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O jeito carioca de fazer negócios de sucesso

Rio serve de berço para o surgimento de marcas inovadoras, mas cultura da própria empresa ainda não ‘pegou’ entre jovens

Por Gisele Tamamar
Atualização:

As cores preto e cinza do escritório deixavam Katia Barros deprimida ao passo que o trabalho na empresa de auditoria não trazia felicidade e satisfação. Essa frustração a levou a desistir da carreira na área de ciências contábeis para fazer o que gostava. Depois de fracassar com uma franquia, a estilista, enfim, chamou a atenção por meio das criações de roupas com estampas coloridas, o que se tornou a marca registrada da Farm.

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A empresa é referência quando se pensa em negócios de sucesso nascidos no Rio de Janeiro – ainda integram esse grupo as marcas Brownie do Luiz, Reserva e a Do Bem, todas comandadas por empreendedores que reforçam o life style carioca e usam o cenário local como fontes de inspiração.

Mas se por um lado o Rio tem o segundo maior Produto Interno Bruto (PIB) do País, por outro, a capital não se saiu bem no último Índice de Cidades Empreendedoras da Endeavor. Entre 14 capitais analisadas, ocupou a 9ª colocação. O que prejudicou a região na classificação foram duas características: ambiente regulatório complexo e a falta de cultura empreendedora – trabalhar em grandes empresas e ter cargos públicos ainda são os sonhos dos jovens.

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O tamanho do mercado, o alto potencial de consumo e o acesso ao capital, entretanto, chamaram a atenção no levantamento. “De fato, essa coisa da alma carioca, do life style, aparecem como um grande ativo da cidade. As marcas trazem a cultura do Rio, é um destino turístico muito procurado, todo mundo adora a ideia de estar nos bares, de passear pela cidade. Isso ajuda a cidade a atrair gente boa”, analisa o gerente de pesquisa e mobilização da Endeavor, João Melhado.

Katia Barros, inclusive, não vê problemas no fato da sua marca ser muito associada ao Rio. Pelo contrário. “Acho maravilhoso. O Rio tem uma identidade e é isso que as pessoas procuram em qualquer coisa na vida”, diz a estilista, que criou a empresa ao lado do sócio Marcello Bastos. “O jeito de gerir o negócio é mais descontraído sim. Fico com medo de parecer caricato quando falo isso, mas a cobrança em relação ao que será feito é igual a qualquer outra empresa do tamanho e sucesso da Farm”, afirma Bastos. A marca faz parte do Grupo Soma e deve fechar o ano com 68 lojas em atividade e faturamento de R$ 410 milhões.

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Outra empresa carioca tida como referência é a Do Bem, que começou com a intenção do empresário Marcos Leta de “colocar a casa de suco, tradicional no Rio, dentro de uma caixinha”. Leta acredita que essa forte ligação com a cidade até ajuda na expansão. “Existe uma cultura que certifica o Rio como grande produtor, tem essa forte presença das casas de suco. A marca nasceu no Rio, nosso escritório ficava em cima de uma casa de suco”, recorda Leta.

Posicionamento. Coordenadora de MBA do Ibmec/Rio, Flavia Bendelá, acredita que, historicamente, o estado é formador de opinião e serve como palco para inovação. “Eu não sou a favor do discurso de que carioca é mais relaxado. Parece que o carioca não trabalha e vive na praia. Não é verdade, pelo contrário, acho que há uma certa descontração que permite que o Rio tenha um viés de renovação grande e um posicionamento estratégico em cima disso.”

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