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Já passou da hora de você cortar gastos na empresa

Prática é recomendada mesmo em períodos de alto crescimento, mas assume status de obrigação agora, com a economia patinando e a crise ganhando força

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Por Gisele Tamamar
Atualização:

Se a escassez de crédito, os juros elevados, a inflação e a diminuição do consumo começam a assustar o empresário, é hora da redução de custos e despesas entrar em cena. A prática, na verdade, deveria ser constante na vida do empreendedor, mas o dono do pequeno negócio só toma uma atitude quando as coisas começam a apertar de verdade.

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O coordenador do Centro de Empreendedorismo da Fecap, Edson Barbero, é ainda mais incisivo. Para o especialista, o empresário costuma até mesmo negligenciar a questão. “Em períodos de bonança, ele não enxerga a água escorrendo, muitas vezes, vagarosamente pelos cantos. Mas tem de cortar sempre. Esse pode ser um aprendizado para as crises econômicas.”

Mas ter noção de que isso é algo importante na vida do negócio não basta. É preciso saber qual estratégia seguir. O professor dos cursos de MBA da FGV, Márcio Barros Souza, não gosta de falar em corte ou redução; ele prefere o termo racionalização. 

“Praticamente todas as empresas estão passando por uma revisão. Virou uma obrigação desde o ano passado. Hoje o pequeno ou médio deveria ter uma filosofia de austeridade em qualquer situação.” Basicamente, Souza aponta quatro passos para o empreendedor seguir: colocar tudo na ponta do lápis, categorizar as saídas de caixa, eliminar aqueles gastos postergáveis e rever os estruturais e estratégicos. A tarefa pode parecer simples, mas sua eficácia está nos detalhes. “Só o fato de fazer uma lista de todos os gastos já dá um trabalho relevante”, afirma o especialista.

Para enfrentar esse período, Ciro Pereira, sócio da Naxos, contratou um funcionário para cuidar das melhorias de processo para evitar a perda de materiais e reduzir gastos que muitas vezes não ficam evidentes. A empresa de utilidades domésticas, por exemplo, implementou um sistema capaz de dizer qual transportadora cobra o melhor frete no momento da contratação do serviço. Antes, o processo era manual e gastava-se muito com ligações telefônicas. 

 

O empreendimento de Santa Catarina ainda renegociou contratos de telefonia e buscou nacionalizar os fornecedores. “Procuramos cortar despesas e não investimentos”, pontuou Pereira. Segundo ele, a área de desenvolvimento de produtos é algo estratégico. Inicialmente, a Naxos foi criada para vender apenas acendedores de fogão. Outros itens passaram a fazer parte do portfólio, mas a produção continuava terceirizada.

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Há três anos, o principal produto da empresa foi copiado pela China e isso resultou em queda nas vendas. “Passamos a ser indústria, com um portfólio enxuto, e a trabalhar com itens diferenciados para patentear e ter exclusividade de venda”, explicou. Pereira conta ainda que não cortou a participação do negócio em feiras e espera crescer 15% em comparação com o ano passado, quando faturou R$ 12 milhões. 

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O corte também faz parte da rotina atual da Estação dos Doces, empresa comandada por Janildo Gerônimo da Silva e que fatura mensalmente entre R$ 20 mil e quase R$ 60 mil. A loja funciona na região central de São Paulo e depende da movimentação dos alunos das faculdades instaladas na região. “Há três meses comecei a perceber que o comércio deu uma enfraquecida muito grande e fui cortando gastos”, conta. A última pesquisa sobre o segmento divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostra que as vendas no varejo caíram 2,2% no primeiro semestre. Trata-se do maior recuo desde 2003. 

Entre as medidas tomadas por Silva estão a economia de energia, ele reduziu o número de lâmpadas acesas, e de água, a limpeza do local é feita com panos úmidos. O pequeno empreendedor também melhorou a gestão do estoque. Antes, Silva conta que fazia compras grandes a cada 15 dias. Hoje, toma nota de tudo o que está acabando na loja e adquire apenas o necessário para manter o negócio funcionando.

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O coordenador da Fecap, Edson Barbero, ressalta ainda que o empreendedor precisa conhecer bem o próprio negócio para não cortar errado e provocar verdadeiros estragos. Para ele, é temeroso, por exemplo, fazer reduções drásticas de uma só vez. “O drama é grave, mas não podemos deixar a cabeça só dentro da água. Lá na frente haverá momentos de crescimento. O empresário precisa saber que pequena empresa não é corrida de 100 metros, é uma maratona”, afirmou o especialista em negócios.

:: Passo a Passo ::

Ponta do lápis Identificar todos os gastos ao longo do ano sem esquecer dos menores. Muitos custos passam despercebidos, mas é preciso ter paciência para pontuar todos os detalhes.

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Categorizar Separar os gastos por finalidade, relevância e prioridade. Existem três categorias: gastos estruturais (sem ele a empresa não funciona), estratégicos e postergáveis.

Decisões  O terceiro passo é eliminar os postergáveis, aqueles que não são essenciais e que permitem a empresa funcionar sem comprometer a competitividade do negócio.

Revisão  Rever os estruturais e estratégicos. Eles existem, são necessários, mas é preciso mantê-los no patamar atual? É possível fazer uma redução? Analise e descubra.

Exemplo  Ao implantar uma política de redução, o empresário também precisa dar exemplo para os funcionários. A ostentação não combina de jeito nenhum com austeridade. 

:: CAPACITAÇÃO :: A redução de custos nas pequenas empresas será tema do 37º curso Estadão PME. Márcio Barros Souza, professor da FGV e gerente de finanças do Senac, vai ajudar o empreendedor com o assunto no dia 15 de setembro. Um alerta dele é tomar cuidado com o corte de mão de obra. É preciso descobrir se a redução é realmente necessária. “Na crise de 2008, as empresas que estavam melhor preparadas tiraram proveito da retomada.” As inscrições são gratuitas e podem ser feitas no inscricaopme.estadao.com.br.

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