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O mercado de sorvetes pós-paleta

A febre dos picolés mexicanos faz parte do passado, ainda assim, o segmento deve chegar a R$ 13,9 milhões até 2020

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Por Vivian Codogno
Atualização:

Às 11 da manhã, o chef italiano Andreas Beccaria chega à sua sorveteria, chamada Dolci Magie, e é surpreendido pela notícia de que falou energia no bairro durante a noite. Impaciente, se apressa para organizar tudo antes da chegada dos primeiros clientes.

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Há três anos, Beccaria desembarcou no Brasil para fugir da crise econômica pela qual passava o seu país. A razão da escolha, conta o empresário, foi a semelhança entre a cultura italiana e a brasileira, entre elas, o apreço pelo sorvete.

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Por isso, Beccaria não tardou em arriscar-se a abrir uma sorveteria no Itaim Bibi, região comercial de São Paulo. Com o investimento inicial de R$ 650 mil, o empresário decidiu enfrentar a concorrência acirrada e começar um negócio com inspiração no produto consumido em seu país.

No Brasil, o segmento de sorvetes ainda é promissor para quem deseja empreender. De acordo com dados da empresa Mintel Group, especializada em pesquisas de mercado, até 2020 o mercado nacional deve atingir R$ 13,9 milhões em valor e produzir 799 milhões de litros. O estudo aponta ainda que, apesar de o momento econômico não ser favorável ao setor de alimentação em geral, os produtos com alto valor agregado, os famosos gourmet, ainda têm demanda crescente.

Para cativar o público ávido por novidades, Beccaria fugiu dos sorvetes de palito e aposta alto nos sabores diferenciados. Lança, em média, uma nova fórmula por mês. “O meu cliente gosta dessa oferta de sabores. O de manjericão, por exemplo. Quem não gosta traz os amigos para experimentar”, conta. “Mesmo os sabores mais clássicos não faço apenas com frutas, adiciono alguma erva ou especiaria para diferenciar daquilo que é encontrado nas outras sorveterias.”

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No inverno, o faturamento médio mensal de R$ 50 mil da Dolci Magie é mantido com a produção de sobremesas com inspiração italiana, como os tradicionalíssimos cannoli e tiramisù. A aposta funciona. “Inauguramos no inverno. Mas o calor, aqui, dura mais de 300 dias no ano”, brinca.

Investir em sobremesas também é uma estratégia para a Los Paleteros, marca de sorvetes artesanais que se consolidou no breve momento em que as paletas mexicanas se tornaram febre no Brasil. Pela primeira vez depois de três anos de atuação, a empresa lança uma opção de doce com formato diferente e os ‘sombreros’, chapéus típicos do México, ficaram para trás.

De acordo com o sócio-fundador da Los Paleteros, Gean Chu, a estratégia faz parte do reposicionamento da marca, que investiu R$ 3 milhões para a produção da linha Pöese. “O mercado (de paletas) saturou e sentimos isso fortemente em 2015. Nesse momento, a Los Paleteros deixa de ser uma empresa ‘monoproduto’ para explorar outros nichos”, explica Chu. “O que fizemos foi ‘desmexicanizar’ a marca. A identidade inspirada no México causou confusão no consumidor. Uma identidade mais própria ajudou a fortalecer a comunicação”, reflete Gean, que fechou 2015 com faturamento de R$ 76 milhões e 100 unidades em funcionamento.

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Recuo. Mas o mercado de sorvetes não foi tão generoso com o chef e empresário Leonardo Gianini. A paleteria El Bigodón, que chegou a faturar R$ 74 mil em um mês no auge do consumo dos picolés mexicanos, em 2014, hoje está em processo de transformação. A loja foi fechada e o plano é transformar a marca em uma distribuidora de sorvetes para comércios e restaurantes. O leque de produtos envolve uma paleta menor, também com preço mais baixo.

“Chegou o inverno e o movimente caiu. Colocamos tapioca e cervejas artesanais para atrair o cliente. No fim do ano, fizemos as contas e valeria mais a pena montar um fábrica e não manter a loja”, relata.

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