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Loja onde cliente compra e não leva, 'guide shop' ganha mercado

Espécie de showroom para e-commerce poupa altos investimentos em estoque, mas não serve para qualquer produto; moda e decoração são aposta de marcas

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Por Mateus Apud
Atualização:

Já pensou em entrar em uma loja, escolher produtos, comprar e sair de mãos abanando? Apesar de ainda soar estranho para muitos, as chamadas guide shops estão ganhando espaço e ajudando e-commerces a aumentar suas vendas. Neste novo conceito, o comércio online aposta em lojas físicas onde os clientes são atendidos, provam a mercadoria e, na hora de pagar, fazem a compra pelo site. Recebem a mercadoria em casa dentro de horas ou alguns dias.

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Marcas como Amaro, Básico, Oppa e Westwing apostam no modelo, com suas lojas de vestuário e decoração em São Paulo e outras cidades. Para o coordenador do centro de excelência em varejo da Escola de Administração e Economia da FGV-SP, Maurício Morgado, o modelo é indicado para quem quer expandir os negócios sem um grande investimento. "O principal custo de uma loja física é o estoque. Nesse modelo, como a loja funciona apenas como mostruário, o empreendedor economiza bastante."

Não é todo tipo de produto, no entanto, que combina com uma guide shop, pontua Morgado. "Por exemplo, linha de produtos mais básicos do dia a dia, como cosméticos e itens de higiene. Mas para o setor de moda e decoração faz sentido."

Guide Shop da Amaro no shopping Higienópolis. Foto: Mara Acayaba Foto: Mara Acayaba

Fundada em 2012 como e-commerce de moda, a Amaro é um case de marca que aposta em guide shops para crescer no mercado. Passou os três primeiros anos apenas no ambiente virtual e hoje tem 16 lojas físicas em quatro Estados. Só em São Paulo são 10 lojas, em shoppings como o Higienópolis. "O brasileiro ainda tem receio de lojas online. Com a loja física, a marca ganha mais credibilidade", justifica o CEO da Amaro, Dominique Oliver.

Com 400 funcionários e um quarto das vendas feitas por meio das lojas físicas, a marca quer apostar ainda mais em lojas com estoque zero. Segundo Oliver, o frete é um dos principais segredos para os clientes terem uma boa experiência com esse modelo. "Em São Paulo, em pedidos até as 19h, entregamos as peças no mesmo dia, em média em 2h30min."

Além da Amaro, a Básico também aposta nas guide shops para dar chance aos clientes provarem suas roupas antes de comprá-las no site. Fundada em 2013 como e-commerce, dois anos depois percebeu que o contato com a peça proporcionava mais confiança nos produtos.

"Conhecemos esse modelo alternativo em 2015 e apostamos nele para tornar a loja um ponto de experiência, não só ponto de vendas", diz o CEO e fundador da empresa, Daniel Cunha.

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Guide Shop da basico.com localizado em São Paulo. Foto: Felipe Hess Foto: Felipe Hess

Hoje, a Básico conta com 25 funcionários, três lojas fixas em São Paulo e duas em estilo pop-up (temporárias) no Rio. Esses cinco endereços representam 25% das vendas e 35% dos novos clientes todos os meses.

No ramo da decoração, a Oppa foi a pioneira no Brasil em guide shops. Desde a sua fundação, em 2012, a marca aposta em lojas físicas para expor de sofás a almofadas. Hoje, possui quatro endereços, sendo dois em São Paulo, um no Rio e um em Belo Horizonte.

A Westwing, e-commerce de clube de compras de objetos de decoração, também decidiu adotar o modelo, em 2014, três anos após sua fundação. Possui apenas uma guide shop, em São Paulo, que segundo o CEO da marca, Andres Mutschler, ajudou a impulsionar as vendas.

No entanto, conta, foram necessários ajustes. "Quando começamos, a loja era 100% showroom. Mas percebemos frustração nas pessoas por não poderem levar na hora produtos pequenos. Daí começamos a ter estoque de algumas coisas."

Além disso, Mutschler diz que a loja serve como um “quebra gelo” para os clientes que têm medo de compras online. "Muitas pessoas cadastradas no site não compravam. Depois que fizeram a primeira compra na loja física, tornaram-se compradores frequentes do site."

Guide Shop da Westwing no bairro da Vila Madalena. Foto: Guto Seixas Foto: Guto Seixas

Modelo atrai gigantes como Walmart e C&A

Além de atrair pequenos e médios empreendedores, o modelo de guide shop também tem chamado a atenção de gigantes do mercado, como C&A, Walmart e Imaginarium. A C&A inaugurou em novembro de 2018 o projeto Mindset, com duas guide shops, uma em São Paulo e outra no Rio. A ideia é lançar minicoleções semanalmente inspiradas em temas atuais, e as peças são compradas apenas pelo e-commerce Mindset.

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Walmart e Imaginarium, em vez de criar novos projetos, apostaram em e-commerces com guide shops já estabelecidos no mercado. Em 2017, o Grupo Imaginarium, que está presente em 28 países, adquiriu a Casa MinD, marca nacional de produtos de decoração. Hoje, são cinco guide shops em São Paulo e no Rio.

O Walmart, por sua vez, comprou lá fora a marca americana de roupas masculinas Bonobos, também em 2017. A Bonobos é uma das pioneiras no ramo das guide shops, tendo lançado a sua primeira loja física em 2012, em Boston, cinco anos após ter estreado o e-commerce.

* ESTAGIÁRIO SOB A SUPERVISÃO DO EDITOR DE SUPLEMENTOS, DANIEL FERNANDES

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