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Feira da Madrugada quer mudar para sempre e esquecer problemas no passado

Espaço na região central de São Paulo pretende abandonar de vez a pecha de ‘templo’ da informalidade na cidade

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Por Renato Jakitas
Atualização:

Tão famosos pelo assédio de sacoleiros quanto pelo alto índice de informalidade, os comerciantes da Feira da Madrugada afirmam que enfim deram início a uma nova fase, agora marcada pela busca do profissionalismo e da atenção às demandas da Prefeitura, que vai fazer a gestão do espaço.

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Motivados pela reforma e a reestruturação que interditou o local por sete meses e consumiu R$ 20 milhões dos caixas do município, a ideia dos vendedores é transmitir uma imagem empreendedora à clientela, sem descuidar da manutenção dos atributos que garantiram a popularização do espaço ao longo desses nove anos: a oferta de produtos a preços baixos associada a uma agenda flexível de operação, das 2h ao meio-dia.

É claro que entre os designados a ocupar os 4 mil novos boxes erguidos em alvenaria, que substituíram as barracas de camelôs, há quem se diga descontente ou mesmo receoso quanto ao futuro. A reconquista da clientela, que durante a reforma aprendeu a buscar produtos em outros bolsões de comércio popular, é uma das preocupações dos comerciantes. Mas no ranking das queixas, as campeãs dizem respeito à redistribuição geográfica dos vendedores e, sobretudo, à lentidão por parte da Prefeitura em concluir a licitação da Feirinha.

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“Cerca da metade dos vendedores já pegou as chaves e está trabalhando. Mas a outra metade ainda espera pelo nome no Diário Oficial. Essa expectativa é o que gera a sensação de insatisfação, essa pressão”, afirma Ailton Vicente de Oliveira, presidente da Federação do Comércio Popular do Estado de São Paulo. A associação é uma das seis entidades representativas de comerciantes que operam no local, um dos resquícios da disputa política que notabilizou a Feira da Madrugada nesses últimos tempos.

“Eu na verdade nem durmo. Hoje mesmo eu fui para casa só para tomar banho e trocar de roupa”, lamenta Oliveira, instantes após vencer uma concentração de vendedores que o pressionavam por respostas quanto à posição de suas barracas na nova feira popular. “Querem saber porque estão nesse ponto e não naquele, quando vão poder retornar ao trabalho. É um momento particularmente difícil”, confessa.

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O comerciante José Bento é um dos que rondavam Oliveira em busca de explicações. Ele revende roupas na Feira da Madrugada desde sua fundação. Já teve uma marca, a Skamp, que precisou fechar por conta da concorrência com os asiáticos. “Não dá para competir. O custo de se fabricar é alto. Vou só vender mesmo”, diz ele, que acabou de receber o aval para voltar a trabalhar, não antes de fazer a customização do novo box. “As pessoas ficam preocupadas, querem notícias, saber da distribuição dos camelôs. Enquanto isso, aluguei um espaço no Pari. Preciso faturar.”

Alex Omar Cabral está entre os empreendedores que já voltaram à Feirinha. Há sete anos, Cabral bate ponto no local para vender os acessório para carros que ele mesmo fabrica. “Fazemos de capas para banco a protetores de volantes. Mas os negócios não estão bem. Os clientes ainda não voltaram”, conta. “Eu tirava R$ 1,2 mil por dia aqui e, agora, tenho feito uns R$ 200. O que nos anima é que tem essa cara de profissionalização, isso precisava.”

“Ficou mais bonito e também mais organizado, sem camelô irregular”, reforça Osvaldo de Jesus, dono de uma confecção em Ermelino Matarazzo e ocupante de um ponto na Feira da Madrugada desde o início do comércio, em 2005. “Ninguém gosta de dividir espaço com gente irregular. E a cliente também sente a diferença.”

:: Disputa entre classes representa um desafio para a prefeitura :: O gasto apurado até agora na reforma da nova Feira da Madrugada é de R$ 20 milhões. Mas o principal esforço da Prefeitura está só começando com a recondução dos vendedores ao local, agora com 4 mil boxes, e a promessa de que cada um deles deverá ocupar apenas um dos estandes disponíveis.

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A tarefa é dura e representa romper com a ingerência dos grupos estabelecidos no local, organizados por meio de entidades de classe. São no momento seis deles, segundo a própria Prefeitura. A situação fez Gilberto Kassab denunciar, quando deixava o cargo de prefeito, que “havia uma máfia no local”. Na ocasião, apesar de a gestão ser da Secretaria de Coordenação das Subprefeituras, quem mandava na feira era uma dessas associações.

Uma das estratégias a serem adotadas pela gestão de Fernando Haddad para garantir a organização no local é colocar em prática um antigo plano para estimular o turismo entre o Brás e o Bom Retiro. Orçada em R$ 250 milhões e apresentada em 2011 por Kassab, a ideia passa por investir em receptivos de compras e infraestrutura para o turista na região.

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