30 de julho de 2014 | 07h00
Melhorar a mobilidade é hoje o grande desafio das grandes cidades. Recordes de congestionamento, excessivo tempo gasto no deslocamento até o trabalho e lotação dos meios de transporte público são problemas recorrentes. E onde existe deficiência, há também oportunidades para o empreendedor disposto a criar soluções.
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Mas a situação não é tão simples assim. Na avaliação do professor de empreendedorismo do Insper, Marcelo Nakagawa, grande parte das soluções relacionadas à mobilidade aparece atualmente na forma de aplicativos. “O problema grave de todos eles é o modelo de negócio, como ganhar dinheiro. Alguns têm tentado via comissão (paga) pelo serviço. Outros são baseados em anúncio ou compra de algum bem virtual. A tendência é ter modelos mais sólidos a partir do momento que as funções de pagamento móvel via celular forem mais difundidas.”
O modelo precisa melhorar, mas o benefício inicial é evidente quando comparado com negócios, digamos, mais tradicionais. Essa é a avaliação do professor de estratégia da Fundação Dom Cabral, Paulo Vicente Alves. Para ele, o custo de entrada para criar um app é mais baixo. “É um bom negócio dentro da lógica da nova economia.
Acho que a mobilidade é um bom caminho porque ainda tem muito espaço para melhorar. Mas é um mercado que já deixou de ser um mercado completamente de ninguém. Já começa a ter um certa competição”, pontua o especialista.
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As primeiras soluções envolvendo tecnologia e mobilidade foram os aplicativos de táxi. A 99Taxis, por exemplo, surgiu em 2012 e fechou o primeiro ano com 200 taxistas cadastrados. Hoje, são mais de 60 mil espalhados pelo Brasil com o registro de 1 milhão de corridas atendidas por mês.
A empresa optou por não cobrar taxas dos taxistas por corridas como forma de ganhar adesões. Por isso, só há três meses a empresa começou a faturar com uma comissão, cobrada quando o pagamento é feito via cartão de crédito pelo smartphone e, no caso de empresas, quando os funcionários usam o táxi, mas não pagam na hora. “Na nossa visão de futuro, as pessoas vão usar a 99Taxis também para pagar a corrida. É mais conveniente”, afirma Paulo Veras, CEO do negócio.
O plano da e-flows para ganhar dinheiro também visa o longo prazo. O diretor-executivo da companhia, Nathan Ribeiro, prevê que até 2017 ainda dependerá do dinheiro de investidores. A startup foi criada para criar e cuidar da operação de soluções na área de mobilidade. O primeiro lançamento foi o app Taximov e, mais recentemente, o Motomov, para motofrete. “Muita gente entrou no mercado achando que era só colocar um aplicativo na internet, mas é preciso ter estrutura. Não desprezamos a pessoa física, mas focamos em empresas e tivemos bons resultados.”
A israelense Moovit também sobrevive com dinheiro de investidores para operar um app colaborativo de rotas de transporte público. No total, a startup recebeu US$ 31,5 milhões e está em 34 países. No Brasil, opera em 18 cidades. Segundo Pedro Palhares, diretor do negócio no País, a empresa vislumbra ganhar dinheiro com publicidade georreferenciada, m-ticket (pagamento de tarifas pelo aplicativo) e comercialização de dados estatísticos.
As bicicletas também aparecem como uma das soluções para os problemas de mobilidade. Os sócios da Compartibike, Tomás Martins, Mauricio Villar, Pedro Monteiro e Paulo Siequeroli buscam diversificar os serviços com o aluguel de bicicletas, estacionamento e compartilhamento em condomínios. “Existe uma demanda reprimida de pessoas que gostam de bike e não têm acesso porque ela precisa de manutenção e um lugar para guardar. Além disso, os apartamentos estão menores”, conta Martins.
:: Pontos de atenção ::
Solução: Se existem problemas, há oportunidades. Começar com um aplicativo pode ser uma alternativa barata. Mas só o produto existir não deve bastar.
Faturamento: Como ganhar dinheiro é um dos desafios do setor, especialmente nos novos modelos. O avanço do pagamento via celular deve ajudar.
Concorrência: A área de mobilidade tem despertado o interesse de empresas. Já existe concorrência e a margem deve cair com esses novos entrantes.
Estrutura: Não adianta só oferecer o produto ou serviço. É preciso dar suporte e ainda estrutura para o consumidor se sentir seguro e pagar o que você deseja.
Teste: É importante testar a solução com os potenciais clientes antes de investir tempo e dinheiro. Foque no público com o qual vai trabalhar.
Entrevista com co-CEO da Rocket no Brasil, Rodrigo Sampaio
A Rocket Internet investe em mais de 15 negócios no Brasil. Entre eles, estão três startups da área de mobilidade urbana: EasyTaxi (aplicativo de táxi), Tripda (site de caronas) e ClickBus (site de compra de passagens de ônibus). Para o co-CEO da Rocket no Brasil, o setor é interessante para o grupo.
A mobilidade é a principal área no radar da Rocket?
É uma das áreas-chave. Fazemos coisas em outras áreas. Sem dúvida estamos prestando atenção e é algo que investimos bastante nos últimos 12 meses. Falar que ela é a principal, que agora é a bola da vez, é exagero. Mas continuamos bastante atentos e transportes, sem dúvida, é um setor que se qualifica entre os principais do momento. Não é nosso único foco agora, mas tem uma importância bastante grande.
A monetização é o grande desafio para esse tipo de negócio atualmente?
Não sei dizer se é o principal. Tem tantos desafios envolvidos. A monetização depende do modelo de negócio criado. Quando o modelo, por exemplo, é muito novo, a parte de monetização demanda mais atenção, mais criatividade e, às vezes, um pouco mais de paciência do empreendedor. Isso é natural de modelos de negócios que estão surgindo agora e que não são simplesmente uma tradução tecnológica de uma coisa que já acontecia antes.
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