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Produtor rural usa web para chegar a centros urbanos

Adoção da internet, para vender sem intermediários e alcançar mais rápido o consumidor, abre novas oportunidades ao setor

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Por Redação
Atualização:
Conexão. Alessandra Sodré entrega suas laranjas diretamente para compradores; cafeicultores e donos de 'frutas imperfeitas' também aderiram Foto: Rafael Arbex/Estadão

Produtores rurais apostam na internet para elevar seus ganhos e entregar diretamente aos consumidores o que vem de suas terras, seja por meio de assinaturas ou de vendas avulsas. Passam, assim, a engrossar os negócios no comércio online e a reforçar as estatísticas do setor, que em 2016 cresceu 11% em relação ao ano anterior, com faturamento de R$ 53 bilhões. Os números são da Associação Brasileira de Comércio Eletrônico (ABComm).

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Uma das iniciativas do gênero partiu da advogada Alessandra Sodré, cuja família tem 150 mil pés de laranja em Sorocaba (SP). Ela teve a ideia de vender pela internet em 2012. Ao caminhar pelo laranjal viu muitas frutas de boa qualidade no chão – não seriam aproveitadas pela indústria, que estava com excedente. Anunciou a venda no Facebook e, em poucos dias, recebeu vários pedidos. A partir de então, a ideia cresceu, ganhou um site e deu tão certo que Alessandra abandonou a advocacia. Hoje, se dedica somente ao Laranjas Online, que entrega 170 toneladas da fruta por mês para 370 assinantes e 70 estabelecimentos como restaurantes, padarias e clubes em São Paulo e região metropolitana. Na comparação com um ano atrás, o número de laranjas comercializadas subiu 115%. Ela entrega diariamente pacotes de 3, 5, 10 e 20 quilos da fruta – com preços R$ 7,50 a  R$ 30 – os custos da entrega, feito com cinco veículos próprios, já estão embutidos no valor. 

“Uma laranja normal é colhida, colocada em um caminhão, encaminhada para a indústria, lavada, encerada, encaixotada, para depois ser distribuída, o que leva no mínimo dez dias”, diz. Na venda online, a fruta sai do pomar e em até três dias chega ao consumidor.  Para Alessandra, outras vantagens são a proximidade com o cliente, permitindo que ele tenha mais informações dos produtos que consome. “Acredito que seja uma tendência crescente, já que é financeiramente melhor para as duas partes, e o consumidor recebe produtos de melhor qualidade.” O casal Roberto Matsuda e Nathalia Inada viu uma oportunidade de negócio na criação de um site para ajudar pequenos produtores rurais a acessar novos mercados. Antes de criar a empresa, visitaram vários produtores e descobriram que uma das maiores dificuldades no campo é vender o produto, principalmente os que fogem dos padrões estéticos – tortos, com manchas etc. Criaram, então, o Fruta Imperfeita, que há dois anos compra frutas e legumes “feios” de cerca de 20 produtores do entorno de São Paulo e os entrega em cestas para consumidores da capital. “Muitos produtos são perdidos porque não atendem a padrões de beleza, apesar da ótima qualidade”, diz Matsuda. “Queremos combater esses padrões, porque feios têm a mesma qualidade dos bonitos.” Hoje, eles têm 800 clientes, frente a 300 em setembro do ano passado. O objetivo é triplicar o número até o meio de 2018. As cestas têm três, cinco, sete e dez quilos – com preços de R$ 15 a R$ 38, com frete incluso. A menor cesta tem geralmente oito variedades de alimentos e a maior, até doze – os produtos mudam conforme a sazonalidade e as dificuldades de venda. “O cliente escolhe apenas quais produtos ele não quer receber.” Por ano, cerca de 1,3 bilhão de toneladas de alimentos são desperdiçadas no planeta, enquanto 800 milhões de pessoas passam fome, segundo estudo de 2013 da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO/ONU). Café. O Brasil é o segundo maior consumidor mundial de café, superado apenas pelos EUA. Para fomentar ainda mais esse mercado e ter uma vantagem frente a seus concorrentes na venda de produtos para o campo, a multinacional alemã Bayer lançou neste mês o Made in Farm, site em que cafeicultores podem comercializar seu café diretamente para bares, restaurantes e cafeterias. Os produtores se cadastram gratuitamente, definem o preço, a quantidade disponível e quais são as características dos grãos. Os compradores também se cadastram e analisam o perfil dos produtores para escolher o café. “É um novo canal de venda direta que vai ajudar toda a cadeia produtiva, reduzindo as dificuldades na hora da comercialização”, afirma Cristiane Lourenço, gerente de desenvolvimento sustentável e parcerias da Bayer. A cafeicultora Maria Selma Magalhães, de Machado (MG), diz que os produtores precisam se diferenciar cada vez mais para ter sucesso. Apesar de plantar 170 hectares de café e ter certificação de produção sustentável, diz que uma de suas grandes dificuldades é acessar o mercado. “Queríamos nos mostrar, mas é muito difícil sair de lá do interior e apresentar nossos produtos. É muito difícil.” Ela diz que uma plataforma assim dá mais visibilidade e novas oportunidades de negócio. “Podemos contar nossa história e mostrar nossos diferenciais, é tudo o que queríamos”. Dono da cafeteria paulistana Franca Pitanga, Missaki Idehara é um dos clientes do Made in Farm. Ele diz que o cuidado dos pequenos produtores com o alimento é maior. “Posso contar a história da comida que alguém vai consumir, explicar as características e falar de detalhes da propriedade e do alimento.”

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