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Falta de fornecedor capacitado afeta setor de roupas plus size

Mercado e acadêmicos apontam que o segmento também enfrenta questões culturais que afetam seu crescimento

Por Letícia Ginak
Atualização:

O setor de moda plus size, majoritariamente composto por pequenas marcas, ganha cada vez mais profissionalismo no varejo, com e-commerces estruturados e que atendem todo o território nacional. No entanto, empresários apontam que uma das principais barreiras para o crescimento é a falta de fornecedores capacitados.

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Segundo dados do IBGE, mais de 50% da população brasileira está acima do peso. Com base em um “grupo de estudo” próprio, a Associação Brasil Plus Size diz que o mercado potencial é formado por 100 milhões de brasileiros e que pode movimentar R$ 7,1 bilhões. 

“O pequeno empreendedor não tem dinheiro para investir em uma fábrica grande como seu fornecedor ou ter suas próprias costureiras. Eu já passei por oito profissionais diferentes. Muitas pensam que fazer uma roupa plus size é apenas aumentar centímetros”, diz a criadora da GG.rie, marca carioca de lingerie, Aline Turano. No mercado há três anos, a GG.rie atende do tamanho 48 ao 60 e tem faturamento anual de R$ 80 mil.

Evento Pop Plus reúne marcas plus size na capital paulista. Foto: Robson Leandro 

Fundada há 15 anos em Porto Alegre, há seis anos a Chica Bolacha passou a também vender coleções dos tamanho 38 ao 60, depois de constatar que muitas pessoas com excesso de peso e aparentando bom poder aquisitivo entrarem na loja e nada comprar. “Percebi que entravam pessoas com excesso de peso na loja e saíam sem levar nada. E eram consumidoras que entendiam de moda e tinham dinheiro para comprar”, conta a sócia-fundadora da marca, Thayná Candido, sobre o motivo para a inclusão de tamanhos maiores.

A marca se intitula “all sizes”, pois cria coleções para todos os tipos de corpos, e faturou R$ 2,5 milhões em 2017, de acordo com a sócia-fundadora, Thayná Candido. Para ela, o sucesso do empreendimento se deve à visão de moda inclusiva. “Não fazemos roupas para gordas, vestimos mulheres. Pensamos em tecidos e modelagens que funcionam para todas."

Sobre o crescimento do mercado, a empresária enxerga preconceito e resistência do setor. “Muitos acham que roupa plus size é entregar à cliente, por exemplo, um vestido preto largo. As roupas devem ter o mesmo estilo e seguir as tendências de moda”, diz.

A criadora da feira paulistana Pop Plus, Flávia Durante, diz que o problema é estrutural. O negócio foi um dos primeiros a reunir empresas do setor. “Falta know how para as oficinas e modelistas, por exemplo. Há preconceito e muitos profissionais não têm vontade de aprender a fazer roupas para tamanhos maiores.” 

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Em sua última edição (a primeira foi em 2012), no início de março, o evento reuniu 69 marcas de moda feminina, masculina, praia, lingerie e acessórios e atraiu 12 mil pessoas. 

O professor do mestrado profissional em comportamento do consumidor da ESPM, Mateus Ponchio, concorda que o setor esbarra em questões culturais que atrasam o crescimento. “E também há a questão de o cliente sentir vergonha de assumir que veste uma roupa deste modelo.”

O gerente executivo de Desenvolvimento de Médias Empresas da Fundação Dom Cabral, Ricardo Langanke, acredita ser fundamental as marcas se aproximarem dos fornecedores. “Trazê-los para perto faz com que eles entendam as necessidades e possam se preparar para executá-las. Além disso, é possível acompanhar a movimentação deles para que o empresário não seja surpreendido lá na frente.”

Aline considera que o mercado tem um “potencial enorme”. “O nicho que explodiu foi o da venda. Agora, é preciso profissionalizar a criação, confecção e a oferta de tecidos”, diz Aline.

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Flávia ainda destaca que a moda plus size está restrita a uma parcela pequena da população. “O mercado cresceu pra quem tem poder aquisitivo maior, é bem informado e tem acesso a e-commerce. Se o consumidor for em qualquer esquina ou shopping, ele ainda não vai encontrar essas peças. O que pode modificar essa realidade é mudar o pensamento desde a indústria”, diz.

Ensino. Existem alguns cursos técnicos e de educação superior que incluem a criação, o desenho de moldes e a confecção de peças plus size. “Hoje, nossos alunos já chegam com um olhar diferente e mais inclusivo sobre a moda. Discutimos que o modelo P, M e G não dá conta de atender a diversidade de corpos”, diz a coordenadora do curso Design de Moda da Universidade Anhembi Morumbi, Eloize Navalon.

“Falamos com nossos alunos sobre o plus size desde o início do curso até o fim. Explicamos que é diferente fazer uma roupa que sirva do que fazer uma peça em que se sinta bem. A pessoa acima do peso não quer usar apenas roupa preta porque determinou-se que precisa ser assim”, diz o professor do curso de Design de Moda - Estilismo do Centro Universitário Senac Santo Amaro, Lázaro Eli.

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A Escola de Moda Profissional, EMP, que oferece cursos de modelagem, costura, desenho e estilo, também aborda técnicas específicas para a criação e confecção de peças plus size. “Trabalhamos com tabelas de moldes que contemplam os tamanhos maiores. Ensinamos para as alunas as particularidades desse tipo de peça e a importância de incluir todos os tipos de corpos”, conta a coordenadora do EMP, Bruna Martins Pinto.

Em janeiro deste ano, uma das unidades da Escola SENAI na capital paulista ofereceu pela primeira vez o curso de formação em Modelagem Industrial Plus Size Feminina.

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