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'O pequeno empresário é o mais agredido de toda cadeia', afirma idealizador do Grupo Ferraro

Bruno Ferraro criou grupo de gestão gastronômica, que deve faturar R$ 12 milhões em 2016

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Por Gisele Tamamar
Atualização:

O administrador Bruno Ferraro trabalhou dez anos no mercado financeiro, mas resolveu empreender com sua grande paixão: gastronomia. Um ramo que geralmente figura no topo da lista quando o assunto é: em qual área você gostaria de empreender? Ele começou como a maioria: resolveu abrir um restaurante, mais especificamente uma hamburgueria, há seis anos. Foi lá que conheceu o universo e os desafios de empreender no ramo de alimentação.

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Há um ano e meio, ele deixou o grupo gastronômico e resolveu começar o Grupo Ferraro, hoje formado pelo empório Mestre Queijeiro, pelo restaurante Donostia e ainda tem a parte industrial com o 140 Sandwich Street e a Tropea, para a venda de sanduíches, hambúrgueres e massa distribuídos em mais de 120 pontos de vendas, como aeroportos e academias.

É a linha industrial que deixa o empresário otimista ao falar para a previsão de faturamento para 2016: R$ 12 milhões. O dobro do ano passado. O empresário, de 33 anos, falou ao Estadão PME, sobre os planos para a empresa e como o cenário econômico afeta os negócios. Confira a seguir.

Você começou a empreender com restaurante, mais especificamente uma hamburgueria, o que fez você seguir para uma linha mais industrial? Quando decidi sair para empreender no ramo de gastronomia, a ideia era abrir um restaurante. Na época, abri o Rock ´n Roll Burger, uma hamburgueria na Augusta. Não sou mais sócio de lá, sai para a nova empreitada. O que me levou para uma linha industrial foi o gosto pessoal e também um desejo de fazer uma marca mais escalável. A linha industrial permite ter mais possibilidades de uma distribuição a nível nacional ou internacional. Hoje, nosso produto tem um prazo de validade pequeno e não permite pensar na longa distância, mas estamos desenvolvendo produtos novos. E isso vem muito casado com momento econômico.

Qual a relação do cenário econômico com a estratégia da empresa? A dica ou conselho é que o momento de crise é muito mais uma mudança de tática de jogo do que qualquer outra coisa. Há quatro, cinco anos, o Brasil estava em um vento favorável de crescimento, então, a palavra de ordem era crescer, investir em novos pontos. Tinha uma flexibilidade ou apetite maior para investimentos e riscos. A partir do momento que tem um País em retração e um cenário de incertezas, a palavra de ordem é foco, diminuir produtos, focar em produtos mais rentáveis. É hora de reestruturar equipe e a empresa como um todo. É hora de enxugar. No cenário favorável, você se permite ter alguns investimentos de teste, se permite mais risco. No momento de incerteza, todos os passos têm de ser bem calculados. É uma mudança de jogo. O trabalho continua o mesmo, só muda de modelo. E também é um momento de observar o mercado internacional.

Como a empresa tem enfrentado a crise? Toda essa crise, toda essa movimentação deve ser encarada de forma diferente. Eu vejo ela sobre outro prisma. Claro, seria até imprudente da minha parte dizer que esse negócio não fere o bolso das empresas. Óbvio que fere. Mas às vezes, as pessoas ficam sentadas, elucrubando com a crise em vez de parar para pensar em como fazer diferente, em como sair dela. Na nossa empresa a palavra crise não entra muito. Entram as palavras mudança, economia de custos, revisão de processos, hora de ser melhor. A gente está em um veleiro, que às vezes pega um mar calmo e às vezes um mar bruto. Estamos vivendo em um mar um pouco mais bruto. É hora de pegar no leme do barco e segurar pouco mais firme.

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Você acabou se decepcionando na gestão de um restaurante? Eu ainda tenho restaurante. Tenho um restaurante espanhol, o Donostia, e um empório mercearia Mestre Queijeiro e a parte industrial. O setor de gastronomia, diferentemente do que todo mundo acha por conta de gostar de cozinhar, é muito difícil. Fazer um evento na sua casa, um jantar para amigos, é muito diferente de ser dono de um restaurante. É uma fronteira muito grande. Ser dono de restaurante demanda um altíssimo controle de custos, muita performance nas contas, análise correta do público, um produto aderente a ele, atendimento. O momento que a pessoa vai no restaurante é o momento que ela se permite investir nela mesma. O nível de exigência é muito alto. Não se vê muitas pessoas que querem abrir uma indústria de aço. Administrar um restaurante significa chegar às 6h para fazer compras, administrar funcionários, administrar os custos, estar sempre a postos, os horários são muito cruéis. Enquanto todo mundo está se divertindo, você está trabalhando. Não posso dizer que me frustrei, mas conheci um universo que eu não conhecia. É muito além do que fazer jantar na sua casa com grupo de amigos. E falando sobre o mercado de restaurantes, acho o Brasil, mais especificamente São Paulo, tem muita coisa contra você para empreender. Os impostos altos, os preços estão elevados, a mercadoria cara. A pessoa vai jantar e acha um absurdo, que está muito caro. Mas o cara trabalha o mês inteiro e ganha pouco. Estamos vendo marcas internacionais recuando. O que me frustra é ver que o pequeno empresário é o mais agredido de toda cadeia. Do gigante até a pessoa física, o pessoal que mais apanha é o pequeno empresário. É o que luta para pagar as contas e sobra muito pouco para evoluir. É mais ou menos como o cara que fica na arrebentação do mar, não consegue nem passar para o outside. E a grande maioria acaba voltando para a areia da praia, voltando a ser empregado porque não consegue fechar a conta.

Qual o impacto do cenário econômico nos negócios do grupo? A parte industrial está crescendo. No últimos seis meses quase triplicou de tamanho. O restaurante e o empório estão sofrendo com a baixa de movimento e perderam de 20% a 30% de vendas nos últimos oito meses.

Isso não te faz desistir? Desistir jamais, mas temo um dia ter que mudar meu foco e sair desses negócios, mas desistir deles jamais. Eventualmente em algum momento terei de tomar uma decisão executiva e não sentimental. Se o mercado continuar nesse cenário por muito tempo, vou ter que fazer uma conta de investimento versus tempo alocado no trabalho versus o retorno do dinheiro e ver se vai valer a pena.

Qual a dica para quem pretende empreender? A turma agora tem de pensar bem. O cenário de 2010 para cá permitia se arriscar mais. Agora estamos com mar turbulento. Se decidir entrar para nadar, tem que estar preparado. O momento não permite mais muitos aventureiros. Não desanimo ninguém, incentivo qualquer pessoa a empreender, o País cresce com isso. Mas a recomendação que eu dou é para se preparar bem. Se for entrar, é preciso ver bem o segmento, mapear os concorrentes, o que consegue entregar de diferencial e se realmente esse é um diferencial. O menos é mais, isso nunca foi tão importante para a empresa. Agora tem que ser um pouco mais cauteloso com tudo o que você for fazer.

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