Empresas de formaturas já sentem a crise

Negócios do segmento criam estratégias para frear a atual escalada da inadimplência nos contratos assinado

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Por Vivian Codogno
Atualização:

O empresário Rachid Sader, que administra a Ás Formaturas há 12 anos, não quer envelhecer. Afinal, é preciso pique para acompanhar seu cliente, que mantém sempre a mesma faixa etária próxima da casa dos vinte anos. A cada ano, ele fecha pelo menos 10 mil contratos de formandos, com os quais já chegou a faturar R$ 40 milhões. O negócio de Sader tem, historicamente, um público que não abre mão do principal produto vendido pela Ás: a festa de formatura. 

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No último ano, porém, o segmento identificou nas taxas crescentes de inadimplência dos contratos um reflexo da retração econômica que até então não atingia o negócio. 

As formaturas representaram 9% do total de festas realizadas no país em 2015 e se somaram aos R$ 16,8 bilhões que os eventos deste tipo movimentaram no Brasil. De acordo com a Associação Brasileira de Eventos (Abrafesta), o faturamento do segmento, como um todo, deve diminuir em até 6% até o fim deste ano. E a dificuldade com os pagamentos deve colaborar para essa queda. O presidente da associação, Ricardo Dias, ainda não consegue mensurar o momento em números, mas garante que o mercado aponta para esse caminho. “Eu vejo que os associados estão com dificuldade de recebimento. As pessoas negociam tanto valor quanto prazo, querem pagar lá na frente”, define Dias. 

O presidente analisa que essa é a primeira grande crise no segmento em 22 anos, desde que ele acompanha de perto o mercado. Para ele, a demora na recuperação da economia reflete no baixo crescimento do mercado de festas e eventos em geral. “Eu nunca vi um movimento tão agressivo. Temos uma curva decrescente desde o segundo semestre do ano passado”, conta. 

No caso de Rachid, as falhas de pagamento saltaram de 0,5% dos contratos para 4% no último ano, índice que assusta o empresário. Para remediar a situação, ele busca fidelizar os contratos mais caros, que chegam a custar até R$ 20 mil por aluno. “É um índice pequeno em termos de negócio, mas pesa para um mercado que opera com uma margem tão apertada”, explica o empreendedor.

Os entraves da crise aparecem também na precificação dos pacotes. Por serem contratos fechados com até três anos de antecedência da data da festa, a variação de valor precisa ser prevista e a inflação de 10,67% também surpreendeu os empresários. “O cliente paga 70% da festa antes de ela acontecer. É um desafio preservar a margem e ser competitivo”, reflete Rachid, que comanda uma tropa de 160 funcionários.

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Na Cartoon Formaturas, a saída para lidar com a alta de 20% na inadimplência foi investir na venda de álbuns. Eles recebem agora um tratamento mais luxuoso, o que eleva o preço do produto para até R$ 5 mil. 

A ideia, com a estratégia, é manter em 2016 o faturamento de R$ 25 milhões. “Há uma mudança de comportamento econômico e, com isso, eu preciso me reinventar”, explica Ademar Pereira Barros, presidente da empresa. Há 40 anos neste mercado, pela primeira vez Barros vê necessidade de alterar pacotes e negociar prazos pela dificuldade em fechar contratos.Para barrar a inadimplência, a Vibe Formaturas optou por não permitir contratos que se prolonguem além da data da festa. Mesmo assim, o departamento financeiro da empresa precisou reforçar as cobranças no ano passado, cenário que se repete este ano. 

“Os formandos deixaram muitas parcelas acumularem. Não é algo que costuma acontecer. Houve também quebra de contrato com quatro formaturas no ano passado. Um ano atípico”, relata a sócia-fundadora da Vibe Carla Melo. Ela tem um tíquete médio no empreendimento de R$ 2,5 mil por formando.

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