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Empresário chega a comprar sete caixas d´água com medo da seca

Professor da Unicamp alerta para situação séria e acredita em demissões

Por Gisele Tamamar
Atualização:

A crise hídrica tem tirado o sono de muitos pequenos empresários que dependem do fornecimento de água para o estabelecimento funcionar. Os mais precavidos já construíram os empreendimentos para não depender apenas do abastecimento da rede distribuidora ou pensaram em formas para amenizar os problemas gerados pela falta de água.

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É o caso do proprietário da pizzaria Jullia, Wilson Capellini. No meio do ano passado, preocupado com a situação, ele comprou mais sete caixas d´água de 500 litros cada, que estão acomodadas no porão da pizzaria localizada em Santana. Ele tinha apenas duas. Agora, consegue manter um "estoque" de 4,5 mil litros.

Ele resolveu comprar as caixas quando viu as fotos das represas secas. "Dava até um frio na barriga. Se eu não tivesse feito isso tinha fechado vários dias", conta. Segundo Capellini, entre 19h e 20h para de entrar água na caixa e ele precisa contar com o estoque. Ele acredita que a pizzaria consegue funcionar três dias sem depender do abastecimento de água. Mas se ocorrer um racionamento maior, ele terá que recorrer aos caminhões-pipa. A possibilidade de não abrir a pizzaria atormenta o empresário. "Estou perdendo meu sono", relata.

De acordo com o professor do Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Miguel Juan Bacic, a situação de falta de água é extremamente seria e afeta todo o tecido social e produtivo de uma forma muito profunda. Por exemplo, uma lavanderia pode ter um poço artesiano e aparentemente estar protegida da crise.

No entanto, o professor explica que como outras empresas podem parar de produzir pela falta de água e demitir em massa, uma crise social se estende para a esfera pública. Uma menor arrecadação de impostos reflete no não pagamento da folha, que passa a ser contingenciada/limitada/reduzida. Isso reduz o poder de compra da população e reflete em queda nas vendas da lavanderia.

Bacic pontua que é difícil saber qual o impacto da falta de água no Produto Interno Bruto (PIB). "Porém será muito expressivo dado que é elemento fundamental dos processos produtivos industriais e agrícolas, sem dizer que o setor de serviços também depende dela para operar. Temos um cenário de profunda incerteza e somente o tempo dirá qual a capacidade de adaptação e resiliência das cadeias produtivas e das empresas", afirma.

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O professor destaca que a situação é muito séria e que demissões são quase certas. "O fechamento de um número maior de pequenas empresas do que seria um valor normal é altamente provável", opina. Confira outros casos de empresas:

:: Pet shop não descarta demissões se a situação piorar ::

Localizado na Vila Clementino, o Cão&Cia Pet Shop e Clínica Veterinária sofre há aproximadamente quatro meses com a falta de água todos os dias de manhã. Para enfrentar a situação, o veterinário Ricardo Miatto realizou uma reforma no local, instalou uma nova caixa d´água, reaproveita a água do banho para lavar a frente da loja e na descarga.

Atualmente, o serviço de banho e tosa representa 25% do faturamento. Em média, o local realiza 700 banhos por mês. Caso a situação piore, Miatto cogita instalar um poço artesiano, se for possível, e deixar a água tratada para o banho e tosa, o que impactaria no custo do serviço. Mas caso não consiga fazer a instalação, o cenário é desanimador: diminuir a quantidade de banhos, o que acarretaria em demissão de funcionários.

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:: Empresário depende de caminhões-pipa ::

O restaurante La Cucina Piemontese está localizado em Alphaville, em um condomínio que não chega água da Sabesp. Desde que abriu, em dezembro de 2013, o proprietário Leandro Polack depende de caminhões-pipa. Em um ano, seu gasto com água já aumentou 50% - hoje ele paga cerca de R$ 500 por mês.

"Está mais complicado conseguir caminhão. Antes, a gente pedia e ele vinha. Agora, já agendamos mensalmente para não ter o problema de ficar sem água", conta Polack, que já passou pela situação no começo do ano. "A caixa conseguiu segurar durante o dia. Os clientes não perceberam, mas os problemas vieram depois porque não conseguimos lavar as coisas", lembra.

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:: Lavanderia adia plano de expansão por franquias :: 

Antes de abrir a lavanderia Wash&Go, há um ano e meio, o casal Selma e Vagner Jorge, planejou a capacidade de armazenamento de água como uma forma de ter mais autonomia. O negócio tem capacidade para funcionar até oito dias sem abastecimento. A lavanderia, localizada em Perdizes, oferece o serviço tradicional e também o esquema em que o cliente lava a própria roupa, além de trabalhar com máquinas que economizam até 40% de água em comparação com as máquinas domésticas.

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Segundo Vagner, o bairro sofre desde agosto com a restrição de água e já chegou a ficar dois dias sem abastecimento. O empresário ainda tem uma outra preocupação: o impacto na conta de energia. "Diante desse cenário me vejo mais cauteloso. A Wash&Go foi criada com a intenção de abrir franquias, mas hoje vemos um cenário que assusta qualquer um", lamenta.

:: Academia foi criada com conceito sustentável ::

A preocupação inicial com a sustentabilidade dos irmãos Antonio e Eduardo Gandra ao abrirem a academia Ecofit em 2005 os deixam em uma situação "mais tranquila" em relação à crise da água. Desde o início a academia realiza captação da água da chuva, que é utilizada nas descargas e lavagem das áreas externas. O negócio também aproveita a água do ar-condicionado e da retrolavagem dos filtros da piscina, além de contar com um poço artesiano.

O local também faz campanhas educativas para economia nos banhos, utiliza duchas econômicas, torneiras com redutores de consumo e fez uma campanha: o porcentual da economia na conta de água dava o mesmo desconto no valor da matrícula. "Estamos estudando a viabilidade de aproveitar a água do banho", conta Antonio. "O poço artesiano me dá uma certa tranquilidade. Mas essa situação para o setor pode levar ao fechamento de negócios. Dependemos muito da água", diz.

:: Rede de academias investe em temporizador para o banho e economiza 50%::

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A rede de academias Dandy tem cinco unidades instaladas na zona leste de São Paulo. E todas sofrem com a restrição de água. A unidade mais afetada é a do Jardim popular. Às 14h a água acaba e a unidade continua funcionando com o que sobra nas caixas. No começo do ano, a unidade chegou a ficar dois dias sem abastecimento.

"Tomamos medidas preventivas, compramos mais reservatórios e instalamos temporizadores nos chuveiros. Isso diminuiu pela metade o volume de água gasta no banho", conta o gerente da rede, Mauricio Gomes Ruiz. Os gastos com mão de obra, temporizador e reservatórios foi em torno de R$ 40 mil. 

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