasso, criar uma cultura de inovação - com abertura a ideias e canal de escuta - e focar nas necessidades dos clientes.

JoãoAppolinário, presidente da Polishop, afirma que não adianta investir em marketing se não há pessoas interessadas no produto ou serviço. Foto: Rafael Arbex/Estadão

Semenzato, com o objetivo de desmistificar a ideia do jovem empreendedor de que empreender é ter algo inovador e único, sugere começar com franquias. "As pessoas esquecem que podem empreender criando uma rede com dez, 20 franquias multissetoriais, apostar em três, quatro setores, e se desenvolver como empreendedor." Além disso, nessa frente, o franqueado já conta com a estrutura consolidada da marca, o que para ele é 50% do caminho percorrido.

A pessoa é tão importante quanto o empreendimento

Um negócio é feito por pessoas e a atitude do empreendedor e de quem o cerca pode ser determinante para o sucesso da empresa. Appolinário defende que se envolver, focar e acreditar naquilo que se propõe a fazer é fundamental. 

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"O empreendedor precisa estar 100% disponível para o negócio acontecer. Dedicação faz ele dar certo, ter liderança. E não existe empreendedor que terá sucesso se não for líder no que está fazendo", afirma o dono da Polishop.

Além do conhecimento técnico, Camila Farani está atenta às soft skills, habilidades emocionais e comportamentais que são tão valorizadas atualmente. Para ela, o empreendedor tem de ser um bom comunicador, bom recrutador e bom vendedor. "Existem muitas outras características, como a inteligência emocional e a boa gestão, mas essas três questões são fundamentais e eu valorizo muito quando vou investir."

Semenzato presta atenção na capacidade que a pessoa tem de ser humilde para ouvir. Outros aspectos que ele observa são: ter sonho grande, mostrar sagacidade, estar inconformado com a situação atual e ter capacidade organizacional de execução. Por fim, ele destaca a resiliência.

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