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Rebaixamento e câmbio indicam cautela máxima

Fatos recentes mostram que o empresário precisa adotar uma estratégia simples: saber sobreviver durante a tempestade

Por Renato Jakitas
Atualização:

Foi um dos piores fatos econômicos da última década. Mas a realidade é que o rebaixamento da nota de crédito do Brasil pela agência de análise de riscos Standard & Poor’s, no dia 9 setembro, deve ter o seu impacto relativizado entre os micro, pequeno e médios empresários locais.

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Isso não quer dizer que a perda do patamar de bom pagador, que vigorava desde 2008, para o agora nível especulativo deixe de ter suas implicações no dia a dia dos empreendedores. Mas a reputação de crédito do País no mercado internacional atinge diretamente e principalmente as empresas que emitem dívidas no exterior como forma de financiar projetos de expansão – prática por aqui acessível apenas às companhias de alto faturamento, que operam sob estrutura de governança corporativa e, geralmente, de capital aberto.

Os efeitos indiretos da perda de grau de investimentos, contudo, contaminam o mercado como um todo, operando como mais um agente de pressão ao já deteriorado ambiente de negócios interno. O grau especulativo encarece as já pouco acessíveis linhas de capital de giro oferecidas pelas instituições financeiras e, tocando em um fenômeno particularmente visível nos últimos dias, turbina um ciclo de valorização do dólar em comparação ao real.

“O câmbio, nesse momento, é o maior problema do empresário brasileiro”, sacramenta José Luís Oreiro, professor do Instituto de Economia da UFRJ. “O rebaixamento já era, de certa forma, esperado pelo mercado. Mas pegou todo mundo de surpresa pela rapidez do anúncio.”

O ponto de vista de Oreiro é compartilhado pelo também economista Alexandre Cabral, da NeoValue Investimentos, que acrescenta mais um ingrediente à questão do câmbio: sua imprevisibilidade. “O dólar está à deriva”, destaca ele, que diz ser impossível projetar o preço da moeda americana no médio ou mesmo no curto prazo.

“É uma loteria”, afirma ele, enumerando três fontes independentes de pressão que no momento podem interferir no desempenho do câmbio: o desenrolar da atual crise política, a possibilidade de um novo rebaixamento do Brasil, dessa vez pela agência Fitch, e a expectativa em torno de um aumento dos juros promovido pelo FED, o banco central dos Estados Unidos. “O FED deu a entender que vai subir sua taxa de juros e eu acho que isso já está começando a ser precificado no dólar por aqui. É claro que no dia da alta vai ser um ‘Bumba Meu Boi’ do inferno”, pontua Cabral.

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Na prática. A partir desse cenário, Mauro Calil, especialista em investimentos do banco Ourinvest, chama a atenção para o desafio em torno das empresas que têm receitas indexadas em reais e parte das despesas em dólares, como importadoras ou segmentos industriais dependentes de insumos importados. “Comprar em dólar é um problema”, diz ele, colocando na berlinda negócios como o administrado pelo paulista Fabiano Wohlers, que há seis anos abandonou o mercado financeiro para tocar em São Paulo uma importadora e revenda de cervejas artesanais, a Mr. Beer.

Metade do portfólio do comércio, que espera alcançar 85 franquias até o fim do ano, é adquirido no exterior e tem preço em dólar, que iniciou o ano cotado a R$ 2,6914 e alcançou na semana passada, 23, R$ 4,1350, quando se chegou ao maior valor em termos nominais (sem descontar a inflação) desde a criação do Plano Real, em 1994.

“Isso gerou para a gente uma inflação por volta de 45%”, contabiliza Wohlers, que tenta absorver parte do impacto reduzindo a margem de lucro no ponto de venda. “No nosso negócio não adianta comprar dólar futuro para se proteger. A operação é muito cara. Vale mais a pena negociar com os fornecedores”, afirma.

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Em Osasco, Marcos Bassanezi, dono da Fábrica de Puffs, que produz e vende bancos, pufes e estofados, resolveu radicalizar. Para reduzir as despesas de manutenção de suas 30 máquinas, com componentes importados, e os custos com pessoal, ele paralisou metade da fábrica, demitiu cinco dos doze funcionários e reestruturou toda a operação desde o início do ano. “As vendas caíram e os custos, nas últimas semanas, aumentaram. Precisei agir rapidamente”, diz.

Dinheiro emprestado No rastro do corte da nota soberana do Brasil, a agência de classificação de risco Standard & Poor’s fez uma série de rebaixamentos nas notas de crédito dos maiores bancos brasileiros.

Efeitos práticos Um dos efeitos esperados por conta disso é o aumento na captação de recursos para crédito, o que certamente impacta em juros maiores para linhas de capital de giro. Empresários relatam juros mensais acima de 1,5% ao mês. Há um ano era possível captar a 1,10% ou até 1,05%.

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Impacto externo O dólar iniciou o ano cotado a R$ 2,69 e, na semana passada alcançou R$ 4,13. O que está por trás dessa forte desvalorização em nove meses é a deterioração fiscal do País, aliada ao clima de instabilidade econômica. Nos últimos dias, dois novos componentes estimularam essa valorização: a expectativa de um novo rebaixamento do Brasil e a alta de juros nos EUA.

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