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ESG também é pauta em pequena empresa com foco em impacto

Negócios pequenos que atendem grandes companhias ou buscam investimento devem se alinhar a princípios socioambientais e de governança; veja como implementar

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Por Ludimila Honorato
Atualização:

Muito se tem falado sobre boas práticas ambientais, sociais e de governança corporativa, agregadas na sigla em inglês ESG, mas as ações estão longe de ser algo novo e exclusivo das grandes companhias. Micro, pequenas e médias empresas também podem e devem se inserir nesse movimento se vislumbram crescimento, notoriedade e impacto positivo.

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Juliana Bernardo, advogada e consultora em ESG, explica que grandes organizações listadas em Bolsa de Valores têm demanda mais forte por esses princípios, pois eles influenciam nos investimentos. Aos empreendimentos de menor porte, soluções simples como evitar o desperdício de materiais já contam favoravelmente.

Na Mostarda, agência de criação e desenvolvimento de eventos, o uso de copos descartáveis foi abolido há seis anos em projetos autorais. Essa e outras medidas passaram a ser propostas aos clientes, o que tem servido de referência para a empresa carioca ser procurada para novos trabalhos. "É possível as coisas caminharem lado a lado, não é a parte comercial em detrimento do social e da sustentabilidade", diz o sócio-fundador Caio Barreto.

Tendo empresas como Grupo Globo e Ipiranga no portfólio, ele entende que o ESG fará cada vez mais parte dos pequenos negócios que atendem grandes organizações, porque elas já estão preocupadas com o tema e querem fornecedores alinhados à pauta. "Há seis anos, não usar copo descartável era super diferenciado. Daqui a pouco, vai ser uma exigência do cliente e do consumidor."

Antes que o termo ESG fosse mais difundido, os sócios Caio Barreto (dir.) e Helvio Lima, da agência Mostarda, já implementavam ações pautadas em princípios de sustentabilidade. Foto: Wilton Junior/Estadão

Juliana aponta alguns benefícios de adotar práticas que se alinham com a agenda sustentável. "As pessoas não compram só o produto, mas a ideia. Com essas mudanças, a reputação da empresa começa a melhorar, agrega valor, além de ser uma divulgação."

Para os pequenos negócios que buscam captar investimento ou passam por aceleração, essas ações têm ainda mais relevância. "Uma gestora de ativos não coloca só dinheiro na empresa, ela faz análise de governança. Um investidor anjo que quer aportar, sabendo que existe mudança no mercado de capitais, vai olhar para esse aspecto do ESG", diz.

Impacto do ESG em avaliações de mercado

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Rodrigo Cabernite, CEO da GYRA+, sabe bem disso. A fintech capta dinheiro no mercado de capitais por meio da emissão de títulos para, depois, oferecê-lo como crédito a pequenas e médias empresas. Das cinco mil beneficiadas, 94,8% têm até dez funcionários, 39,1% são lideradas por mulheres e 14,8% por pessoas negras, o que foi avaliado por uma organização independente como um trabalho de impacto social.

O parecer da Sitawi Finanças do Bem, contratada para fazer a averiguação, contribui para destacar a startup no mercado, que recebeu a avaliação em outubro do ano passado. "Com isso, a gente consegue acessar investidores que se preocupam também com ESG", diz Cabernite. "Do outro lado, trabalhamos com base em dados e conseguimos medir com muita precisão o que as empresas estão fazendo com o dinheiro, quanto vai para empresa com liderança negra, feminina, pessoas acima de 65 anos, empresas situadas em municípios com IDH baixo."

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O empresário diz que também orienta as PMEs sobre boas práticas de ESG e acredita que, no mercado de capitais, a tendência é a pauta avançar. "Certeza que, daqui uns anos, só vai conseguir captar a empresa que declare o que vai fazer com o recurso e se vai ter impacto positivo. É uma transformação que demora um pouco, mas vai se tornar realidade."

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Como fazer na pequena empresa

Caio Barreto diz que o principal desafio na hora de se alinhar à pauta é a gestão do tempo. "Existem muitas questões a serem resolvidas, burocráticas, mas quando se vira a chave de que o tempo que se está investindo é bom para o negócio, isso muda." 

Para Gabriela Ferolla, diretora executiva da Seall, startup que auxilia empresas na gestão de impacto socioambiental e econômico, a barreira está em materializar os indicadores. “O desafio é entender o que é relevante para a organização e os stakeholders, não só a visão de quais indicadores, mas quais selecionar a partir dos protocolos de mercado que a empresa quer ascender”, ela comenta.

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Juliana Bernardo também fala da importância de ter parâmetros de ESG como guias. “Um deles são os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU, com metas atreladas a cada um e o que dá para fazer. Tem o ISE, da B3, com aspectos que uma pequena empresa pode não se adequar, mas é um caminho", cita.

Caso o empreendedor perceba inviabilidade para adotar alguma ação ou que tenha práticas que não estão contempladas nos indicadores, vale estruturar as iniciativas e fazer uma divulgação específica, seja no site ou nas redes sociais do empreendimento. Caio Barreto faz isso na Mostarda e entende que não se trata de uma simples autopromoção, mas uma forma de inspirar outras pessoas e empresas.

A agência segue o Women’s Empowerment Principles e a Coalizão Empresarial para Equidade Racial e de Gênero do Instituto Ethos. Além disso, parcerias com ONGs ajudam a implementar outros pilares do ESG, como contratar pessoas com deficiência para atuar em projetos e calcular a pegada de carbono de um evento, que será compensada com o plantio de árvores. Internamente, Barreto diz prezar pela equidade salarial, ter equipe majoritariamente feminina e ser transparente com clientes e fornecedores, apresentando planilha de custo detalhada.

Confira ações para cada pilar do ESG

  • Ambiental: fazer reciclagem na cadeia produtiva, utilizar recursos sustentáveis como madeira de reflorestamento, não usar copos descartáveis, reduzir ou eliminar a impressão de papéis, fazer armazenamento em nuvem
  • Social: histórico limpo de processos judiciais referentes a funcionários, estar alinhado com a Lei Geral de Proteção de Dados, promover diversidade e inclusão no quadro de funcionários, ter projetos voltados à comunidade externa
  • Governança: boas práticas de gestão, transparência na apresentação do balanço anual, dizer a verdade sobre os rumos da empresa para funcionários, clientes e consumidores

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