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Por que o fundador da Victoria’s Secret se suicidou? (Sobre mercenários e missionários)

Por MARCELO NAKAGAWA É PROFESSOR DO INSPER
Atualização:

 Ele parou seu carro na ponte. Deixou um bilhete pedindo desculpas para seus dois filhos adolescentes. Subiu na grade e se jogou. Terminava ali, em 1993, a vida do fundador da Victoria’s Secret. ::: Siga o Estadão PME nas redes sociais ::::: Twitter :::: Facebook :::: Google + ::

Dezesseis anos antes, Roy Raymond pensou em comprar uma lingerie para a sua esposa, mas se sentiu muito envergonhado em entrar uma loja “só para mulheres”. Além disso, o que era vendido eram “roupas debaixo” (underwear), muito diferente daquilo que pairava no imaginário masculino. 

 

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A empresa fez sucesso desde o primeiro dia. Terminou o primeiro ano com vendas de US$ 500 mil. Cinco anos depois, as vendas atingiam US$ 4 milhões e o número de loja havia quintuplicado. Mas o apogeu do sucesso de Roy foi atingido quando aceitou vender sua empresa por cerca de US$ 1 milhão. Era jovem, milionário, cercado de mulheres bonitas e invejado pelos seus colegas.

Com o dinheiro comprou uma mansão, colocou os filhos na escola mais cara de San Francisco e pouco tempo divorciou da mulher. Também fundou sua segunda empresa, a My Child’s Destiny, pensando no enorme potencial de lucros do mercado de produtos para crianças. Mas quatro anos depois, a empresa quebrou deixando Roy com muitas dívidas. Mesmo assim, apostou em outras empresas tentando recuperar o dinheiro que havia ganho com a venda da Victoria’s Secret. Em 1993, Roy estava totalmente falido, sem dinheiro para pagar a escola dos filhos e ainda havia torrado a economia da sua mãe. E o que o tornou ainda mais depressivo foi fato de que a Victoria’s Secret havia ultrapassado as 600 lojas e o faturamento chegava a US$ 1,5 bilhão. 

É impossível dizer se a decisão de Roy teria sido outra se ele houvesse conhecido John Doerr, que morava a poucos quilômetros da primeira loja da Victoria’s Secrets no shopping center da cidade de Palo Alto. Doerr tinha feito uma brilhante carreira na área de vendas da Intel e em 1980 tornou-se diretor da Kleiner, Perkins, uma das mais vitoriosas firmas de capital de risco do mundo com investimentos em empresas como Google, Compaq, Netscape, Symantec, Sun Microsystems, Amazon, Macromedia, Twitter, entre outras empresas. 

Ao longo dos anos, Doerr desenvolveu uma lógica para identificar empreendedores que lideram negócios com alto potencial de crescimento. Para ele, quando mais o empreendedor busca o dinheiro, mais se afasta dele. Empreendedores mercenários podem até ter sucesso no curto prazo, mas terão problemas no futuro, mesmo que sejam crises de consciência. 

Para Doerr, se for investir em empresas, escolha as lideradas por empreendedores missionários, que querem levar sua paixão para o maior número de pessoas. 

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Você é um empreendedor mercenário ou missionário?

Mercenário

Missionário

Você é movido pela

Direção, foco

Paixão

Você é mais

Oportunístico

Estratégico

É mais voltado para

Discurso (pitch), negócio

A grande ideia, parcerias

Acredita que um negócio é

Sprint, corrida de curta distância

Maratona, corrida longa

Você é mais

Obcecado pela competição

Obcecado pelo cliente

As pessoas acreditam que você é mais

Aristocrático, quer mandar

Meritocrático, melhor ideia ganha

Tem mais interesse

Demonstrativos financeiros

Missão, Valores

As pessoas acham que você é mais um

Chefe de alcateia de lobos

Mentor, instrutor de times

Seu objetivo principal com o negócio é a

Aposentadoria

Contribuição para um mundo melhor

O que você quer com o seu negócio?

Fazer dinheiro

Ter significado

Para você é importante ter

Sucesso

Significado

Fonte: DOERR, John. Mercenaries and Missionaries (2005). Disponível em http://ecorner.stanford.edu/authorMaterialInfo.html?mid=1274

A reflexão de John Doerr é importante para que você não se jogue da ponte diante das dificuldades da sua empresa. 

O empreendedor mercenário leva uma vida pequena que dá pena. Para o missionário, tudo vale a pena se a vida não é pequena. 

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