O freio aplicado pelo governo federal na economia visa equilibrar as contas públicas e recuperar a credibilidade do País no cenário internacional. Com menos dinheiro e crédito e uma carga tributária maior, o consumidor das classes C e D, que nos últimos anos movimentou o consumo interno, já se vê com um poder de compra menor. Para entender os impactos disso na vida do empresário, o Estadão PME conversou com Luciana Aguiar, da Plano CDE. Leia abaixo alguns trechos.
Como é que a crise chegou nas classes C e D? Quando você fala de classe C, só 52% das famílias têm empregos formais. Então, são famílias que estão acostumadas a trabalhar com uma renda que oscila. Nos últimos anos, a família de classe C comprometeu boa parte da renda com despesas fixas de longo prazo, como a prestação da casa própria ou a escola particular do filho. E o desafio hoje está na ordem de prioridade do consumidor: o que ele vai definir como sendo mais importante e o que ele vai destacar da cesta de compras.
Existem segmentos de consumo mais ameaçados que outros? Existem. Você não tem a prática de prevenção em saúde, por exemplo, nem mesmo da educação privada. Por isso, quando você não está sendo atendido pelo Sistema Único de Saúde (SUS) ou pela escola pública, a tendência é você voltar para esse universo de alguma maneira. Tirar algumas despesas que você começou a acessar. Em alimentos, olhando muito mais para as categorias novas que chegaram dentro dessa casa, que são mais fáceis de ficar sem ela: refeições prontas, molhos prontos, iogurte, leite fermentado, que são essas indulgências que entram na alimentação. A tendência é você cortar onde os hábitos não estão totalmente enraizados ainda.
O que o empresário que apontou seu negócio para esse perfil de cliente pode fazer? Essa construção de marca para a classe média é fundamental. Muitas vezes as empresas estabelecem uma relação altamente utilitária com o cliente. Visam única e exclusivamente o foco em preço. Preço é importante, mas é um dos elementos na equação do racional de compra. As marcas que conseguem mostrar que estabelecem uma boa relação custo-benefício e que conseguiram se comunicar com esse público de uma maneira sucinta, elas continuam fazendo parte desse rol de marcas prioritárias.