Produtores de cacau vão a Paris em disputa por prêmio

Entre os dois finalistas brasileiros no prêmio do Salão do Chocolate de Paris, estão o baiano João Tavares, que já ganhou duas vezes, e Elcy Gutzeit, de fazenda no Pará

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Por Ana Paula Boni
4 min de leitura

Há quase dez anos, o baiano João Tavares foi o primeiro produtor de cacau brasileiro a receber um prêmio pela excelência de suas amêndoas de alta qualidade no Salão de Chocolate de Paris. No próximo dia 30, João estará novamente na capital francesa para tentar receber o seu terceiro prêmio International Cocoa Awards.

Para estar entre os finalistas, João e outros muitos produtores de todo o País passaram por algumas etapas de seleção. Primeiro, eles enviaram amostras para o prêmio nacional conduzido pela Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira (Ceplac) e pelo Centro de Inovação do Cacau (CIC), que selecionou seis vencedores após uma série de quesitos analisados.

Representando os produtores no Brasil, Ceplac e CIC enviaram as amostras para Paris. Após uma análise prévia, o concurso reduziu os seis brasileiros a dois: João Tavares, da Bahia, e a estreante Elcy Gutzeit, do Pará, finalistas ao lado de outros 48 competidores de todo o mundo. O prêmio, criado há dez anos, será entregue durante a 25ª edição do Salon du Chocolat, que vai de 30 de outubro a 3 de novembro em Paris.

São produtores de cacau fino (de alta qualidade) como João e Elcy que fomentam o nascimento de várias pequenas marcas de chocolate "bean to bar", negócio onde está em jogo a qualidade da matéria-prima.

Dono da fazenda Leolinda, no sul da Bahia, João frequenta o Salão desde 2007 e já ganhou prêmio em 2010 e 2011. É conhecido pela excelência de suas amêndoas, sendo pioneiro na melhoria da fermentação. Hoje, exporta de 30% a 35% de suas 100 toneladas anuais de cacau fino (não o commodity, que vai para a grande indústria). Entre a ilustre clientela, está o chef multiestrelado francês Alain Ducasse.

O produtor baiano João Tavares e seu braço-direito, Paulo Cezar: duas vezes premiado em Paris Foto: Ana Paula Boni/Estadão

No caso da Gutzeit, a família mantém fazenda produtiva há 40 anos no Pará, mas só em 2017 começou a focar no cacau fino e a melhorar a fermentação das amêndoas. Hoje, da produção anual de cerca de 300 toneladas de cacau, de 20% a 30% é cacau fino.

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A produtora Elcy estará em Paris ao lado de sua irmã Eunice, as duas representando o pai, Ervino, que por conta da idade avançada não poderá viajar. Para Eunice, estar no Salão joga luz sobre a produção de todo o Brasil. “Esta visibilidade não é somente importante para nossa fazenda, mas também para todo o cacau nacional, principalmente o cacau da região da Transamazônica, cultura tão importante para sustentabilidade local”, aponta.

Além dos dois finalistas, outros brasileiros irão representar o País como parte da comitiva. São cerca de 40 produtores de cacau e chocolate que integram a Missão Empresarial Brasileira, uma iniciativa da Apex-Brasil (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e de Investimentos) com a CNI (Confederação Nacional da Indústria).

Entre outros produtores que irão a Paris estão os baianos Diego Badaró (da marca de chocolates Amma), Pedro Magalhães (da marca VAR) e Cláudia Sá. À frente da Agrícola Cantagalo, da família Sá, Cláudia também tem se dedicado a melhorar a qualidade do cacau.

Assim, ela aumenta o porcentual de cacau fino e reduz o commodity (também chamado de bulk), que é pelo menos um terço mais barato que o fino. Hoje, ela produz cerca de 900 toneladas de cacau por ano, sendo em torno de 8% de cacau fino.

A produtora Cláudia Sá, na Agrícola Cantagalo, Bahia; melhoria na sua produção faz crescer a proporção do cacau fino diante do commodity. Foto: Ana Paula Boni/Estadão

Sobre a expectativa criada em torno dos negócios no Salão do Chocolate de Paris, Cláudia fala sobre ter paciência. “Vou desde 2009, tenho alguns clientes, mas é um trabalho demorado, o resultado vem anos depois. Tem que ter muita paciência. O comprador de cacau não é só um comprador. Quer confiança, quer ter certeza de que você vai entregar o que prometeu.”

Desta vez, ela vai participar de rodadas de negócios promovidas por órgãos que são parte da comitiva brasileira, como a Apex. Pela primeira vez, ela vai a convite do consórcio Cacau Bahia Especial, idealizado em 2018 e que tem 13 produtores. Entre eles estão produtores bem pequenos, como Lucas Arléo.

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“O consórcio foi ideia de Guilherme Leal (um dos fundadores da Natura), por meio do Instituto Arapyaú. É para a gente padronizar a qualidade, termos força para negociar, atender grandes clientes e para vender melhor a região (sul da Bahia) em termos de sustentabilidade social e ambiental.”

Cláudia não participou da primeira edição do concurso nacional de amêndoas promovido por Ceplac e CIC neste ano, mas já se prepara para enviar as amostras para a segunda edição (as inscrições vão até janeiro de 2020).

Amêndoa de cacau ainda sem fermentação, na fazenda de João Tavares Foto: Ana Paula Boni/Estadão
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