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Sócio norte-americano dá fôlego à chapelaria de Indiana Jones

A fabricante de chapéus Cury tem 90 anos de vida em um mercado bastante instável

Por Naiana Oscar e o estado de s.paulo
Atualização:

Uma empresa de 90 anos é como uma pessoa que chega a essa idade: "Já viu e passou por tudo nessa vida", costuma dizer o empresário paulista Paulo Zákia. A fabricante de chapéus Cury, da qual ele é sócio, começou sua história numa época em que as ruas viviam cheias de gente com chapéus na cabeça; passou pelo período em que o acessório foi quase banido do guarda-roupa dos brasileiros e agora vê as peças ressurgirem, aos poucos, com certo apelo de moda.

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Tantas idas e vindas exigiram versatilidade da empresa, que tem sede em Valinhos e fábrica em Campinas, ambas no interior de São Paulo. "Fazemos um exercício constante de reinvenção", diz o empresário. A virada, desta vez, veio com uma parceria internacional. No fim de junho, a fabricante brasileira anunciou uma joint venture com a norte-americana Dorfman Pacific, líder mundial do setor.

Juntas, elas têm planos de, em um ano e meio, iniciar uma operação de varejo, com a inauguração de lojas próprias em shoppings do País - uma novidade para a Cury, que até então só trabalhava com distribuidores.

"Essa união é sem dúvida o passo mais importante que já demos em tanto tempo de história", diz o empresário.

Para o consultor de empresas, Adir Ribeiro, a joint venture aparece como uma boa oportunidade de a Cury se fortalecer no mercado externo e ganhar agilidade para também crescer no Brasil. "Um negócio baseado em chapéus nunca será gigante, mas pode se consolidar apoiado no mercado de moda."

A nova empresa, batizada de Cury Dorfman Pacific (CDP) Company, nasce com um portfólio de 36 mil modelos - boa parte herança da empresa norte-americana, fundada em Oakland, na Califórnia, e com faturamento anual da ordem de US$ 120 milhões.

Com números mais modestos, a Cury entra na sociedade, em que cada um tem 50% da nova empresa, com seus tradicionais chapéus de pelo, feltro e de palha, produzidos no Brasil, ainda com alguns processos artesanais. A quase centenária marca de Campinas fabrica em média 900 mil chapéus por ano, em 1,7 mil modelos diferentes.

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No ano passado, as vendas atingiram R$ 38 milhões, mas o resultado já foi melhor. Em tempos de câmbio favorável e mercado externo aquecido, a empresa chegou à marca de 1,5 milhão de chapéus produzidos por ano. Em 2008, a crise mundial derrubou mais uma vez os resultados da Cury: as vendas externas caíram de 45% para 25%. "É difícil produzir no Brasil nessa situação, mas estamos resistindo à China o quanto podemos."

A possibilidade de se tornar sócia da empresa americana surgiu justamente quando a Cury se via às voltas com mais uma crise. "Eles queriam um parceiro no Brasil, mercado emergente, em crescimento", lembra Zákia, membro da terceira geração da empresa. "E nós precisávamos sobreviver."

Mudar de estratégia no meio do caminho não é novidade para a empresa brasileira. Quando os chapéus sociais passaram a ter espaço apenas entre os mais idosos, a Cury investiu pesado na linha country, criando até uma marca de roupas.

Mais tarde, encontrou na Bolívia um mercado certeiro, onde boa parte da população, inclusive as mulheres, vive com chapéu na cabeça.

Mas foi no cinema que, sem querer, a Cury viveu um de seus melhores momentos. Em 1981, a empresa fabricou pela primeira vez o modelo do chapéu usado pelo ator Harrison Ford, nos filmes de Indiana Jones.

"Uma fabricante parceira nossa nos Estados Unidos pediu modelos exclusivos para um filme - mas não sabíamos qual", lembra o empresário. "Só soube no cinema quando vi o chapéu na cabeça do Indiana Jones."

 

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