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Ovos sem galinha ganham espaço no mercado de alimentos à base de plantas

Brasil é o 16º maior mercado na categoria de substitutos de carne no mundo, com crescimento de 69,6% em 2020 comparado a 2015; empresas focam em veganos, vegetarianos e em quem segue consumindo produtos animais, mas quer alternativas

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Por Ludimila Honorato
Atualização:

Uma das tendências para 2021 apontadas pela WGSN são os ovos sem galinha, alimentos de origem vegetal que substituem o original em textura, cor, função e, principalmente, sabor. A previsão da empresa é que, dentro do mercado de produtos à base de plantas, esse tenha o crescimento mais rápido. Embora o mercado ainda seja pequeno, um tanto de nicho, especialistas no setor avaliam que há evolução e que o foco não é mais apenas o público exclusivamente vegano ou vegetariano.

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Já faz alguns anos que o brasileiro tem optado por uma alimentação mais saudável e prestado mais atenção na origem do que come. Uma pesquisa realizada pelo Ibope e coordenada pelo The Good Food Institute ouviu 2 mil pessoas no País e mostrou que homens e mulheres estão diminuindo o consumo de proteína animal e as substituindo por fontes alternativas. O movimento é conhecido por flexitarianismo, ou seja, pessoas que não param de consumir carne, mas querem outras opções.

Esse grupo passou de 29% em 2018 para 50% em 2020, o que fez com que a indústria de proteínas alternativas crescesse rapidamente. Marcas tradicionais têm apostado em linhas de produtos plant based e novas empresas surgem com essa proposta, sempre buscando a melhor solução para atender um consumidor cada vez mais exigente. Em uma pesquisa da Euromonitor International realizada no ano passado, 16,91% dos 1.011 brasileiros entrevistados declararam que estão tentando seguir uma dieta com alimentos à base de plantas.

Amanda Pinto, idealizadora e fundadora do N.Ovo, spin-off foodtech do Grupo Mantiqueira que lançou produtos à base de planta que substituem o ovo em receitas e no preparo de omeletes e ovos mexidos. Foto: Grupo Mantiqueira

"É um mercado pequeno, mas que está crescendo muito. Sabemos que a alimentação vegetariana e vegana nem sempre é a mais saudável porque pode ter fritura, doces, mas é um mercado crescente, não só pela saúde, mas pela sustentabilidade", avalia Carolina Godoy, diretora da Equilibrium Latam, empresa de consultoria em alimentação saudável. Segundo ela, essa tendência global de aumentar o consumo de vegetais e reduzir o de proteína animal é motivada por três fatores: preocupação com o sofrimento animal, saúde humana e sustentabilidade do planeta.

O caminho seria reduzir o uso de animais como fonte de alimento, fazer com que os vegetais cheguem mais à mesa do consumidor e, com tudo isso, diminuir os gastos com ocupação de terras, água e emissão de gases danosos ao meio ambiente.

Quando o assunto são os ovos, que ganham espaço nesse mercado que se fortalece, os produtos disponíveis são em formato de pó ou farinha e funcionam como substituto ao alimento na preparação de pães e bolos, por exemplo. A Nutrify, empresa que atua no ramo de suplementos veganos e vegetarianos, oferece um composto para ser usado em preparações diversas, o VeganPro Egg, e afirma que a opção é destinada a "veganos, alérgicos ou qualquer pessoa que queira substituir o ovo" nas receitas.

Já o primeiro produto lançado em 2019 pelo N.Ovo, spin-off foodtech do Grupo Mantiqueira, foi o ovo vegano em pó à base de ervilha. A promessa é fornecer as mesmas funções do alimento tradicional: dar liga, crescimento e ação emulsificante. No ano passado, a startup ampliou o portfólio com uma linha de maioneses à base de plantas e o N.Ovo Mexido, alimento também em pó destinado ao preparo de ovos mexidos e omeletes, feito de soja e ervilha. Mais uma vez, os produtos são destinados também aos flexitarianos, não apenas às pessoas que deixam de consumir totalmente alimentos de origem animal.

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"Esse foi o produto mais desafiador, porque precisou de tecnologia muito específica que faz com que o produto, em pó, ao colocar água, vire líquido e, quando entra em contato com a panela quente, se pareça com ovo. Textura foi o maior desafio, depois coloração e cheiro", explica Amanda Pinto, idealizadora e fundadora da empresa. Por enquanto, o produto está disponível apenas em restaurantes e hotéis, mas deve chegar às gôndolas de supermercados ainda no primeiro semestre deste ano. Antes, a empresa busca resolver e baixar o custo da embalagem.

O mercado e o consumidor de produtos à base de plantas

Ainda segundo a Euromonitor International, o Brasil é o 16º maior mercado do mundo na categoria de substitutos de carne, com tamanho de US$ 82,8 milhões em 2020, um crescimento de 69,6% em relação a 2015. Já uma pesquisa realizada pela Equilibrium Latam em parceria com a Decode, empresa focada em big data, analisou a alimentação sob um olhar digital em cinco tendências, uma delas o plant based, e identificou um interesse crescente pelo tema.

O número de visualizações de vídeos no YouTube ligados a dietas só com vegetais cresceu de 199 mil em 2013 para 909 mil no ano passado. Em relação a conteúdos sobre esse universo, artigos com informações, dicas e inspirações para uma alimentação à base de plantas foram os mais engajados pelo público. A pesquisa também identificou uma certa aversão por esses alimentos, mas as reações negativas passaram de 72% em 2010 para 47% em 2020.

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"A rejeição era maior, mas em 2030 pode ser que as pessoas invistam e busquem muito mais porque precisam comer mais plantas, vai ter oferta com preço mais competitivo. Vou ao supermercado e encontrar hamburguer de origem vegetal e animal com o mesmo gosto. Vai ser uma escolha mais racional", diz Carolina.

Amanda Pinto também reconhece que o mercado plant based ainda é pequeno, mas está em pleno crescimento. "É só uma questão de tempo. Se lembrar dos orgânicos, era mega nichado, mas é um mercado que cresce muito. No médio prazo, pode se tornar mais padrão conforme as pessoas têm mais acesso a informações", afirma. Segundo ela, essa demanda vai fazer com que mais empresas apostem no setor.

O investimento no mercado plant based

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Como qualquer outro negócio, uma empresa que vai começar no ramo de alimentação saudável e, mais especificamente, à base de plantas precisa ter uma boa estrutura de como vai funcionar. Já as peculiaridades precisam de ainda mais atenção.

"Quem vai empreender em plant based precisa não só conhecer o produto que vai desenvolver, mas também como vai colocar esse produto no mercado. O ramo, apesar de estar crescendo no mundo e no Brasil em velocidade muito grande, é algo novo e precisa entender em qual canal vai distribuir", orienta Alberto Gonçalves Neto, especialista do mercado plant based e sócio da AGN Consultoria e Negócios.

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Uma vez que ainda não existem franquias no setor de alimentação à base de plantas, a oportunidade é mesmo para novas empresas e produtos, ele diz. Mas isso demanda um grande investimento financeiro. "Precisa desenvolver, tem uma série de investimentos em engenharia de alimentos, consultorias para desenvolver algo novo." Neto afirma que inovação é a palavra-chave nesse mercado, o que exige também muita tecnologia.

O N.Ovo, por exemplo, investe constantemente em pesquisa para desenvolver novas tecnologias e encontrar alimentos que fujam do tradicional, diz Amanda, porque não se trata de produtos simples. A empresa tem uma equipe interna e parcerias nacionais e internacionais para realizar pesquisas, como Embrapa no Brasil e Universidade de Berkeley nos Estados Unidos. "Acho que, a pessoa querendo e tendo recursos para investir, é um mercado que tem muito lugar ainda para ser ocupado", afirma.

Carolina aponta para o perfil do empreendedor. "Tem de ter paixão pelo assunto, motivação pessoal, até mesmo mais ativista. Vale a pena que a história se conecte com o negócio. Mas se não é, busque quem sabe: nutricionistas, engenheiro de alimentos. Não é mercado farmacêutico, mas está falando de saúde, precisa garantir questões científicas." Em relação ao produto, ela afirma que tem de ser "delicioso, nutritivo e acessível", não somente no preço, mas na distribuição também. E para vender, é preciso saber comunicar, ela diz. "Nas redes sociais principalmente, produzir conteúdo de valor, pensando na dor da pessoa, no porquê ela está consumindo."

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