Pequenos investem em aplicativos de venda com delivery e competem com gigantes

Marcas miram em consumidor de nicho para ganhar mercado e em conceito dark store para dar agilidade às entregas

PUBLICIDADE

Por Isaac de Oliveira
Atualização:

Especial para o Estado 

PUBLICIDADE

Enquanto grandes players do delivery brigam pela liderança no mercado nacional, como Rappi, iFood e Uber Eats, há pequenos que estão dispostos a entrar na disputa pelo cliente adepto do e-commerce. Para ganhar espaço, os empreendedores contam com a ajuda de aliados importantes: os mercados de nicho e as chamadas dark stores - locais específicos para o armazenamento e envio de produtos localizados em centros urbanos, que proporciona agilidade na entrega. 

O ponto de partida é encontrar o cliente com demanda específica. É por meio dele que as pequenas empresas focam na experiência de compra, que precisa ser simples, otimizada e rápida em relação às gigantes do setor (que têm cartela diversificada de fornecedores). É o caso da Avocado, aplicativo de venda de produtos para mães e bebês que iniciou operação em junho de 2019 na cidade de São Paulo. A marca contou com aportes dos fundos de investimento Canary e Maya Capital.

“Nos aplicativos conhecidos, o cliente tem que escolher a loja antes de escolher o produto. Com a gente não. Ele escolhe apenas o produto. É uma página (e etapa) a menos para ele”, defende Ramon Silva, cofundador do Avocado.

Com 10 mil clientes ativos no aplicativo, a marca apostou desde o início em dark stores para alcançar agilidade e preço competitivo, que, de acordo com Ramon, é mais adequado para negócios de venda online com entrega. “Nosso modelo de negócio está em mini galpões, em ruas com pouquíssima visibilidade, então o aluguel é mais barato”, afirma. 

Dark store da Zee.now, empresa de venda e entrega 24 horas de produtos para pet Foto: Vitor Bossa

Por terem os produtos indexados, o empresário diz que consegue otimizar a preparação do pedido que vai para a entrega. A lógica é similar a das populares dark kitchens, espécie de restaurante sem salão e com cozinha para preparo de pratos apenas para delivery. O serviço de entrega é terceirizado pela Loggi. A empresa já realizou 27.576 entregas desde a fundação. 

“O supermercado, por exemplo, foi feito para as pessoas aproveitarem a experiência de compra física. Têm custos com estacionamento, caixas, decoração interior e gôndolas. Tudo isso é perdido para um cliente que pede delivery e está pagando por algo que não está usando”, completa Ramon. 

Publicidade

A oceanógrafa Helena Gurgel é mãe de dois filhos e conta que passou a usar o Avocado com mais frequência por já ter vivido más experiência com algumas das grandes plataformas. Além da rápida entrega, ela destaca o serviço customizado da marca, como o envio de cartas durante os primeiros pedidos.

“Eu achei um aplicativo de fácil uso. Como ele me mostra somente os produtos direcionados para bebês, não tenho que perder muito tempo”, diz Helena.

O professor Rubens Massa, do centro de empreendedorismo e novos negócios da FGV-SP, explica que a segmentação é natural em mercados aquecidos, inclusive como uma busca de diferencial competitivo.

“É uma tendência natural de qualquer mercado que está amadurecendo que surjam opções específicas para diferentes perfis de consumidores. Isso dentro de um universo onde existe uma grande dor, que é a necessidade de receber com mais praticidade e comodidade produtos em casa”, afirma. 

CONTiNUA APÓS PUBLICIDADE

Outra empresa que entrou recentemente no e-commerce com delivery, também em modelo dark store, foi a Zee.now. Com investimento inicial de R$ 5 milhões, o aplicativo de produtos pet iniciou operação em abril de 2019, na cidade do Rio de Janeiro, e é uma submarca da Zee.dog, empresa de acessórios também para pets. O serviço funciona 24 horas e as entregas, feitas também pela Loggi, são realizadas em até duas horas no Rio e em São Paulo.

O CEO da Zee.now, Felipe Diz, explica que a empresa conta com cinco dark stores, onde os produtos são estocados e, após pedidos no aplicativo, seguem para entrega. Dois deles estão em São Paulo (nos bairros Itaim e Higienópolis) e três no Rio de Janeiro (em Botafogo, Copacabana e Barra da Tijuca). Os galpões geram capacidade para atender em torno de 90 bairros nas duas capitais.

“Crescemos em média 20% mês a mês. Temos em torno de 150 mil downloads no aplicativo. Mais da metade disso já são clientes ativos, que voltam a cada 45 dias mais ou menos”, diz Felipe.

Publicidade

“Sem dúvida a maior vantagem é a rapidez da entrega (no mesmo dia) e o fato de ela ser gratuita. Isso ajuda muito na praticidade do dia a dia e, principalmente, em alguma emergência”, avalia a publicitária Juliana de Oliveira, cliente da marca.

Desafios do setor 

Em altaPme
Loading...Loading...
Loading...Loading...
Loading...Loading...

A setorização exacerbada, todavia, em algum momento, poderá se tornar um problema, lembra o professor de empreendedorismo da FGV-SP Rubens Massa. “Vai chegar um momento em que as pessoas vão precisar ter vários aplicativos diferentes e isso vai se tornar um problema para elas”, diz. O professor completa afimando que, em geral, as grandes plataformas que já atuam no mercado tendem a incorporar serviços customizados com foco em públicos específicos. 

“E quando essas grandes plataformas optam por fazer isso, elas colocam em risco as pequenas, que antes não tinham um grande concorrente”, conclui o professor. 

Para Marcelo Nakagawa, professor de Inovação e Empreendedorismo do Insper, os diferenciais competitivos das pequenas plataformas precisam ir além da entrega mais rápida. É preciso investir em mix de produtos, relacionamento com o cliente e estratégia de posicionamento nas redes sociais.

“Historicamente, quem consegue se dar melhor nesse mercado aposta em nichos muito específicos, com fornecedores mais exclusivos, melhor variedade e exposição de produtos e no desenvolvimento de uma incrível experiência do cliente”, explica Marcelo.

O professor também afirma que, atualmente, existem facilidades de abertura de novos negócios de e-commerce, com plataformas prontas para serem adaptadas pelos empreendedores. Mas alerta para os desafios que precisam estar na mira de quem se lança nesse mercado, como o crescer no competitivo setor de tecnologia, que exige conhecimentos em big data, machine learning e inbound marketing e encarar as complexidades nas áreas de tributações e logística.

Publicidade

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.