Um levantamento que acaba de ser divulgado pela startup ContaAzul, que opera sistema de gestão online, oferece uma perspectiva do impacto da atual recessão nas finanças das pequenas empresas brasileiras. Segundo a pesquisa, que leva em conta um universo de 1.183 empreendimentos, em dois anos houve uma queda de 80.51% no fluxo de caixa acumulado desses negócios, que na média era de R$ 85.057 em 2014 e despencou para R$ 16.572 em 2016.
O fluxo de caixa é o dinheiro empregado para quitar as dívidas de curto prazo das empresas, tais como impostos, salário de funcionários e fornecedores. No estudo da ContaAzul, o valor refere-se ao total acumulado nos primeiros dez meses do ano. A queda é ainda mais significativa ante o fato de que, no Brasil, poucos pequenos empresários recorrem ao crédito bancário para arcar com seus compromissos.
Um estudo do Sebrae e do Banco Central indicou que apenas 17% deles recorreram ao sistema financeiro em busca de financiamento no primeiro semestre do ano passado. De acordo com o mesmo levantamento, muitos pequenos empreendedores sequer cogitam essa possibilidade por conta principalmente das taxas de juros cobradas, em média de 4,5% ao mês, e da falta de garantias oferecidas como contrapartidas.
As dificuldades das pequenas empresas na gestão do fluxo de caixa é apontada como uma das principais razões para um final de ano complicado. De acordo com o levantamento, 74,9% dos entrevistados conseguiram honrar seus compromissos, mas com dificuldades. Já 14,6% dos entrevistados sequer conseguiram pagar suas contas. A queda nas vendas surgiu como o outro fator: 56,2% dos entrevistados disseram acreditar que a área de Vendas foi a mais afetada pela crise.
Se a questão do fluxo de caixa é preocupante, outros dados levantados pela ContaAzul ajudam a completar um cenário negativo. O pequeno empresário brasileiro está mais pessimista sobre a recuperação da economia brasileira. Segundo o levantamento, realizado entre outubro e dezembro do ano passado, 52,3% dos empresários acreditavam na recuperação econômica para 2017, contra 61,2% do apurado no trimestre anterior. A parcela que espera por um piora ficou em 9,8% no final do ano passado, enquanto anteriormente o número havia sido de 4,8%.
A expectativa de crescimento dos próprios negócios também fechou em queda. Se, em setembro do ano passado, 49% dos entrevistados apostavam que suas empresas cresceriam no trimestre seguinte ao da pesquisa, no último estudo o índice ficou em 47,6%. Outro dado ilustrativo da falta de confiança é o de percentual de empresas que apostam na redução das vendas, que saiu de 8% no terceiro trimestre para 10,7% no quarto.
Mercado. Apesar da pouca esperança em um cenário melhor nos próximos meses, 87% dos entrevistados disseram apostar que, para os segmentos nos quais atuam, o começo de ano não será tão ruim. Outro número, embora modesto, que vai na contramão do pessimismo é o de empresas que esperavam fechar as portas no início de 2017: 1,3%, contra 2% anteriormente.
Já os dados relacionados com contratações e demissões mudou significaticamente. O estudo indica que 31,1% dos empresários pretendiam contratar no começo deste ano, e 14,4%esperavam demitir. A diferença entre os dois grupos, de 16,7% em favor das admissões,é bem maior que o registrado em setembro, de apenas 0,8%.