Lixo doméstico, orgânico ou reciclável, é mote para novos negócios

Biodigestor e composteira elétrica são exemplos de empreendimentos criados para reduzir ou reaproveitar resíduos gerados em casa

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Por Raul Galhardi
Atualização:

ESPECIAL PARA O ESTADO 

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Há nove anos, foi criada a Política Nacional de Resíduos Sólidos para organizar a produção e o reaproveitamento de resíduos no País. Porém, pouco foi feito desde então. Atualmente, o Brasil recicla apenas 3% do seu lixo. A cidade de São Paulo, que produz 20 mil toneladas de resíduos por dia, também recicla somente 3%, segundo a Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe). Minimizar o problema do lixo na capital, mais especificamente o orgânico, foi o mote para a criação de negócios como Compost.ela e Organic Life.

Idealizada pela designer Julia Ries, a Compost.ela consiste em uma composteira residencial elétrica para resíduos orgânicos, feita de material reciclado e que acelera o processo de compostagem controlando a umidade, a temperatura e mantendo aeração constante. O aparelho, que tem cerca de 1 metro de altura, é capaz de processar até 17 litros de material orgânico a cada vez, levando um dia para reduzir este volume em 70%. Com essa quantidade de lixo, é indicado para residências de três a cinco pessoas. O adubo gerado pode ficar acumulado na gaveta por até 24 dias.

“Minha proposta era criar um eletrodoméstico que transformasse resíduo orgânico em adubo em um dia e que não tivesse uma cara de lixeira do futuro”, conta Julia, que hoje desenvolve a parte mecânica do aparelho em um programa de residência empreendedora na Red Bull Basement, no centro de São Paulo. A designer, que está em busca de parcerias no varejo, deverá vender a composteira em loja online própria e redes sociais a um preço estimado em R$ 1.800.

Julia Ries criou a Compost.ela, uma composteira elétrica residencial com apenas 1 metro de altura e capaz de processar17 litros de resíduos orgânicos Foto: Leo Martins/Estadão

Outra empresa no programa da Red Bull que também mira o problema do lixo orgânico é a Organic Life. O produto é um biodigestor que usa resíduos orgânicos para produzir biogás e fertilizante. Fruto de uma parceria da gestora de projetos Juliana Silva e do catador de materiais recicláveis Cleiton Emboava, o biodigestor pode ser utilizado tanto em ambientes urbanos como rurais.

“Estamos automatizando o sistema, porque assim monitoramos e controlamos o ambiente interno dele para termos uma produção de gás eficiente”, diz Silva, segundo quem esse gás poderá ser utilizado por cooperativas de catadores em fogões de cozinha, por exemplo.

Plástico e outros recicláveis

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Além do lixo orgânico, os recicláveis também geram assunto - e negócios, como a Molécoola e a Boomera. A base desses empreendimentos é estimular o conceito de economia circular, em que se utiliza resíduos para a criação de novos produtos.

Criada pelo administrador Rodrigo Roessler, a Molécoola visa estimular a reciclagem pela cidade com sistema de pontos. O usuário leva seu material reciclável limpo (plástico, vidro, papel, baterias, equipamentos eletrônicos) a uma das lojas-contêineres da Molécoola e, por meio de um aplicativo, ganha pontos em troca. Os pontos podem ser trocados por produtos, serviços e descontos, como créditos de Bilhete Único e materiais de limpeza.

Rodrigo consegue esses produtos por meio de parcerias e também com o dinheiro recebido pelo material reciclável, que ele vende para grandes recicladoras como a Gerdau. Hoje, são nove lojas da Molécoola no Estado de São Paulo, sendo sete na capital (confira aqui os endereços), e a meta é alcançar cem estabelecimentos pelo Brasil até junho de 2020.

A empresa finalizou recentemente um programa de aceleração na Estação Hack do Facebook, em parceria com a Artemisia, e está participando agora do Gerdau Builders, projeto de aceleração de Gerdau e Endeavor.

Cleiton Emboava e Juliana Silva, da Organic Life,com obiodigestor Foto: Leo Martins/Estadão

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Dar um destino para os recicláveis, que podem no futuro originar novos produtos, é também a base da Boomera, negócio do engenheiro de materiais Guilherme Brammes. Em uma fábrica em Cambé (PR), ele transforma resíduo plástico do litoral paulista em embalagens de produtos de limpeza, por exemplo. Além disso, usa seu conhecimento da Política Nacional de Resíduos Sólidos para dar consultoria a empresas.

De quem é a responsabilidade

Para Brammes, apesar de não haver interesse na implantação de logística reversa em larga escala no Brasil, há espaço para otimismo. “Comparado a tudo que o ambiente está sofrendo, alguns projetos de reciclagem estão saindo do papel.”

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A ambientalista Mônica Borba, coordenadora do Instituto 5 Elementos, que promove educação para a sustentabilidade, vê o setor com mais ceticismo. “Há uma corresponsabilização entre iniciativa privada e governos federal, estadual e municipal e, com isso, tem sido difícil responsabilizar a iniciativa privada.”

Para ela, há uma lógica equivocada no mercado, em que as empresas que mais geram resíduos não são oneradas por isso. “Tudo o que é descartável deveria ser mais caro, mas os lobbies de setores como o da indústria química tornam difícil essa diferenciação de preços”, afirma Mônica.

Outro problema apontado pela ambientalista é o desconhecimento da população quanto ao que é possível fazer em relação aos resíduos. “Boa parte da população não sabe que o caminhão da coleta seletiva passa toda semana em São Paulo e não separa o seu lixo por isso”, diz ela (clique aqui para saber os dias da coleta da Prefeitura de acordo com a sua rua).

Além disso, há cerca de 1.500 PEVs (Pontos de Entrega Voluntária) espalhados pela capital paulista para receber o material reciclável direto dos consumidores.

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