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Máscaras alteram foco de pequenas indústrias na pandemia

Equipamentos de acetato, tipo viseiras, entram na linha de produção de negócios de comunicação visual; Mapa das Máscaras conecta confecções e costureiras autônomas

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Por Anna Barbosa
Atualização:

Por conta da crise do novo coronavírus e das medidas de isolamento social adotadas, as pequenas e médias empresas de diversos setores passaram a sentir quedas bruscas na procura de seus serviços e produtos e, consequentemente, uma redução no faturamento. Em busca de se adaptar às necessidades do momento para sobreviver, diferentes negócios passaram a produzir máscaras e protetores faciais - uma das grandes demandas de proteção durante a pandemia.

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É o caso da Imageway, empresa de comunicação visual que produz faixas, banners, painéis comemorativos e outros itens para o dia a dia e para eventos. Os donos, Marisla e Adolfo Martins, contam que sentiram a demanda do negócio chegar a quase zero depois que o isolamento foi decretado no Estado de São Paulo.

Logo no início da pandemia, antes do uso de máscaras se tornar obrigatório, o casal já havia decidido adotá-las por fazer parte do grupo de alto risco. Como não achavam à venda a proteção ideal, contam, eles mesmos decidiram produzir a máscara e entraram em contato com um dos fornecedores de folhas de acetato. Esse equipamento de proteção é parecido com uma viseira, também chamado de face shield.

“Quando fomos buscar o material, vimos que não havia tanta disponibilidade (desse tipo de máscara) no mercado e que poderíamos passar a produzi-las, fazendo algo que beneficiasse tanto as pessoas quanto nós mesmos”, diz Marisla.

Mesmo usando as máscaras desde meados de março, eles passaram a comercializar o produto somente em abril, já que precisaram antes desenvolver o projeto e adaptar a empresa. “O projeto da máscara protetora precisa ser diferente e possui muitos detalhes, além de três tamanhos: recém-nascido, criança e adulto.”

O casal Marisla e Adolfo Martins começoua produzir máscaras apósdemanda do negócio chegar a quase zero durante pandemia. Foto: Tiago Queiroz/Estadão

A empreendedora também conta que o casal pretende continuar a produção de equipamentos de proteção individual mesmo num cenário pós-pandemia. “Nós fizemos um curso de bombeiro e socorrista, mas nunca usamos de fato. Acredito que agora seja um momento para fazer bom proveito disso.”

Para Ricardo Teixeira, coordenador do MBA de Gestão Financeira da Fundação Getúlio Vargas (FGV), a adaptação do negócio em um momento como esse é louvável. “A partir dessas iniciativas, a empresa também pode encontrar um outro caminho para crescer. Pode ser que não queira voltar atrás e que queira seguir com os dois caminhos.”

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Outra empresa que também se adaptou foi a Isoflex, produtora de objetos para gestão visual, com itens como pastas de procedimentos, displays, porta folhas, quadros flexíveis e outros. “No final de março, sentimos uma queda brusca, porque foi quando os fechamentos começaram a acontecer de fato. Como tínhamos a matéria-prima, resolvemos fazer as máscaras”, conta Carolina Hartmann, diretora de marketing.

A produção da máscara de acetato pode ser até 20 vezes mais rápida do que os modelos impressos por máquinas 3D, diz ela, o que fez com que a empresa passasse a produzir mais de 200 mil máscaras por mês.

A dificuldade, no caso da Isoflex, foi desenvolver um novo canal de vendas. “Como não trabalhávamos com esse tipo de produto, tivemos que nos mexer muito rápido para conseguir entrar nesse meio”, conta Carolina.

A empresa percebeu que, com o tempo, houve aumento da concorrência no mercado de protetores e máscaras, então passou a desenvolver outros sete produtos específicos para a proteção contra o coronavírus, como barreiras de supermercado e adesivos orientadores de piso.

A diretora de marketing da Isoflex, Carolina Hartmann, teve que desenvolver um novo canal de vendas para comercializar as máscaras. Foto: Eduardo Vinicius Dellauzana de Lima

Segundo Carolina, esse momento proporcionou trabalhar com clientes de novos ramos e, num momento pós-pandemia, enxerga como possibilidade expandir a cartela de produtos e a carteira de clientes.

Quem já era do setor de confecção

Não foram somente as empresas que já trabalhavam com o acetato que se transformaram. A Estojos Baldi, produtora de embalagens e mostruários para joalherias, passou a incluir em sua linha de produtos a produção de máscaras de tecido.

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“Na pandemia, com os shoppings fechados, o nosso mercado sentiu. Como nós produzimos os saquinhos para embalagem, temos um setor de costura e decidimos produzir as máscaras”, diz Walter Baldi Júnior, um dos diretores da empresa. Segundo ele, a nova atuação foi pensada levando em conta manter a empresa aberta para manter os empregos - são 150 funcionários.

Segundo o coordenador do MBA de Gestão Financeira da FGV, é importante fazer as contas para fazer a adaptação. “Nesse momento de crise, o que deve ser levado em consideração é a questão financeira da empresa. A decisão é tomada pela sobrevivência do negócio.”

No caso de Matheus Muniz, dono da marca de roupas femininas Slave Wave, a atuação no setor de vestuário, com acesso à matéria-prima e às costureiras, também facilitou a entrada no setor de máscaras. A dificuldade, no entanto, foi com relação aos clientes.

“Já tem muita oferta do produto e até mesmo os fornecedores estavam trabalhando com o público final”, conta. Ele explica que, para se diferenciar, buscou trabalhar com máscaras personalizadas, assim como fazia com os uniformes antes da pandemia.

O dono da empresa relata que, em abril, as vendas de roupas da loja online dobraram em relação ao mês anterior e, somadas às máscaras e uniformes industriais, conseguiu equiparar as vendas de todo o mês de março. Já em maio, Matheus faz parte do grupo daqueles que, com tanta oferta no mercado, perceberam uma queda na venda de máscaras.

Slave Wave, marca de vestuário feminino, teve mais facilidade para entrar no setor de máscaras por já contar com acesso à matéria-prima e às costureiras Foto: Matheus Muniz

De acordo com Juliana Segallio, consultora do Sebrae-SP, alguns pontos devem receber maior atenção durante essa adaptação. São eles: a possibilidade de demanda, a estimativa de formação de custos, como o produto será oferecido e entregue, os meios de pagamento e os meios de divulgação. “Os pequenos precisam estar atentos ao termômetro dos consumidores, nos comportamentos, nas demandas. Não dá para olhar só para dentro da empresa.”

Mapa das Máscaras reúne costureiras

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Além das pequenas indústrias, costureiras e outros autônomos uniram a necessidade e o tempo ocioso em casa para produzir e vender máscaras de pano. Para reunir essas iniciativas e dar visibilidade aos produtos, foi criado durante o Mapa das Máscaras, uma plataforma sem fins lucrativos que hoje tem mais de 3 mil perfis cadastrados.

Gislene Gutierrez foi uma das pessoas que aderiram à plataforma. A aposentada conta que, antes da pandemia, vinha atuando de forma autônoma e trabalhando para aplicativos de corrida como 99, Lady Driver e Baby Pass. Com o início do isolamento e com a queda das chamadas, decidiu pôr em prática suas habilidades de costura do passado.

Como já teve confecção, Gislene tem uma máquina em casa até hoje. “Fazendo parte do grupo de risco, eu tive que retomar as atividades de costura. Eu preciso pagar minhas contas”, conta ela.

“Comecei a entrar em contato com os condomínios próximos da minha residência, que têm grupos de WhatsApp, além de contar com a ajuda da minha filha, que é da área da saúde”, diz Gislene sobre as estratégias para vender sem precisar sair de casa.

Ela reforça o quanto a venda das máscaras têm ajudado na renda da família nesse momento e, por outro lado, lamenta ter que produzir esse tipo de item. “Quando eu digo que não estou feliz em produzir (as máscaras), é por conta da situação da pandemia, infelizmente ocorrem muitas mortes. Mas esse é um produto que salva vidas.”

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* Estagiária sob a supervisão da editora do Estadão PME, Ana Paula Boni

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