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'Flexitarianos' ditam tendências para negócios de carne vegetal

Mulheres e jovens são maioria em reduzir consumo de proteína animal; para especialista, aproveitar biodiversidade brasileira e incluir pequeno produtor rural são desafios

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Foto do author Juliana Pio
Por Juliana Pio
Atualização:

A jornalista e triatleta mineira Ludymilla Sá passou a consumir carnes vegetais de proteínas diversas em suas refeições há cerca de um ano. “Sou carnívora, tenho uma vida muito ativa e também pratico triathlon. A cada 15 dias, para desintoxicar, substituo as carnes de origem animal por proteínas vegetais, por orientação da nutricionista”, conta ela, que costuma comprar produtos da Fazenda Futuro no supermercado.

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Pesquisa realizada em 2020 pelo Ibope e coordenada pelo The Good Food Institute (GFI) aponta que os brasileiros têm buscado incorporar opções mais saudáveis no dia a dia. 50% dos entrevistados afirmaram ter reduzido o consumo de carne de origem animal nos últimos 12 meses. Em levantamento semelhante realizado pelo GFI e a Snapcart em 2018 a porcentagem era de 29%.

Entre os brasileiros que reduziram o consumo de proteína animal, 37% já incluíram as carnes vegetais nas refeições em algum momento da dieta. A maioria é composta de mulheres: 54% frente a 44% dos homens. Jovens também estão consumindo menos produtos animais: 52% versus 43% de pessoas na faixa etária mais velha. A região que lidera o movimento é o Nordeste, com 53%.

Segundo Raquel Casselli, gerente de engajamento corporativo do GFI Brasil, a preocupação com a saúde é o que tem levado as pessoas a se tornarem flexitarianas, mais ainda do que vegetarianas e veganas. Dados da pesquisa mostram que apenas 1% parou totalmente de comer carne animal no último ano.

Ludymilla Sá,triatleta que aderiu ao consumo de carnes vegetais. Foto: Acervo pessoal

“De maneira geral a gente vê que o público jovem é menos apegado às tradições e bastante aberto a experimentar, repensar suas escolhas e influenciar a família”, ressalta Raquel. 

Especialista do mercado plant based e sócio da AGN Consultoria e Negócios, Alberto Gonçalves Neto destaca ainda que a geração de millennials tem contribuído para aumentar as estatísticas. “Eles também se preocupam com a origem do alimento e com o quanto ele está impactando o ambiente e o mundo.”

Entre os produtos, é mais comum encontrar proteína à base de soja e de ervilha, mas, como ressalta Raquel, há outras fontes vegetais disputando espaço no mercado. Além disso, diz, crescem opções além da “carne bovina”, como suínos e frutos do mar vegetais. Confira mais abaixo.

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Três perguntas para Raquel Casselli

Quais são as tendências para o mercado de carnes vegetais?

Temos visto uma variedade de produtos, como hambúrgueres, salsichas, linguiças, nuggets, desfiados, que ficarão cada vez mais comuns. Embora a proteína de soja e de ervilha sejam as mais comuns, já se nota um interesse pela diversidade de fontes de proteína como feijão, grão-de-bico e fava. 

Uma das grandes apostas do mercado é conseguir fazer cortes de carnes, como bifes, para o dia-a-dia. Outra tendência é uma diversidade maior de produtos análogos a todos os tipos de origem animal, não só bovinos, como também aves, suínos, pescados e frutos do mar, para conseguir levar diversidade à mesa. 

Hoje, por exemplo, já se tem a bacalhoada vegetal para a Páscoa. A ideia é conseguir ter produtos para todos os momentos de consumo dos brasileiros.

Raquel Casselli, gerente de engajamento corporativo do The Good Food Institute Brasil. Foto 2 -Raquel Casselli, gerente de engajamento corporativo do The Good Food Institute Brasil Foto: Divulgação

E quais os maiores desafios do setor?

A indústria vem trabalhando de uma maneira bastante dedicada para alcançar preços cada vez mais acessíveis e tem feito avanços interessantes. O segundo fator é a maior utilização de ingredientes nacionais na confecção dos produtos. 

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Hoje, boa parte é feita a partir da soja nacional, mas a proteína de ervilha, por exemplo, uma das mais utilizadas, ainda é importada, bem como alguns aditivos, como corantes e aromatizantes, o que encarece o custo. Vai iniciar um desenvolvimento forte de ingredientes nacionais, não só para aproveitar a biodiversidade brasileira, mas também como possibilidade de exportação.

A ideia é conseguir novos sabores e texturas e ter preços mais competitivos. Outro desafio é incluir o produtor rural, que é a força do agronegócio, nessa cadeia, incentivando-o a produzir os ingredientes nacionais em propriedades diversificadas, aumentando a sua fonte de renda. 

Nem todo produto de origem vegetal é necessariamente saudável. Como ter esse equilíbrio?

É como encontramos na categoria de origem animal. Há produtos mais saudáveis e outros mais indulgentes. Cabe ao consumidor entender o que é importante para ele no momento da compra e escolher. 

O mercado plant based tem uma diversidade interessante com opções para todos os gostos. Há produtos com menos gordura, por exemplo, e uma série de outros que são mais indulgentes, exatamente como no mercado de proteína animal. É a mesma lógica.

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