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Fundo de risco mira fortunas nacionais

Lançado por empresários de internet, fundo levantou R$ 100 milhões de family offices brasileiras para investir em 20 empresas iniciantes da área de tecnologia

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Por Renato Jakitas
Atualização:

No ano passado, Rodrigo Borges, cofundador do Buscapé, dedicou-se a uma rotina inusitada: bater na porta das famílias de milionários oferecendo cotas de empresas novatas da área de tecnologia. Ele havia acabado de lançar uma gestora de recursos com outros três sócios e, como meta, tinha de colocar na praça um fundo de capital de risco ancorado exclusivamente por fortunas locais, uma novidade em se tratando Brasil, onde os gestores dependem quase que exclusivamente da disponibilidade dos bancos de fomento e investidores estrangeiros, em especial das family offices norte-americanas, na hora de tirar produtos similares do papel.

Gabriel Sidi (de branco), Rodrigo Borges (centro) e Felipe Andrade (direita), sócios na DOMO Foto: JF Diorio/Estadão

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Recentemente, Borges anunciou um fundo de R$ 100 milhões para aplicar em 20 startups, com prazo máximo de desinvestimento de dez anos. Entre os cotistas, nomes como Alfredo Setubal, presidente da Itaúsa, a holding do Grupo Itaú ( que além do banco reúne marcas como Duratex, Itautec e Elekeiroz), Rubem Ariano, que foi sócio da gestora Hedging-Griffo, fundada por Luis Stuhlberger e comprada em 2006 pelo Credit Suisse, além de famílias que construíram fortunas no varejo e na área industrial.

O desafio de Rodrigo Borges foi grande em um País onde, historicamente, os ricos têm por hábito concentrar seus recursos em opções conservadoras do mercado financeiro. Ou, na pior das hipóteses, resguardar o patrimônio da família em ativos imobiliários. São estratégias de sobrevivência impulsionadas pelo histórico de crises políticas e econômicas, além dos dividendos generosos oferecidos pelas aplicações de renda fixa, como o CDB e, mais recentemente, os títulos de Tesouro Direto.

“Foi um trabalho de formiguinha. As famílias tradicionais brasileiras não estão acostumadas e, na maioria dos casos, nem consideram investimentos de risco dentro do Brasil”, conta Rodrigo Borges, ao lado do sócio Gabriel Sidi, que foi tesoureiro da Odebrecht Realizações e um dos criadores do GFAI, especializada em finanças pessoais. Guilherme Stocco (ex-vice-presidente da Buscapé), Felipe Andrade (ex-Barclays), e Marcello Gonçalves, que foi executivo no Banco Fator, também atuam como gestores e sócios da empresa, que se chama Domo Invest.

O objetivo do fundo é atuar dentro de um nicho chamado de capital semente (‘seed capital’), que movimenta rodadas de aporte abaixo dos R$ 2 milhões, abarcando participações minoritárias em empresas que recentemente entraram em estado operacional. A lógica dessa modalidade de investimento busca múltiplos de retorno sobre o capital aportado na casa dos 300% e, para o aplicador, estômago para acompanhar uma alta taxa de insucesso que pode chegar a 80% dos casos. “Em um portfólio com 20 startups, as vezes duas ou três que alcançam um estágio alto já são suficientes para onerar bem os nossos parceiros”, conta Sidi.

No caso da Domo, as cotas de investimento giraram entre R$ 1 milhão a R$ 3 milhões, uma parcela ínfima do patrimônio do banqueiro Alfredo Setubal, presidente da Itaúsa, que diz ter ingressado no fundo da Domo Invest justamente para testar um setor que, para ele, ainda tem regras de desconhecidas de funcionamento.

“Meu negócio sempre foi banco, empresas tradicionais que tem de trazer receita e margem de lucro no final do mês. Essas startups, as vezes, não têm nem faturamento. Esse é um mundo novo”, conta o banqueiro, que confessa um interesse antigo na área. “O Brasil não favorece investimento de risco com essa renda fixa que ainda está ai, mas eu já gostaria de ter colocado dinheiro em startups via fundos de venture capital antes. O problema é que, os principais fundos, a maioria deles americanos, não têm hoje espaço para novas famílias. O cara abre um fundo novo e os investidores que já fazem parte do ciclo rapidamente compram todas as cotas.”

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Na opinião do representante de umas família tradicional, que prefere não se identificar, não falta apetite de risco atualmente entre os milionários locais, principalmente as novas gerações, familiarizadas com o cenário de startups no exterior. “O que falta é oferta no Brasil. Eu já aportei recursos em algumas startups como investidor anjo, de forma anônima. Mas não deu muito certo. Esse é um negócio em que é preciso dedicação, por isso os fundos especializados são obrigatórios”, diz.

Para Rubem Ariano, os ricos tendem a experimentar aplicações de risco daqui para frente. “As novas gerações já estão sendo preparadas dentro das famílias para esses tipo de negócio, menos orientado para o financeiro e mais voltado para a economia real”, destaca o empresário, que se tornou empreendedor de startups desde que saiu da Hedging-Griffo em 2011 e colocou R$ 2 milhões no fundo da Domo. Ariano também participa de outros fundos de capital de risco, como o Iniciativa Agronegócios, de Julio Pinheiro, que compra fazendas em Mato Grosso do Sul. “Nós lançamos nosso produto em 2013 para o investidor brasileiro e tem sido um trabalho difícil. As coisas começaram a mudar bastante no final do ano passado e no começo deste ano. Sinto que os milionários brasileiros querem e sabem que precisam expandir seu horizonte de investimentos”, conta Pinheiro.

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