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Negócios infantis educativos expandem com crianças isoladas em casa

Brinquedos, livros e games ajudam pais no home office; para especialista em negócios, vínculo afetivo criado na família deverá ajudar empresas a manterem aumento do faturamento pós-pandemia

Foto do author Nathalia Molina
Por Nathalia Molina
Atualização:

Especial para o Estado

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Escolas fechadas, trabalho em home office e pais sem saber ao certo o que fazer com os filhos em casa. A oportunidade estava criada. Pequenos negócios com brinquedos educativos se apresentaram como solução. Assim, empresas que vendem de itens de madeira a livros entraram para a lista dos segmentos que cresceram na pandemia.

“Aumentou muito a procura dos pais, por causa dos filhos em casa e da preocupação de não oferecer qualquer coisa para eles. Tive até problema com reposição. Começou a acabar madeira, embalagem”, conta Alessandra Garcia, proprietária da Engenha Kids, com cinco anos de existência e vendas somente online. Ela mesma tem dois filhos: Gabriel, de 5 anos, e Laura, de 8. Para escolher os produtos, segue alguns critérios: “ser educativo, homologado e ter qualidade”.

Brinquedos para alfabetização estão entre os favoritos na pandemia, caso dos blocos de madeira com letras e desenhos e do giz de cera para banho. Até março, a Engenha Kids tinha 100 pedidos em média por mês. Por volta de abril e maio, chegou a 300; agora está na faixa de 200 mensais. “Mesmo caindo, dobrei o que vendia.”

Após a reabertura das escolas, produtos ligados ao universo infantil podem apresentar queda, mas têm como continuar em alta se bem trabalhados pelos empreendedores, acredita Ariadne Mecate, consultora de marketing do Sebrae-SP. “Os pais nunca mais serão os mesmos. Você criou um laço tão grande com as crianças que, mesmo que a escola volte, você vai querer fazer atividade com eles.”

Com dois pequeninos em casa – Rafael, de 1 ano, e Luca, de 3 –, Ariadne também virou cliente. “Comprei kit de papelaria e até contratei uma professora que tinha sido demitida para fazer atividades com o meu filho mais velho.” Segundo ela, mesmo quem não podia trabalhar presencialmente com crianças pensou em possibilidades de negócio. “Teve bufê infantil que começou a fazer festa em caixa e mandar os kits até com lembrancinha de aniversário.”

Alessandra Garcia brinca com seus filhos Gabriel e Laura com brinquedos da sua empresa, Engenha Kids. Foto: Felipe Rau/Estadão

Adaptação foi fundamental na Recriar Festas, desde 2012 especializada em recreação com brincadeiras tradicionais. “A gente desenvolveu uma ideia para alugar cantinhos de brincar. Nossa cartilha de atividades vai junto e é pensada para cada faixa etária”, explica a proprietária, Ebiliane Lima. Os preços partem de R$ 226, por um mês para kit com seis brinquedos. No início da pandemia, ela fez quatro locações; agora está com 30 na média.

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Ebiliane teve de reforçar a limpeza. “Por ser produto de economia circular, os pais temiam o contágio (do coronavírus). Mas a gente já tinha um trabalho de higienização porque as crianças põem os brinquedos na boca. Agora passamos álcool 70%, esperamos evaporar e limpamos com enxaguante bucal.” 

Os pais têm a liberdade de montar o conjunto de cada cantinho, com itens como cavalinhos de madeira, corda e fogãozinho. “Às vezes a mãe não tem condição de comprar vários brinquedos. Pode alugar e, se a criança criar um elo com algum, ela faz um investimento assertivo”, diz Ebiliane, que também vende brinquedos educativos no site da Recriar.

Tecnologia a favor da educação

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A cada mês o aplicativo Sloth exibe novos ambientes para crianças de 3 a 6 anos aprenderem enquanto se divertem com o bicho-preguiça que dá nome ao app. “Usamos a técnica de gamificação para engajar. A cada cinco acertos, a criança ganha uma roupinha para o Sloth”, explica Pedro Mendes, que se juntou a um grupo de amigos para lançar a K-Mobile, empresa de apps para desenvolvimento pessoal. O app tem uma parte gratuita e também assinatura mensal ou anual.

Ele conta que sua mulher, Daniela, se preocupava com o uso de tela pelos filhos, Francisco, de 4 anos, e Tom, de 6. “Com equilíbrio, a tecnologia traz benefícios. No Sloth, tem um timer. O bicho-preguiça aparece dizendo que é hora de descansar.” O app, primeiro produto da K-Mobile, já estava programado para março. A pandemia alavancou os downloads. Atualmente somam 200 mil, quase meio a meio entre Brasil e Estados Unidos – há uma versão em inglês. “Todas as perguntas são narradas porque as crianças ainda não são alfabetizadas.”

Tela do game infantil Sloth, em que crianças interagem com bicho-preguiça, criação da K-Mobile. Foto: Reprodução

A pandemia também levou o Clube Quindim, de assinaturas de literatura infantil, a atingir sua melhor marca desde a primeira entrega, em 2017. “A gente estava em uma ascendente muito grande. Aí veio a greve dos Correios. Fez com que muitos suspendessem, mas a gente continua com novas assinaturas”, afirma Renata Nakano, idealizadora do Quindim. Para reestruturar as entregas, Renata foi atrás de empresas de logística especializadas em e-commerce.

Um público novo aderiu ao Quindim no isolamento. “Tivemos muitos pais que gostam de escolher os livros dos filhos. Assinaram o clube e se surpreenderam porque são obras que não comprariam”, conta. Selecionados por importantes nomes da literatura, como Ziraldo e Ana Maria Machado, os títulos contemplam autores e ilustradores diversos.

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A qualidade e a diversidade dos produtos é o que fazem também pais se surpreenderem com a Cuca Toys, loja de brinquedos educativos em Perdizes, criada há 26 anos e fora de e-commerce. “Todo mundo me fala que tenho de estar online. Eu sei que venderia mais, mas não quero que a pessoa clique lá e compre. Prefiro fazer uma venda de R$ 10 adequada àquela criança (in loco) do que fazer uma de R$ 100 que não tenha nada a ver”, diz a proprietária, Nancy Lissner Mester.

No início da pandemia, ela viu o faturamento cair a 20% ou 30% do que fazia antes. “Quando vi que ia se estender, comecei a vender por WhatsApp.” Quebra-cabeças e jogos foram os artigos mais pedidos pelas famílias. Com a reabertura para o público, voltou a 80% das suas vendas. Durante o período em que a Cuca Toys ficou fechada, Nancy aproveitou para reformar o espaço. “Eu me apaixonei de novo pela minha loja.”

Renata Nakano, do Clube Quindim de literatura infantil: crescimento no isolamento. Foto: Rodrigo Frazão

PARA MANTER SEU NEGÓCIO PÓS-PANDEMIA

  • Ensine como se joga

Facilitar a vida dos pais é fundamental para cativar um consumidor fiel. “Não é só vender o produto. Tem de ajudar a mãe. Se trabalha com tinta, por exemplo, pode mostrar como fazer uma atividade com pintura”, diz Ariadne.

  • Atinja o público certo

Fazer anúncio segmentado é uma estratégia certeira para pequenos negócios. “Você pega os brinquedos que vende para cada faixa etária e faz anúncio nas redes sociais. Dá para escolher tudo: nível de renda, idade dos filhos, se a pessoa é casada, solteira ou divorciada, quem faz aniversário em novembro.”

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  • Evite telefone sem fio

Cadastre os clientes e entre em contato com eles, por WhatsApp ou e-mail marketing. Não apenas para divulgar lançamentos, mas para manter contato com os consumidores e ter um retorno sobre o que se vende. “Também é bom trabalhar com algumas influenciadoras que são mães ou que conversam com esse público.”

  • Fale com os coleguinhas

Fazer parcerias com outros negócios relacionados ao público infantil também é uma boa tática para crescer em tempos de retomada econômica. “O bufê tem clientes, mas tem outra empresa que faz papinha. Podem trabalhar juntos”, exemplifica Ariadne.

  • Peça para ouvir uma história 

Consumidores satisfeitos com seu produto são a melhor propaganda. “Peça para mandarem um depoimento. O que faria uma mãe comprar é ver outras crianças felizes. Afinal, eu também quero que meu filho tenha essa experiência.”

Fonte: Ariadne Mecate, consultora de Marketing do Sebrae-SP

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