Lego fecha com a Positivo para vender kits educacionais

Em negociação de R$ 20 milhões, empresa paranaense ficará responsável pela distribuição dos kits de robótica desenvolvidos pela marca dinamarquesa

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Por Renato Jakitas
Atualização:

Famosa pelos seus blocos de montar, o Grupo Lego acaba de fechar uma parceria com a Positivo Informática para tentar emplacar no País seu ainda desconhecido braço educacional, chamado de Lego Education. A empresa paranaense ficará responsável pela distribuição dos kits de robótica desenvolvidos pela marca dinamarquesa, que integram as tradicionais peças montáveis a um software e uma série de livros didáticos a serem utilizados como suporte dentro de conteúdo de aulas de linguagem, física e de matemática.

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Fontes próximas afirmam que o contrato exigiu desembolso inicial de R$ 20 milhões por parte da Positivo, que compreende basicamente a importação dos kits. As empresas, no entanto, não revelaram os valores da operação.

Ainda segundo essas fontes, o contrato será por tempo indeterminado e sua manutenção ficará sujeita ao cumprimento das cláusulas anuais de desempenho. A ordem que chegou da Dinamarca, dada pelo diretor de mercados emergentes, Jorgen Skov, é a de expandir das atuais 3 mil para 10 mil o número de escolas que adotam a solução da empresa em dois anos.

O acordo com a Positivo vinha sendo costurado desde o começo do ano, quando o grupo rompeu o contrato com o parceiro que desenvolvia o mercado local para a Lego Education havia 17 anos e convidou a Mcassab, da família Cuitait, para assumir parcialmente a operação. A Mcassab é a responsável pela distribuição dos brinquedos da Lego desde 2004. 

Na época, Robério Esteves, diretor da Mcassab, reconhecia a dificuldade em assumir sozinho a Lego Education. “Conhecemos bem a Lego, mas é verdade que (a MCassab) não tem experiência no setor de educação. Vamos começar do zero”, confidenciou Esteves na ocasião, ao Estado.

Exatamente por isso, a executiva Roberta Baldivia, responsável pela Lego Education no País, vinha conversando com outras duas empresas com vivência no setor. Pesou a favor do Positivo, que vai portanto dividir a distribuição com a Mcassab, o bom relacionamento com as escolas da rede públicas, tidas por Roberta como chave para sua expansão no Brasil. Hoje, das 14 mil escolas atendidas pela Positivo Informática, 11,5 mil são municipais ou estaduais. “Nossa meta é chegar a 5% das escolas brasileiras até 2018. Isso dá 10 mil escolas. Queremos repetir o tipo de contrato que fechamos com o governo de Recife, para fornecimento em toda a rede municipal de ensino”, diz Roberta. Contratada há três anos para desenhar a expansão, a executiva vê no processo de distribuição o principal obstáculo para popularizar seus kits. 

“A gente estava há muito tempo atrás de um parceiro para integrar nossas soluções de robótica em educação”, conta Elaine Guetter, vice-presidente da Positivo Informática Tecnologia Educacional. “Assim que soubemos que a Lego Education estava buscando novos parceiros, fizemos um contato e começamos a negociar”, conta.

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O primeiro produto da parceria envolve a incorporação da Linha Mais Matemática, lançada neste ano pela Lego Education, pelo programa multimídia Pense Matemática, da Positivo, composto por dinâmicas de aula, atividades, recursos digitais e materiais complementares para o ensino fundamental. “Vamos adaptar alguns produtos e, a partir de 2017, lançar alguns livros e sistemas novos com a Lego Education”, conta Elaine.

Preço. Para além da definição de novos parceiros, outro desafio histórico para ampliar o mercado educacional para a empresa é o preço. Um dos principais produtos, o kit para montagem de robôs Ev3, que conta com blocos de Lego, motores e sensores, é vendido por R$ 2,4 mil.

No início do ano, a empresa fez o lançamento mundial do Wedo, versão mais econômica e que deve custar no País R$ 1.150. "Em 2014, baixamos em 40% o preço de todos os produtos. Desde então, a matriz decidiu assumir o custo da variação cambial, para não repassar as altas de câmbio. Nossa percepção é que, neste momento, estamos com o preço mais baixo possível", diz Roberta.

Justiça. Enquanto o Grupo Lego vai definindo sua estratégia para seu braço educacional, quem parece mais sentir o golpe da nova realidade é a Zoom Education, a parceira que por 17 anos manteve a exclusividade na distribuição dos kits de robótica. 

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Um ano depois de assumir o controle da empresa, Victor Barros passou a encarar um cenário mais turbulento. Além de perder o contratou assinado por seu tio Marcos Wesleye (o fundador  da empresa) em 1998, de quebra ainda viu sua empresa ser alvo de um processo provocado por sua base de franqueados.

Onze franquias da empresa não digeriram o novo momento da empresa e pedem na Justiça a quebra de contrato com a Zoom para manter os atuais clientes e negociar diretamente com os novos distribuidores, a Positivo e a Mcassab, a compra dos kits de robótica.

O processo corre sob sigilo na Justiça de São Paulo, mas de lado a lado, as acusações são mútuas, assim como é o cuidado de preservar a Lego Education de toda a discussão. "Eles lutam pelo direito de continuar vendendo os kits e não querem confusão com os dinamarqueses", diz uma fonte próxima.

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"Eu paguei R$ 1 milhão para ter uma franquia da Lego Zoom. Agora que a empresa diz que não tem mais nada a ver com a Lego, queremos quebrar esse contrato e seguir com nosso negócio", afirma Marcio Lorenti, que tinha cinco franquias da empresa para atuar em todo o interior de São Paulo.

"Eu não posso comentar muito essa história, que está em segredo de Justiça. Mas a verdade é que algumas dessas franquias estavam em um momento de renovação de contrato e eles querem algo muito normal nesse ramo, que é sair da base de franqueados e levar os clientes", justifica Victor Barros. "Nosso negócio vai continuar. A gente vai comprar dos distribuidores e faturar R$ 40 milhões neste ano", conta.

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