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Gim é a nova aposta dos pequenos

Consumo do destilado no Brasil cresceu 60% no ano passado; País já conta com mais de 40 marcas

Por Eliane Sobral
Atualização:
Bar. Franzese abriu a Ginteria há um mês e já planeja expansão. Foto: Leo Martins/Estadão Foto: Foto: Leo Martins/Estadão

Pegue um público conectado com as novidades, junte a uma tendência de consumo em alta no mundo todo, misture com gelo, tônica e acrescente uma dose generosa de gim. O resultado é o crescimento expressivo de 66% no consumo do destilado em 2017 no País, o que equivale a 1,8 milhão de litros, segundo levantamento da Euromonitor. De acordo com a consultoria, a tendência deve permanecer pelo menos até 2022. O cenário abre espaço para a produção nacional, que começa a se destacar em balcões de bares e prateleiras de supermercados.

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Nome conhecido entre os amantes da cachaça, Felipe Jannuzzi é um dos produtores que mudaram a direção dos alambiques rumo ao gim. Em 2010, ele lançou o Mapa da Cachaça, projeto que rastreou boa parte da produção da bebida no País. O site continua, mas o próprio empresário admite que a cachaça não desenvolveu uma cultura de coquetelaria, com inovação. Prova disso é que a bebida conseguiu perder espaço até mesmo em um patrimônio nacional, a caipirinha. Atualmente, o coquetel é feito mais com vodca do que com cachaça. 

Para a analista sênior de bebidas da Euromonitor, <IP10>Angélica Salado, </IP>um dos grandes desafios do gim é desatrelar a bebida da tônica exatamente para que não aconteça o mesmo que aconteceu com a cachaça, que ficou restrita à caipirinha. “O que vai garantir o espaço das marcas nacionais e da sustentação do gim é exatamente esta capacidade de inovar”, afirma. 

Jannuzzi, que junto com mais três sócios produz o gim Virga, aposta em um futuro estrelado para a bebida. “O consumo do gim tem a ver com um ambiente legal, com a experimentação e variação nas receitas”, avalia. O empreendedor ainda vê potencial para a criação de uma atmosfera romântica em torno da bebida, assim como a do vinho. “Com o surgimento de pequenos produtores e variedade de marcas, a tendência é desenvolver o interesse do consumidor por saber mais a respeito da bebida.” 

O gim Virga é feito em Pirassununga (SP), na Fazenda Guadalupe que, desde 1940, produz cachaça. Entre as ações de marketing para promover a marca, os donos organizam visitas de consumidores brasileiros e importadores de bebidas. Ainda é cedo para pensar em exportação, diz ele, mas a expansão pelo mercado nacional já começou. Hoje, o Virga pode ser encontrado em Porto Alegre, Rio de Janeiro, Salvador, Brasília, Belo Horizonte e São Paulo. 

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Crescimento. Se a previsão de estrelato do gim vai se confirmar, não se sabe. Mas, a contar pelo número estimado de produtores, é certo que o movimento em torno da bebida disparou nos últimos dois anos. Não há dados precisos, porém os próprios empresários do setor calculam em mais de 40 o número de fabricantes de gim no Brasil. 

Augusto Simões Lopes é um deles. Depois de 26 anos habitando o alto escalão do mundo corporativo, há dois anos resolveu investir na produção da bebida. Pesquisou, aprendeu a arte da destilaria, investiu R$ 700 mil e, em setembro de 2017, lançou a marca Jungle Gin. Para a surpresa de Lopes, ganhou no mesmo ano medalha de prata no badalado concurso Spirits Selection, que elege as melhores bebidas do mundo. A medalha de ouro veio em 2018. 

Além da premiação, Simões também se surpreende com o volume das vendas. A projeção inicial era produzir 10 mil garrafas da bebida por ano. “Já estamos produzindo 30 mil e com espaço para crescer.” A maior dificuldade, diz, está na concorrência com as marcas internacionais. Nem tanto pelo preço, mas pela disputa por espaço nas prateleiras e com fornecedores. “Um fornecedor de garrafas dá prioridade a quem compra 50 mil garrafas em detrimento de quem encomenda 10 mil.” 

Com a experiência de quem esteve do outro lado do balcão, o professor de publicidade e propaganda da ESPM, Alan Kuhar, que por oito anos trabalhou na Diageo, empresa global de bebidas, acredita que os produtores locais já estão conquistando seu lugar ao sol. 

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“Os pequenos fabricantes se destacam pela produção diferenciada, artesanal e com as digitais locais. O consumidor sabe que não está comprando apenas uma bebida, mas também uma história”, avalia Kuhar. Segundo ele, os preços ainda não são um grande diferencial em favor dos produtores internacionais. “É possível encontrar gim nacional de boa qualidade com preços similares aos das marcas globais.” O Virga, de Felipe Jannuzzi, por exemplo, custa cerca de R$ 120 a garrafa, contra uma média de R$ 100 dos gins importados no varejo.

Se Simões, do Jungle Gin, se surpreendeu com a premiação logo no primeiro ano, Thomaz Franzese é outro empresário que não se cansa de brindar a boa fase do gim. Há um mês ele abriu a Ginteria, na capital paulista. O projeto inicial era de um espaço de 50 m².

Porém, antes mesmo da inauguração e com base em eventos teste, ele e seus sócios perceberam que a demanda seria maior e abriram o bar com 300 m². As filas de espera chegam a ter mais de 200 pessoas aos fins de semana. 

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“Tive a ideia em viagem a Nova York. Está dando tão certo que já estamos trabalhando na expansão via franquia para os mercados de Florianópolis, Brasília e Belo Horizonte”, diz. 

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