Para aumentar caixa, empresas viram compradoras de lojas de franquia

Para diversificar rendimentos ou investir no médio prazo, empresas tradicionais compram unidades de marcas do varejo

PUBLICIDADE

Por Renato Jakitas
Atualização:

Matéria atualizada às 19h

PUBLICIDADE

Não é incomum uma empresa comprar parte de outra por acreditar em seu potencial de expansão ou desejar ampliar a atuação. O raro é quando ao invés de se tornar sócio, alguns investidores optam por virar um franqueado da marca. 

É exatamente isso o que está acontecendo. Em um tipo de negociação rara até pouco tempo atrás, hoje existem empresas que ingressam no franchising pelo outro lado do balcão, o de comprador de unidades. Segundo empresários e especialistas, a justificativa vai desde o interesse em reduzir oscilações de mercado, estratégias para criar novas frentes de receita ou simplesmente a projeção de lucros no médio e longo prazos.

O Burger King anunciou que planeja comprar uma rede de restaurantes canadense por 11,5 bilhões de dólares Foto: Joe Skipper/Reuters

Se virar moda, essa transformação pode colocar em risco a velha imagem da ‘barriga no balcão’, prontamente invocada pelas marcas sempre quando questionadas sobre o perfil de investidor que mais as interessa para uma expansão.

Aeroportos. A inspiração para esse modelo que começa a ganhar força no País está no passado vivido pelas empresas que atuam no segmento de restaurantes coletivos, especialmente uma das principais representantes do ramo, a gigante International Meal Company. 

Além de operar com cozinhas coletivas, a IMC criou marcas como Viena, Carl’s Jr. e Red Lobster para oferecer em praças de alimentação de portos, aeroportos e rodoviárias que opera pelo mundo, incluindo o Brasil. 

“Essas empresas entram nessas licitações e operam áreas grandes. Elas acabam ou comprando unidades de franquia ou lançando bandeiras para oferecer nesses pontos”, conta Robinson Shiba, fundador da Trend Foods (dona da China in box e Gendai), que já negociou uma franquia com a IMC.

Publicidade

Outra representante do setor éGRA, da britânica Compass Group (que tem franquias de outras redes, por exemplo, no Aeroporto Internacional de Guarulhos). Um dos ‘clientes’ da empresa, aliás, é a Casa do Pão de Queijo, de Alberto Carneiro Neto. “Eles compraram oito unidades da nossa marca”, diz o empresário. “ O interesse da GRSA era oferecer um mix mais completo para seus clientes. Nossa franquia é relativamente barata e a maioria dos nossos candidatos a franqueado ainda são pessoas físicas”, conta.

A história já é diferente com a Burguer King, que tem entre seus franqueados empresas do segmento calçadista a varejo de eletroeletrônicos. No final do primeiro semestre a rede divulgou seu plano de expansão por franquias com investimentos de R$ 1 milhão a R$ 3 milhões e se surpreendeu com a procura. “Já temos 60 cartas de intenção e as empresas são maioria absoluta”, conta o diretor William Giudici, responsável pela divisão de franquias da rede. “Acho que a explicação é o tipo de investimento. Comprar uma franquia com a gente vai exigir um desembolso alto e um tempo de retorno do investimento de quatro, cinco anos. Não é fácil encontrar uma pessoa física que aguente isso.”

Segurança. Para Angelo Coiro Filho, dono há 30 anos da construtora ACF, além da capacidade de investimento, o relacionamento com outros empresários, donos de redes de franquias, também são fatores que, pelo menos no caso dele, determinaram o investimento. 

“Eu faço construção de lojas em shoppings e estou comprando algumas unidades porque as vezes um lado vai mal e o outro pode compensar”, afirma o empreendedor, que já tem cinco lojas de acessórios em São Paulo e procura área para novas aquisições em 2017. 

“A construtora é ainda meu principal negócio. Mas o risco é maior. Se acontece algum problema na obra, a margem despenca. As franquias me entregam um lucro muito interessante”, avalia o empresário.

No primeiro semestre do ano, as franquias obtiveram crescimento nominal (sem descontar a inflação) de 7,9% em receitas, segundo a Associação Brasileira de Franchising (ABF). A inflação foi de 4,96% no período.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.