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Projeto Girls on the Road quer desbravar o empreendedorismo feminino no mundo

Dupla de amigas brasileiras corre o mundo há seis meses em busca de histórias inspiradoras; aventura deve virar documentário

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Por Vivian Codogno
Atualização:

Às 07h25 da manhã, do Aeroporto de Christchurch, na Nova Zelândia, as empreendedoras (e agora documentaristas) Taciana Mello e Fernanda Moura suprimem o cansaço para conversar com a reportagem do Estadão PME sobre a empreitada que realizam há cerca de seis meses: elas estão correndo o mundo em busca de histórias inspiradoras de mulheres que decidiram abrir o próprio negócio.

A principal motivação das amigas, que vêm de grandes companhias no Brasil até se mudarem para a Califórnia, nos Estados Unidos, foi a resistência a modelos de negócios propostos por mulheres em locais como o próprio Vale do Silício, celeiro fértil de novas empresas em território norte-americano. A pouca disposição com empreendedoras foi sentida na pele por Taciana e Fernanda, que decidiram sair em busca de histórias parecidas.

Fernanda e Ticiana já entrevistaram 150 empreendedoras Foto: Divulgação

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O roteiro da viagem foi feito com base no ranking Female Entrepreneurship Index (FEI), do Global Entrepreneurship and Development Institute (GEDI), que mostra os locais mais favoráveis e os menos para o empreendedorismo feminino. Dos 25 países que serão visitados, a dupla já passou por nove. Entre as cidades estão São Francisco Bay Area, Chicago, Boston e Nova York, nos Estados Unidos, Toronto, no Canadá, Cidade do México, no México, Tóquio, no Japão, Seul, na Coreia do Sul, Beijing e Shanghai, na China, e Melbourne, na Austrália.

Até o momento foram realizadas 150 entrevistas com empreendedoras e o resultado, que será formatado até o fim deste ano em um documentário, tem sido o mais diverso possível. O tipo de negócios abertos e o perfil das mulheres varia conforme a posição geográfica, mas há em comum na maioria esmagadora dos casos a percepção de que o machismo ainda é o principal entrave ao desenvolvimento de empresas lideradas por mulheres.

"O empreendedorismo feminino não tem destaque porque ninguém conta essas histórias. Há mulheres fantásticas desempenhando papéis transformadores, mas temos ainda a régua masculina como referência", explica Taciana.

Fernanda concorda. "Chega um momento que a carreira da mulher trava por causa do machismo. Investidores a tratam de forma infantilizada. Conhecemos uma empreendedora australiana que ouviu de uma investidora que não injeta capital em startups de mulheres porque elas têm um papel dentro de casa", lamenta. "Elas sentem que têm de dar muito mais justificativa porque quiseram ser empreendedoras do que os homens. Na outra ponta, muitas escolhem o empreendedorismo por causa do machismo no ambiente de trabalho", pontua Fernanda.

Relatos. A jornada da dupla, que deve terminar na África até julho deste ano, foi até agora marcada por histórias que emocionaram Ticiana e Fernanda. Conforme se afastam de grandes centros de inovação, como Canadá e Estados Unidos, os relatos se tornam o mais variados possíveis.A própria motivação para empreender, que se transforma de uma oportunidade de inovação em países considerados ricos para uma questão de sobrevivência em nações como o México, se transforma.

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Em Seul, por exemplo, elas se depararam com o caso de uma empresária cuja mãe rezava todos os anos para que o negócio não desse certo, assim ela poderia se dedicar a formatar uma família com filhos. Na Austrália, conversaram com uma advogada que decidiu abrir o próprio negócio quando foi solicitado a ela que fizesse a ata de uma reunião, função que seria de um assistente.

"S gente sofre, se emociona. Isso é muito forte e poderoso", reflete Fernanda. "Conhecemos uma empreendedora do México que levou sua primeira startup para a Hungria. Lá, foi comunicada de que não era mais necessária para a empresa que ela própria fundou", conta. 

A jornada deve chegar ao Brasil em fevereiro, de onde segue para outros países da America Latina. Para transformar o material em um documentário, a dupla busca patrocínio e apoio de empresas que se interessem pela história. É possível saber mais informações no site do projeto Girls on the Road.