Frete para e-commerce pode ficar até 30% mais caro no ano que vem

Pressionada por prejuízo bilionária, Correios vai extinguir e-Sedex a partir de 1º de janeiro; setor de vendas online diz que medida impacta diretamente na vida dos pequenos varejistas

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Por Renato Jakitas
Atualização:

Considerado como a principal alternativa para a entrega rápida de encomendas no varejo online, o e-Sedex vai ser extinto pelos Correios no ano que vem, a partir de 1º de janeiro. O anúncio pegou de surpresa o setor de venda virtuais, apesar dos boatos sobre o fim do serviço há quase um ano.

Pressionada por prejuízo bilionária, Correios vai extinguir e-Sedex a partir de 1º de janeiro Foto: Estadão

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O e-Sedex vinha sendo empregado por pequenos e médios e-commerces desde que foi criado, há 16 anos, justamente por utilizar a mesma malha do serviço de entregas expressas, mas há um custo médio de 20% a 30% inferior ao Sedex tradicional. Os grandes varejistas, por contarem com um grande volume de entregas diárias, geralmente utilizam empresas privadas de entrega.

"Recebemos o anúncio como uma notícia muito ruim para o nosso mercado", diz o presidente da Associação Brasileira de Comércio Eletrônico (ABComm) Maurício Salvador. "Basicamente, é ruim porque trará um aumento de preços imediato no frete e uma redução da qualidade. O Pac (serviço de entregas regulares, que é mais lento) não é adequado para o setor. Quem vai pagar essa conta com os varejistas é também o consumidor final", diz.

Para Leandro Bassoi, diretor de logística do Mercado Livre, a medida deve corroborar para uma concentração de mercado, reduzindo o espaço dos pequenos e-commerces. "Hoje, se você não tem uma média de 100 entregas por dia, você não consegue ter acesso a uma transportadora privada. O fim do e-Sedex é o tipo de incentivo reverso que prejudica muito os pequenos e médios empreendedores", conta.

Procurado, os Correios não comentaram os motivos para o término do e-Sedex. Por meio de sua assessoria de imprensa, a empresa pública que opera em algumas regiões por meio do modelo de franquias disse que não abre as estratégias de seu negócio. Mas o mercado afirma que a decisão faz parte dos plano da estatal para reverter os prejuízos que vem amargando nos últimos anos. Neste ano, os Correios devem fechar com um prejuízo de quase R$ 2 bilhões. Em 2015 a estatal já havia registrado um prejuízo de R$ 2,1 bilhões.

"Não acho que o e-Sedex tinha problema com demanda. Acho que o problema é outro", afirma Leandro Bassoi. "Se você olhar as receitas dos Correios, vai ver que os resultados com entregas de documento, que os Correios opera sob monopólio, só caem ano a ano. Já os fretes crescem. Claramente a estratégia dos Correios passa pelos fretes."

Segundo estimativas da ABComm, o preço do frete hoje impacta de 6% até 12% do valor pago pelos consumidores para um produto adquirido via e-commerce. Quanto menor a loja virtual, mais caro é o serviço. isso porque, sem volume para negociar o frete com as transportadoras privadas, hoje absorvidas pelos grandes vendedores, a realidade do empresário não é muito diferente da experimentada pelo usuário comum, que para enviar uma encomenda contrata um motoboy ou segue até a agência dos Correios.

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O resultado disso é a eclosão de um gargalo logístico que, segundo análise de especialistas e a percepção dos próprios empreendedores, impõe limites ao crescimento do comércio online e cria lacunas de competitividade ao setor, distanciando cada vez mais as pequenas das grandes lojas.

Com cerca de 35 mil transportadoras no Estado de São Paulo, para as empresas do setor, o mercado carece de competitividade na entrega de compras online não por falta de players, mas de prátiva de concorrências. Os empresários acusam a estatal de concorrência desleal no segmento.

"Eles têm o monopólio para entrega de cartas e correspondências. Mas fazem uma interpretação jurídica disso para avançar também sobre as entregas expressas", afirma Paulo Furquim, coordenador do Centro de Estratégia e Pesquisas do Insper. "Os Correios mantém um departamento com dezenas de advogados e, basicamente, o que eles fazem é acionar judicialmente e extrajudicialmente toda transportadora que resolva competir com eles", diz.

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