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Feiras em praças e museus funcionam como marketplace a céu aberto

Eventos como Mercado Manual e Pop Plus ajudam a divulgar pequenos empreendedores e a incrementar as vendas virtuais; variedade de público e marcas é ponto positivo para PMEs

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Por Marina Dayrell
Atualização:

Bancas, expositores e vários produtos – de roupas e joias a tábuas de marcenaria e comida. Soma-se a eles a tecnologia de cartões de crédito e pagamentos online. O comércio por meio de feirinhas – modalidade de varejo muito anterior a shoppings e marketplaces digitais – passou a ser o cartão de visitas de marcas que não têm loja física, mas desejam ir além do virtual para se lançar no mercado e encontrar potenciais clientes.

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“O consumidor precisa tropeçar em você, essa é a máxima do varejo agora. A marca tem de estar onde quer que ele esteja, no momento que ele desejar”, destaca a professora Regiane Romano, do programa Trilha do Varejo da Fundação Dom Cabral.

Os números do mercado paulistano acompanham a lógica de Regiane. As cinco principais iniciativas mencionadas pelas feirantes entrevistadas – Mercado Manual, Jardim Secreto, Mercado das Madalenas, Pop Plus e Feira na Rosenbaum – levam, juntas e por edição, mais de 50 mil pessoas a tropeçar em seus 570 expositores, que perpassam vários nichos, como gastronomia, design, decoração, vestuário, joalheria e papelaria.

Estandes no Mercado das Madalenas, na edição de abril de 2019 realizada no gramado do Museu da Casa Brasileira, em São Paulo. Foto: Daniel Teixeira/Estadão

O sucesso das feirinhas é tão grande que mesmo lugares tradicionais da capital se transformaram em pátios para receber iniciativas, caso do Museu da Casa Brasileira (MCB), que desde 2015 passou a abrigar esse tipo de evento. Só em 2018, 13 projetos passaram pelo MCB, reunindo 700 expositores e atraindo mais de 67 mil pessoas.

O público também se espalha além de museus para espaços como praças e clubes, caso do Club Homs. Foi lá que a Clamarroca – marca de jeanswear focada em mulheres curvilíneas e gordas – deu seu pontapé inicial, em 2016, na Pop Plus, feira de moda plus size.

“Foi um super fôlego para jogar a marca para o mundo. Com as feiras, você chega a quem não é muito ativo nas redes sociais, não vai ser atingido por um e-mail marketing e não vai passar na porta da sua loja”, diz a fundadora da marca, Mariana Camargo. Ela conta que mesmo as edições que tiveram menos resultado financeiro acabaram atraindo novos clientes.

Logística

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Para chegar ao consumidor, os expositores precisam enfrentar questões que são próprias desse modelo de comércio: o carregamento dos produtos e o processo de montar e desmontar os estandes.

Criadora da Pão di Queijo da Mineira, a empreendedora Renata Goulart expõe há três anos e diz que, com a experiência, aprendeu que não vale a pena participar de feiras que não oferecem serviços de carregamento. “De tanto levar os produtos, eu travei a minha lombar e passei por um tratamento muito delicado. Então, hoje em dia, se não tem uma equipe para pegar o carrinho e levar os meus equipamentos para as barracas, eu não vou”, conta ela.

Renata Goulart, do Pão di Queijo da Mineira, vende os seus produtos apenas em feiras Foto: Daniel Teixeira/Estadão

Além das questões que atingem todos os expositores, preocupações específicas de cada negócio também fazem parte da rotina de quem expõe. No caso de Renata, para conseguir vender os pães de queijo, criados por seu pai, ela precisa de estrutura que suporte dois fornos de potência alta e um freezer.

“Neste mês eu participei de uma feira de rua pela primeira vez e tive prejuízo. Não tinha a potência correta para o meu equipamento e eu precisei desmontar o meu estande e ir embora”, aponta Renata.

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Renata defende que o valor pago às organizações – alto, segundo ela – precisa refletir as necessidades dos expositores. Em feirinhas da cidade, as taxas de participação vão de R$ 200 a R$ 2.000 e, além disso, muitos delas cobram também um porcentual sobre as vendas.

A cocriadora do Jardim Secreto – feira que leva 200 expositores e cerca de 10 mil visitantes para o bairro do Bexiga três vezes ao ano – Claudia Kievel conta que, quando o projeto nasceu, ela e a sócia, Gladys Tchoport, tinham dificuldade para entender as necessidades dos expositores, mas a questão foi minimizada ao longo dos seis anos de experiência.

“A gente faz o nosso trabalho, que é entregar uma estrutura com tenda, mesa, cadeira e um ponto de luz, além de ajudar a levar o público para o evento.” Por esse serviço, as taxas cobradas variam entre R$ 200 a R$ 300, sem valores extras. “Mas nos posicionamos contra projetos que cobram porcentagem sobre as vendas, pois elas são um trabalho 100% feito pelo produtor”, ressalta Claudia.

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Demanda alta leva negócio a abrir ponto fixo

Cartão de visita para novatos, o comércio entre estandes pode ser o caminho natural para as marcas migrarem para uma loja. Segundo a professora Regiane Romano, da Fundação Dom Cabral, a trajetória vai na contramão da tendência das grandes marcas reduzirem sua presença física. “Com a recessão, até empresas grandes estão repensando os seus modelos de negócio e diminuindo as suas lojas físicas, para não precisar ter um espaço grande e pagar aluguéis caríssimos”, destaca.

Mariana Camargo, da Clamarroca, marca dejeans plus size, usou as feirinhas para alavancar a marca. Foto: WERTHER SANTANA/ESTADÃO

No entanto, o crescimento de algumas marcas, aliado às especificidades dos produtos vendidos, acaba exigindo espaço fixo. Depois de quase três anos expondo pelo Brasil e com uma base de clientes consolidada, Mariana Camargo percebeu que seria mais efetivo para o modelo de negócio da Clamarroca focar em lojas online e física e fez a última participação da marca na Pop Plus em março.

“Foi por conta da demanda nas feiras que abrimos a loja. A nossa presença nelas foi deixando de fazer sentido pelo perrengue de montar o estande, já que a gente não consegue levar toda a nossa variedade de produtos. Por eles serem de jeans, são pesados”, conta. Levando em consideração que as clientes gostam de poder experimentar as roupas – o que descarta a possibilidade de existir apenas virtualmente –, ela mantém uma loja em Pinheiros desde 2016.

A necessidade de criar um estabelecimento próprio também apareceu para Mariana Gouveia, fundadora da marca de joias artesanais Iracema. Criada em 2014, a empresa conquistou o seu público com um modelo de negócios baseado em feiras e venda online, mas, hoje, diminuiu a participação em estandes para se dedicar a um ateliê na Bela Vista.

“Foi muito legal para as pessoas conhecerem o meu trabalho, mas no intervalo entre feiras as clientes querem ver outros produtos. Você precisa de um espaço para isso”, conta.

Mariana Gouveia,da marca Iracema, começou expondo nas feirinhas e percebeu que personalização do seu produto exigia um ateliê fixo. Foto: Naira Mattia/Rede Manual

Com a demanda de pedidos sob encomenda, o tempo que a artesã dedica à produção ficou mais curto e, entre uma venda consolidada e a incerteza de levar produtos para a feira, ela acabou optando por dar prioridade para o ateliê. “Na feira, as pessoas me perguntavam: ‘Você faz aliança?’, ‘faz um anel sob encomenda?’, ‘faz de outra cor?’ Isso foi deixando o meu trabalho cada vez mais focado em compras por demanda e encomenda”.

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Dicas para quem quer empreender nas feirinhas

AVALIE OS PERFIS Conheça o perfil e a estimativa do público da feira para estimar a quantidade e o tipo de produtos que vai levar.

GIRO DE PRODUTOS Com as vendas, analise quais itens de sua marca (por tipo, tamanho ou preço) giram melhor no espaço público.

FORA DO NICHO Estar em feira de outro segmento pode abrir público para sua marca.

FAÇA PARCERIAS Aproveite para conhecer marcas colaborativas, comuns em feiras.

USE A TECNOLOGIA Máquinas de cartão e aplicativos de gestão ajudam a impulsionar os negócios, mesmo os de pequeno porte.

PELAS FEIRAS

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FEIRA NA ROSENBAUM Criação: 2012 Onde: Unibes Cultural e Museu A Casa Valor para expor: de R$ 1.000 a R$ 2.000 + taxa variável Expositores: 55 Média de público: 12 mil pessoas Próxima edição: de 8 a 11/5, no Museu A Casa (Av. Pedroso de Morais, 1.216)

JARDIM SECRETO Criação: 2013 Onde: Praça Dom Orione, Bexiga Valor para expor: de R$ 200 a R$ 400 Expositores: 200 Média de público: 10 mil pessoas Próxima edição: junho (sem data definida)

MERCADO DAS MADALENAS Criação: 2012 Onde: edições fixas no Museu da Casa Brasileira e itinerante em versões menores Valor para expor: média de R$ 1.000 (a depender do local) + 20% sobre as vendas Expositores: 115 Média de público: 6 mil pessoas Próxima edição: junho (sem data definida)

MERCADO MANUAL Criação: 2013 Onde: itinerante Valor para expor: 20% sobre as vendas + taxa variável de acordo com a edição Expositores: 100 Média de público: de 8 mil a 40 mil Próximas edições: 4 e 5/5 no Museu da Casa Brasileira; 10 e 11/5, Morumbi Shopping

POP PLUS Criação: 2012 Onde: edições fixas no Club Homs e edições temáticas itinerantes Valor para expor: de R$ 720 a R$ 3.880 Expositores: 100 Média de público: 13 mil pessoas Próximas edições: 15 e 16/6 no Club Hom

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