Para além dos sites próprios e das vendas pelas redes sociais, criar um perfil em um marketplace tem sido um dos caminhos para o início da digitalização de pequenos negócios que estão com as portas fechadas há meses devido a pandemia do novo coronavírus. A dinâmica pode ser benéfica para ambos os lados: os pequenos pegam carona na segurança e na visibilidade das grandes e elas, por sua vez, expandem seu leque de produtos e regiões de atuação.
Criado em março pela Magazine Luiza, o Parceiro Magalu já reúne mais de 60 mil pequenos negócios cadastrados durante a pandemia. A plataforma ajudou a impulsionar a operação digital do marketplace, que cresceu 214% no segundo trimestre. Com as lojas da rede fechadas, o e-commerce passou a representar 78,5% das receitas totais da companhia entre abril e junho.
A gerente de marketplace do Magalu, Mariana Castriota, explica que o projeto acoplou funcionalidades online e offline para ajudar os pequenos negócios que não tinham familiaridade com o mundo digital a se digitalizarem. “Queríamos sair do ponto de partida do lojista pequeno, que bota uma vida e um sonho em uma empresa e não sabe o que fazer. Nós fomos para a rua e entendemos que pequenos empresários muitas vezes não têm sequer uma educação para formar e montar uma empresa de forma estruturada”. Confira a seguir a entrevista.
O Magalu já operava como marketplace antes da pandemia. Qual a diferença do Parceiro Magalu?
Temos uma mudança no perfil do consumidor. Hoje, o comércio eletrônico ainda tem uma fatia muito pequena, ele é de apenas 5% de tudo que é transacionado no comércio. Mas o número já estava crescendo mesmo antes da pandemia. Nós já sabíamos que o processo seria rápido, ainda mais na pandemia. Quando olhávamos para esse Brasil analógico, de comerciantes, ficávamos preocupados. Já tínhamos o nosso marketplace, que já tem algumas dezenas de milhares de vendedores, mas ele acontece normalmente para uma empresa já digitalizada. E queríamos sair do ponto de partida do lojista pequeno, que bota uma vida e um sonho em uma empresa e não sabe o que fazer.
Nós fomos para a rua e entendemos que pequenos empresários muitas vezes não têm sequer uma educação para formar e montar uma empresa de forma estruturada. No começo da pandemia mesmo, o Sebrae levantou que MEIs tinham 9 dias de capital de giro para manter a loja fechada. Quando fomos para a rua, começamos a entender que antes de falar de marketplace, precisávamos entender a dor e não adiantava falar palavras difíceis. Vimos que não era somente vender no marketplace, precisava dar o processo.
Na prática, o que a ferramenta oferece para o pequeno empreendedor?
Como fizemos correndo, antes do previsto, ainda não colocamos todas as funcionalidades. Nós criamos a plataforma, que é uma ferramenta de gestão simplificada de lojas, na qual uma das funcionalidades é vender no Magalu. O empreendedor pode usar a ferramenta para gerir a loja, para subir produto no estoque, para colocar as vendas da loja física, por exemplo. Acabamos de lançar uma funcionalidade para quem está vendendo via rede social mandar o link de pagamento através do Magalu. Também oferecemos 100% da logística por conta do Magalu. Se antes ele estava restrito a rua que atua, agora ele passa a vender para o Brasil inteiro.
Aqui no Magalu a gente obriga a ter nota fiscal eletrônica, então tem o faturador na plataforma. Temos quatro formas de subir os produtos de forma rápida. Demos as condições e, principalmente, subsidiamos essa entrada para ajudá-lo a entender o processo. Não cobramos nada para estar na plataforma. Eu plugo a minha loja no Magalu e só pago se eu vender (até o dia 31 de outubro, os pequenos que aderirem à plataforma pagam 3,99% de taxa sobre as vendas). Se o empreendedor quiser usar só para gerir a loja, sem vender, ele pode, sem pagar nada. Fizemos tudo para que o empreendedor consiga vender sem ter nenhum tipo de conhecimento digital.
Qual o benefício da ação para o Magalu?
A gente olha muito para a China, que tem processo parecido com o nosso em relação à logística. Nos EUA, para a Amazon enviar um produto de Seattle a Orlando é barato. Para a gente, enviar do sudeste para o Acre é caro. A logística é um desafio no Brasil. Com as pequenas no Magalu, ganhamos presença, espalhamos os nossos produtos pelas mais diversas regiões do país. Tenho parceiros no interior do Acre, por exemplo. O nosso portfólio aumentou bastante. Subimos mais de 50 parceiros de café, pequenos produtores que vendem café especiais. Vamos além do nosso core business de bens duráveis, como geladeira, fogão e smartphones.
Depois desse primeiro passo na digitalização, quais têm sido os desafios das pequenas empresas que entram para o Magalu?
Quando fomos para a rua, vimos que a maior dificuldade desses empreendedores não era o acesso à internet em si, a maioria tem um bom smartphone. Mas faltava certificado digital, um contador. A forma que eles administram é a mesma há 15 anos. É uma repetição de processos. A menos que ele seja forçado, ele segue repetindo o protocolo. A pequena empresa é totalmente diferente de uma loja que já é digitalizada. Ela não vai ter profundidade de estoque, as formas de vender esse produto e trazer o cliente são diferentes
Então agora, já digitalizados, eles estão tendo que lidar com o estoque e comprar de acordo com a demanda do online. Estavam acostumados a vender de acordo com o processo da região que atuam e agora têm mais clientes. Uma coisa que percebemos que é desafio é a mudança que eles têm feito ao aumentar a demanda. Quem é MEI geralmente atinge rápido o patamar da quantia que é permitido vender. Então estão tendo que lidar com essa transição. Entendemos que a medida que se empoderam, eles começam a crescer e precisam mudar, ter assistente contábil por exemplo.