Porto Digital está pronto para ser mais ‘louco’

Polo tecnológico do Recife prepara passo ousado: deixar que o empreendedor pense as cidades do futuro

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Francisco Sabóya, presidente do Porto Digital de Recife em Pernambuco. FOTO: MÁRCIO FERNANDES/ESTADÃO Foto:

O Porto Digital, instalado no Recife desde 2000, foi o primeiro centro de desenvolvimento tecnológico do País voltado ao empreendedorismo. Desde então, surgiram – ou tentaram-se criar – outros tantos polos. Pioneiro, o Porto vivia certo desconforto por justamente não conseguir mais inovar. Foi a partir dessa constatação que o local passou a fomentar soluções alinhadas com o conceito de economia criativa, processo que agora desemboca no ‘Louco’ – sigla que significa Laboratório de Objetos Urbanos Conectados. Para falar sobre inovação, empreendedorismo e do futuro do Porto Digital, o Estadão PME conversou com Francisco Saboya, presidente do centro de inovação. Confira a seguir os principais trechos da entrevista.

Queria perguntar justamente sobre essa evolução do Porto Digital. O que é que se modificou da proposta original e para onde vocês o estão encaminhando? É como se a gente estivesse falando do Porto Digital em três tempos. O que foi o conceito original, como ele evoluiu, e o que a gente imagina daqui pra frente. Ele foi criado no ano 2000 e respondeu a um momento muito delicado da nossa história porque a economia de Pernambuco era uma economia muito tradicional, baseada em uma indústria secular de base sucroalcooleira. Criou-se, nesse contexto, o Porto Digital com a ideia de se criar uma janela através da qual a gente pudesse enxergar esse mundo novo, um mundo das inovações tecnológicas suportado pelos softwares, pela internet. Existiam, de fato, três empresas de informática, com 46 pessoas trabalhando. Hoje são cerca de 260 empresas e organizações dedicadas ao desenvolvimento de softwares e economia criativa e tem cerca de 8 mil pessoas trabalhando. Em 2010, a gente começa a sentir o peso da repetição e isso dá um certo desconforto, a gente se apresentava como um ambiente de fomento à inovação, mas estava fazendo a mesma coisa. Começou a dar uma inquietação muito grande. Nesse momento, a economia criativa surgiu como sendo uma alternativa de geração de riqueza e de emprego para certas regiões que têm um potencial criativo, que têm um talento especial, e nós pernambucanos achamos que temos isso. E aí, o que nós fizemos foi abrir uma nova frente no Porto Digital. Ele deixa de ser um parque tecnológico exclusivamente voltado para tecnologia da informação e passa a trabalhar a economia criativa em cinco linguagens (games, cine, vídeo, animação, design, fotografia e música). Hoje a gente tem essas duas frentes em processo de interação cada vez maior resultando, agora, no momento em que a gente começa a pensar nos próximos dez anos do Porto, que é quando vamos endereçar, ao componente cidades, o desenvolvimento de soluções criativas e inovadoras, com potencial de geração de negócios, voltados para a melhoria da qualidade de vida nas cidades. 

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Você mencionou, antes da gente começar a gravar, aliás, o ‘Louco’. Explica o que ele é? O ‘Louco’ é um nome sugestivo e quer dizer Laboratório de Objetos Urbanos Conectados. É um grande maker space, um espaço de múltiplas interações de trabalho colaborativo e criativo, uma espécie de engenho de aceleração de inovações e negócios para enfrentamento dos problemas das cidades. E por que a gente está focando as cidades? A gente tem hoje lá no Porto Digital uma convicção muito clara de que nós somos uma espécie de laboratório de experimentação urbana em escala real. Isso nos dá, digamos assim, um diferencial competitivo.

E como vai funcionar? Ele tem tecnologias muito avançadas. De um lado, a gente trabalha com um arsenal de ferramentas no campo da impressão 3D, da manufatura aditiva, para que você possa fazer prototipagem rápida. Isso é mágico no contexto da inovação porque uma das máximas das startups é: ‘bom, a gente vai errar, isso é uma certeza, então, já que vamos errar, que erremos rápido e barato’. <MC> Essa crise atual prejudica esse movimento em busca de um empreendedorismo de inovação? <MC>Prejudica e muito porque a inovação é um compromisso com o futuro, você não inova olhando para o retrovisor, mas fazendo apostas. E você trocar o presente certo pelo futuro não sabido requer uma serie de habilidades, desde habilidades pessoais e vocacionais até coisas concretas como as tendências macroeconômicas.

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