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Como fábrica de móveis partiu do boom de sofás para a exportação

Criada para atender 'novidadeiros' de sites como Mobly, a Mundo Móveis planeja faturar R$ 46 milhões neste ano e busca o exterior; Brasil é o sexto maior produtor de mobiliário do mundo

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Foto do author Talita Nascimento
Por Talita Nascimento
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A plataforma de venda de móveis Mobly tinha um problema que o empreendedor Hugo Batista aceitou resolver: os consumidores digitais têm muito mais sede por novidades do que a indústria moveleira nacional é capaz de atender. Com dois funcionários num espaço de 75 m², a ideia da Mundo Móveis era desenvolver dois produtos por mês, com 40 peças de cada produto, para atender plataformas de comércio eletrônico como a Mobly. Aqueles móveis que fizessem sucesso passariam a ser produzidos em uma "fábrica de verdade". Uma meta ambiciosa, já que a indústria tradicional faz três a quatro lançamentos por ano.

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Só que houve um problema: sucesso inesperado no projeto. "De cara, um deles explodiu de vender: o living (sofá)", diz Batista, que tinha trabalhado como vendedor da indústria de móveis para o varejo. Com 211 sofás encomendados para dali a 30 dias, ele não encontrou um fornecedor que aceitasse produzir sua linha. Teve de contratar mais funcionários e mudar para um espaço de 275 m². A demanda continuou a subir: no terceiro mês, eram 430 encomendas e a companhia foi dobrando os pedidos mês a mês.

A companhia só conseguiu ultrapassar os perrengues iniciais e atingir as 21 mil peças produzidas por mês (em 43 mil m² de área de fábrica) graças à entrada de um sócio estratégico: o engenheiro Diego Gewehr, primo de Batista. Ele implementou processos e sistemas mais profissionais no negócio. No primeiro mês, a empresa conseguiu entregar no prazo só cerca de metade das encomendas.

Com as dificuldades equalizadas na fabricação de estofados "white label" - que levam a marca de quem os encomenda -, a Mundo Móveis faturou R$ 34 milhões em 2021, com crescimento de 43% em relação ao ano anterior. Em 2022, planeja faturar R$ 46 milhões, em uma perspectiva conservadora. Com 98% de sua produção indo para a Mobly, a companhia busca agora investidores para ganhar escala, além de prospectar clientes para exportar suas criações.

Os sócios da Mundo Móveis Diego Gewehr (à esq.) e seu primo Hugo Batista. Foto: Divulgação

O sócio da consultoria especializada em varejo Mixxer Eugênio Foganholo diz que a indústria de móveis brasileira é, de fato, lenta para colocar lançamentos no mercado e que a vantagem de empresas como a Mundo Móveis é o fato de já terem nascido orientadas pela lógica de consumo do cliente digital, que exige novidades. No entanto, depender de um único comprador - como ela é da Mobly - é um ponto fraco do negócio, em sua visão.

"Não tínhamos diversificado no Brasil porque tínhamos demanda crescente na Mobly e, em paralelo, havia o ramp up (aumento) de produção", diz Batista. "Em 2020 conseguimos equilibrar a situação, mas veio a pandemia (que trouxe nova alta de demanda). Neste ano, começamos a diversificação nacional e internacional. Estamos montando equipe comercial e representantes pelo Brasil, além de pensarmos em adquirir uma empresa já com clientes pulverizados."

Escritórios no mundo

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A Mundo Móveis agora faz parte de uma iniciativa da Associação Brasileira das Indústrias do Mobiliário (Abimóvel) chamada Brazilian Furniture (mobília brasileira, em tradução livre). Apoiada pelo Ministério das Relações Exteriores, a iniciativa busca fazer pontes entre 175 indústrias nacionais e clientes estrangeiros, por meio de feiras e missões comerciais.

De acordo com a organização dessa ação, o Brasil é o sexto maior produtor de móveis do mundo e o 27º maior exportador da categoria. Estados Unidos, Reino Unido, Uruguai e Chile são os maiores compradores da ainda tímida exportação brasileira no setor, que somou US$ 626 milhões em 2021.

Nessa nova empreitada, a Mundo Móveis já abriu escritório nos Estados Unidos e na Inglaterra, além de ter representantes pelo Mercosul e na África. Em meio aos contatos para a internacionalização, a empresa ainda encontrou uma demanda europeia por móveis sustentáveis e está desenvolvendo uma linha para atendê-la. Nesta semana, aliás, a dupla de sócios está em Nova York para apresentá-la a potenciais compradores.

Parte da ideia veio da dificuldade de conseguir matéria prima, que a companhia enfrentou na pandemia. Na falta do fornecedor de espuma, por exemplo, a empresa encontrou um fabricante de espuma feita de material reciclado.

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Foganholo diz que atentar-se para as questões sustentáveis é fundamental para exportar para o público europeu, que exige certificações dos materiais utilizados.

Para adquirir novos maquinários e dar suporte ao crescimento que a companhia quer alcançar, a Mundo Móveis agora busca investidores. A empresa quer vender cerca de 30% do negócio, para que os sócios atuais continuem na gestão. Prestes a começar seu "road show" (circuito de visitas a investidores), a empresa fazia no fim de abril os últimos ajustes no seu material de apresentação. Como nunca haviam vendido participação em uma empresa antes, os fundadores tiveram de buscar assistência profissional para descobrir quanto a empresa valia. Foi avaliada em R$ 189 milhões.

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