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Isopor de delivery e fralda com defeito ilustram potência da economia circular

Parcerias entre empresas ajudam a reduzir impacto socioambiental e promovem crescimento de quem investe em circularidade; livro reúne 11 cases brasileiros de sustentabilidade

Por Bruna Klingspiegel
Atualização:

Com a sustentabilidade sendo cada vez mais valorizada nas agendas corporativas, as parcerias têm se tornado facilitadoras na implementação da circularidade nas empresas. As relações B2B (business-to-business) impulsionam a transição para um novo modelo econômico e possibilitam o desenvolvimento sustentável

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A premissa da economia circular é simples. Os resíduos se transformam em matéria-prima e o descarte não é mais o destino final dos produtos. Ao optar por esse modelo, as empresas podem se reposicionar no mercado e explorar novos nichos.

“A economia circular traz um grande diferencial competitivo para as empresas. O diferencial de custo e qualidade não é mais ganho de competitividade, hoje a gente tem que trabalhar uma proposta de valor. Ser eficiente não é mais suficiente”, afirma Beatriz Luz, líder da Exchange 4 Change Brasil, organização especializada em impulsionar a economia circular nas empresas.

Beatriz também é a organizadora do livro Economia Circular: Debate Global, Aprendizado Brasileiro, que será lançado pela Bambual Editora em São Paulo no próximo dia 17 (leia mais abaixo). A obra reúne artigos de 32 especialistas, incluindo autoridades globais no tema, e elenca 11 negócios brasileiros da economia circular.

Mulher trabalha em estação de reciclagem com máquina que prensa isopor para a indústria Santa Luzia, exemplo de economia circular;no Brasil, apenas 34,5% do isopor consumido é reciclado, ante uma produção de aproximadamente 100 mil toneladas por ano. Foto: Vanessa Villalta

Os modelos que já nascem com esse DNA circular costumam ter uma certa vantagem em comparação aos demais empreendimentos. Sair da economia linear e ingressar nesse novo mundo exige uma mudança sistêmica na forma como a empresa pensa, produz, consome e se comporta, explica Luz.

Um dos exemplos é a Santa Luzia, indústria de acabamentos fundada há 60 anos, que utilizou por muito tempo a madeira como principal matéria-prima. Na década de 1990, enquanto o mercado externo demandava madeira certificada, a cadeia produtiva brasileira não estava preparada para atender às necessidades do comércio internacional. 

“A gente chegou à conclusão de que o poliestireno era a resina ideal para fabricar as molduras de plástico e fazer essa substituição”, conta Francisco Pizzetti May, gerente da Santa Luzia, que hoje fatura em torno de R$ 200 milhões por ano.

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A empresa começou comprando o material virgem, direto do distribuidor, mas a equação econômica não fechava. O valor de produção era maior do que o seu valor de venda. Em uma segunda tentativa, a empresa decidiu trabalhar com o produto reciclado. Ele tinha um custo menor, mas a qualidade da matéria-prima da época era ruim e a quantidade de material que eles poderiam ofertar era muito baixa.

Para solucionar o problema, a empresa decidiu verticalizar o processo. Desenvolveram uma tecnologia que substituiu quase integralmente a madeira pelo isopor reciclado no seu processo de produção. Um dos principais obstáculos na utilização do poliestireno expandido é a logística de transporte do material, já que ele é composto por 98% de ar e apenas 2% de matéria-prima.

Na Santa Luzia, o isopor prensado volta a ter densidade alta, como plástico, e é usado na indústria de acabamentos. Foto: Antonello

As parcerias com as cooperativas de reciclagem surgiram como facilitadoras do processo de obtenção do produto compactado. Os parceiros recebem máquinas desgaseificadoras e prensas e transformam todo o material recolhido em uma massa densa com bastante peso, o que viabiliza transportá-lo por longas distâncias.

Segundo pesquisa realizada pelo Instituto Socioambiental de Plásticos, apenas 34,5% do isopor consumido no Brasil é reciclado, ante uma produção de aproximadamente 100 mil toneladas por ano.

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“O isopor existe em abundância nas cooperativas, seja de bandejas de presunto ou embalagens de delivery, por exemplo. Isso se tornou uma oportunidade para eles como uma nova fonte de renda e também para nós que tínhamos a necessidade desse material”, conclui Pizzetti.

Um novo olhar para a fralda rejeitada

O objetivo da RCR Ambiental, também citada no livro, era o mesmo: buscar um destino mais sustentável para uma quantidade enorme de resíduos - fraldas pré-consumo com defeitos de fabricação. O processo produtivo dessas fraldas gera uma quantidade enorme de sobras de produção que, até então, eram aterradas.

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As formas de descarte precisavam evoluir e, para isso, a empresa foi em busca de uma solução para reaproveitar os produtos e evitar a extração de outros recursos da natureza ou produzir novas matérias-primas.

“De aterrar nós fomos atrás de uma solução para utilizar o valor energético dessa fralda para fazer cimento. Foi um passo muito importante, mas, com a evolução do conceito de economia circular, nossa equipe de pesquisa continuou fazendo diversas tentativas com máquinas e investindo um caminhão de dinheiro até a gente chegar a uma solução para segregar os componentes”, conta André Navarro, diretor da RCR Ambiental e integrante do HUB Brasil de Economia Circular.

André Navarro, da RCR Ambiental, quereprocessafraldas com defeitos de fabricação e gera um gel absorvente usado na produção de tapetes higiênicos para pets. Foto: Leonardo Freitas
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Com os elementos separados, o passo seguinte foi buscar alianças estratégicas. Oreprocessamento dessas sobras possibilitou a obtenção de um gel superabsorvente e começou a ser utilizado pela Petix na produção de tapetes higiênicos para pets.

“A gente começou a desenvolver juntos as melhorias que precisavam ser feitas, como as novas gerações de máquinas para fazer tudo isso em larga escala”, explica Navarro. O produto com tecnologia exclusiva virou referência nacional e é exportado para países da América Latina e da Europa, além de possuir operações nos Estados Unidos, por meio da marca WizSmart.

Da casca do arroz para sílica sustentável

O Rio Grande do Sul é o maior produtor de arroz do Brasil e responde por cerca de 70% dos grãos processados no País. Proporcionalmente, o Estado é também responsável pelos resíduos que o beneficiamento do grão gera - só a casca do arroz, que é descartada, corresponde a cerca de 20% do volume total.

Como a decomposição da casca é ambientalmente nociva por emitir grande quantidade de metano e dióxido de carbono, uma das alternativas é a geração de energia por meio da queima das cascas. Mas o que fazer com as cinzas?

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Para atender a essa demanda, a Oryzasil foi pensada para ter uma matriz limpa e gerar a primeira sílica natural do País com os resíduos da queima. Esse modelo de negócio nasceu para ser 100% circular. A casca do arroz é queimada para gerar energia, as cinzas são convertidas em sílica e todos os subprodutos do processo são reutilizados, explica Paulo Garbellotto, diretor da Oryzasil.

A sílica é uma matéria-prima utilizada em diversas produções. A indústria de pneus, por exemplo, utiliza o componente para dar mais eficiência e diminuir o consumo de energia e combustível dos veículos. Outro exemplo é o mercado de calçados. No começo de 2019, a Veja Shoes, marca francesa de tênis sustentáveis, propôs uma parceria com a produtora de sílica verde. Da atuação colaborativa nasceu uma sola de tênis produzida com 96,25% de insumos vegetais.

Beatriz Luz, líder da Exchange 4 Change Brasil, especializada em impulsionar a economia circular nas empresas, e organizadora do livro 'Economia Circular: Debate Global, Aprendizado Brasileiro'. Foto: Bella Scorzelli

“Com as parcerias, a gente consegue enxergar o futuro. Estamos migrando para uma química de menor impacto ambiental. Acreditamos que esse nosso conceito, quando associado a empresas que pensam da mesma forma que nós, possibilita uma longa jornada de relação comercial adiante”, conclui Garbellotto.

Como fazer em sua empresa

O maior desafio para colocar a economia circular em prática e encontrar soluções sustentáveis é estar aberto ao novo, diz Beatriz Luz. Essa é a diferença, pontua ela, entre uma construção de solução circular para uma solução linear. 

“Eu tenho um problema. Eu chamo o fornecedor e ele tenta resolver. Isso não é uma parceria. Para fazer a economia circular funcionar, você precisa que os dois ou três elos da cadeia pensem em conjunto na solução e tenham abertura para poder falar.”

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Para as empresas que querem apostar em modelos de negócios de economia circular, a especialista sugere expandir as fronteiras de análise das soluções para trazer impactos significativos e criar um diferencial competitivo.

“Aquela solução de economia simples não pode ser um ativo de marketing. Então, saiba fazer perguntas além da fronteira do problema, tenha visão sistêmica e seja sempre crítico. Existem muitas coisas por trás da primeira resposta”, completa.

Capa do livro 'Economia Circular: Debate Global, Aprendizado Brasileiro'. Foto: Reprodução

Livro: Economia Circular: Debate Global, Aprendizado Brasileiro Organizadora: Beatriz Luz  Editora: Bambual Editora (368 págs.) Valor: R$ 95

  • Lançamento em São Paulo

Data: 17/2 (quinta-feira), a partir das 18h na Livraria Martins Fontes (Av. Paulista, 509)

  • Lançamento no Rio de Janeiro

Data: 23/2 (quarta-feira), a partir das 19h na Livraria da Travessa - Shopping Leblon (Av. Afrânio de Melo Franco, 290)

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* Estagiária sob a supervisão da editora de Carreira e Empreendedorismo, Ana Paula Boni

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