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Festival Afropunk aquece negócios locais com edição no Brasil

Evento americano estima atrair 40 mil pessoas a Salvador em novembro de 2020, na primeira vez no País; estimativa é girar até US$ 20 milhões diretamente, aos moldes da edição na África do Sul

Foto do author Thaís Ferraz
Por Thaís Ferraz
Atualização:

Especial para o Estado

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Com presença em quatro países–Estados Unidos, França, Inglaterra e África do Sul– o festival Afropunk chega ao Brasil em novembro de 2020 com a promessa de atrair um público de até 40 mil pessoas e impulsionar pequenos e médios negócios em Salvador, sede do evento. 

Destinado ao público negro e com apelo midiático e comercial, o festival identificou grande potencial no País. “Há uma forte conexão com a gênese do evento, uma vez que 20 milhões de pessoas no País se identificam como negras, e constatamos que o segundo maior público da nossa plataforma online é o brasileiro”, explica o fundador do Afropunk, Matthew Morgan, em entrevista ao Estadão PME.

Muito além de atrações musicais, o festival se constrói a partir de uma sólida relação com os ambientes cultural e de negócios dos locais onde se estabelece. No Brasil, afirma o fundador,os esforços serão direcionados a pequenos e médios negócios de empreendedores negros. “Até 40 mil pessoas, sendo 5 mil delas estrangeiras, passarão vários dias na cidade, gastando dinheiro em hotéis, restaurantes, no próprio festival e com vendedores independentes”, afirma.

Embora a organização do evento ainda não tenha finalizado o estudo de impacto do festival, Matthew acredita que a primeira edição no País deve atingir números próximos aos de Joanesburgo, na África do Sul, que chega ao terceiro ano no fim deste mês. Na sua última edição, o festival lá movimentou  US$ 20 milhões diretamente, e até US$ 50 milhões indiretamente. Gerou também 1.200 empregos diretos.

Matthew Morgan, fundador do Afropunk, acredita que o festival no Brasil terá forte adesão em pouco tempo,como aconteceu nos Estados Unidos Foto: James Benton

Para os próximos dois anos, os planos são mais ambiciosos.“Eu acredito que, em 24 meses, o festival brasileiro será tão grande quanto o do Brooklyn”, afirma Matthew. Na versão nova-iorquina, onde surgiu, o Afropunk reúne em média 70 mil pessoas por edição.

O Afropunk chega ao Brasil em um momento propício de expansão e fortalecimento do afroempreendedorismo, como são conhecidas as iniciativas de geração de negócios de e para negros. “Há 10 anos, o festival não teria tanto impacto, mas hoje a cena é muito maior. Os negócios negros cresceram muito”, afirma o empreendedor Paulo Rogerio, da aceleradora Vale do Dendê, responsável por trazer o Afropunk para o Brasil. “Esse é o melhor momento da história do afroempreendedorismo no Brasil e em Salvador.”

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Rogerio acredita que os negócios voltados ao turismo devem ser os maiores beneficiados com a chegada do festival. “Além dos turistas estrangeiros, há um público interno muito grande, que vem de São Paulo, Rio, Recife e Brasília”, afirma. “E o perfil de quem frequenta o festival não é o de turista que vem só para passar o fim de semana, mas que faz questão de interagir com o público local, fazer parcerias, ser voluntário em projetos. Isso impacta significativamente negócios locais.”

A aceleradora especializada em afroempreendedorismo, Vale do Dendê, de Salvador, é a responsável por trazer o Afropunk para o Brasil Foto: Everson Coutinho

Para ele, setores como moda, produção cultural e economia criativa também devem se fortalecer com a chegada do festival. Principalmente o último, diz. “Quem vem de fora tende a usar essas ferramentas, e já existem aplicativos que realizam, por exemplo, delivery em regiões periféricas ou oferecem pacotes de viagens voltados a uma experiência afro.”

Expectativa e preparação

Uma das startups de afroempreendedorismo que já se preparam para a demanda do festival é a Diáspora.Black. Com operações iniciadas em 2017, a plataforma é uma espécie de Airbnb que também oferece experiências e roteiros culturais para quem procura uma curadoria turística focada em cultura negra. As experiências vão de walking tours por centros históricos a visitações em quilombos.

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Um dos fundadores da plataforma, Antonio Pita afirma estar atento ao festival desde o ano passado. “Quando surgiram as primeiras conversas, vários empreendimentos levantaram as orelhas e começaram a fazer o dever de casa, para tentar entender o impacto que o festival poderia trazer”, explica.

Em parceria com outros empreendimentos de turismo negro, como a Black Bird, a Godiáspora e a Br.Afrika, a empresa prepara, desde já, pacotes de viagens exclusivos para o evento.

“Nós estamos sendo procurados por turistas desde o começo do ano, antes mesmo da confirmação da data do festival”, afirma. “Então mapeamos essa demanda e distribuímos entre esses parceiros, que têm propostas complementares.” Agora, a rede trabalha na definição de valores dos pacotes.

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Para além do afroempreendedorismo, pequenos e médios negócios tradicionais de Salvador também devem se beneficiar com a chegada do festival, afirma o secretário de Turismo da cidade, Claudio Tinoco. 

A cantora Karol Conkafoi uma das atrações dosshows que marcaramo lançamento do festival no País, ocorrido nos dias 19 e 20 de novembro Foto: Patricia Devoraes

De acordo com ele, estudos preliminares indicam que ao menos 80 hotéis – 20% da oferta de Salvador – e outros meios de hospedagem da cidade devem ser mobilizados para receber o público do festival. A prefeitura também espera que negócios situados em regiões históricas e boêmias, como o Pelourinho e o Rio Vermelho, se beneficiem diretamente de visitas do público do Afropunk.

Um consenso entre prefeitura e empreendedores é a expectativa de que o impacto econômico trazido pelo festival não ficará restrito aos dois dias de shows, 28 e 29 de novembro de 2020.

“O Afropunk tem um compromisso com o pré e o pós evento. Em todas as cidades, ele organiza ações que aquecem o público, como a batalha de bandas, e deixa um saldo positivo em termos de turismo, ao inserir as cidades em que acontece no imaginário das pessoas”, afirma Tinoco. “O desafio é fazer com que o festival não seja só uma experiência que venha de fora, mas que também incentive tudo o que temos na cidade”. 

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