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Empreendedores pretos e periféricos recebem empurrão de gigantes

Mesmo em momento de alta de investimentos, negócios da periferia veem dificuldade para captar recursos; Google, BTG e Nubank lideram programas; conheça 7 iniciativas

Por Marcos Leandro
Atualização:

Os investimentos em startups brasileiras estão a todo vapor. Segundo dados da Distrito, de janeiro a setembro deste ano, essas empresas receberam cerca de US$ 6,9 bilhões - três vezes todo o investimento feito em 2020. No entanto, quando se olha para o quadro de fundadores e líderes desses negócios, a diversidade racial não é uma realidade, mesmo no País com a maior população negra fora do continente africano.

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“Há uma lacuna enorme no ecossistema de startups, em que empreendedores negros ainda enfrentam dificuldades muito maiores de acesso ao capital do que empreendedores brancos”, afirma André Barrence, diretor do Google for Startups Brasil. “Isso aparece, inclusive, quando olhamos para a própria comunidade do Google for Startups de São Paulo, em que temos cadastrados nove vezes mais fundadores de startups brancos do que negros, ao mesmo tempo em que não temos um único investidor cadastrado que se autodeclare negro.”

Não é por falta de empreendedores, uma vez que no Brasil cerca de 51% dos brasileiros que empreendem são pretos ou pardos, de acordo com estudo realizado pela PretaHub em parceria com a Plano CDE e o JP Morgan. Como forma de enfrentar essa disparidade, o Google for Startups criou o Black Founders Fund, um fundo de R$ 5 milhões destinados a negócios que tenham sido fundados por pelo menos uma pessoa parda ou preta. O valor que cada empresa recebe varia de acordo com a necessidade individual, mas nem o Google nem os selecionados falam dos valores (conheça outras iniciativas mais abaixo).

Entre as iniciativas que já receberam esse aporte está a Wolo TV, serviço de streaming focado em produzir conteúdos que representem a população negra brasileira. “Para mim, o Black Founders Fund é um dos programas mais importantes para a descentralização do sistema de startups”, diz Licínio Januário, fundador da Wolo TV. O empreendedor conta que há anos vem batendo nas portas de investidores e observa uma barreira contra os negócios de pessoas negras.

Licínio Januário, fundador da Wolo TV, que aumentou a contratação de pessoal depois de programa do Google. Foto: Amanda França

“O sistema quer deixar o dinheiro nas mãos de brancos e, consequentemente, transformar nós, pessoas pretas, em mão de obra barata.” A ruptura dessa realidade, segundo Licínio, traz benefícios para toda a sociedade, e o crescimento dessas empresas ajuda no combate à desigualdade. Com o dinheiro recebido pelo Google, a Wolo conseguiu aumentar a contratação, o que faz com que o dinheiro circule e ajude ainda mais pessoas, trazendo projeções positivas para o negócio. 

Iniciativa em São Paulo

Também existem ações que são promovidas pelo setor público, como é o caso do Vai Tec, programa de aceleração da Ade Sampa, agência vinculada à Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico e Trabalho da Prefeitura de São Paulo. A iniciativa é voltada para negócios das periferias da capital e um dos negócios acelerados recentemente foi o Fértil Imagens, banco de imagens com foco em diversidade preta criado pelos sócios Renato Lopes e Rodrigo Portela.

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“Quando você é uma pessoa preta, fazer captação de recursos acaba sendo muito difícil, desde a questão da sua aparência, que já traz uma certa desconfiança para aquele investidor”, conta Portela. O Fértil recebeu um investimento de R$ 34,2 mil, além de um suporte técnico que ajudou a impulsionar o negócio. 

“O dinheiro foi extremamente importante, mas as mentorias e a assessoria individual são tão importantes quanto esse aporte financeiro. Foi isso que fez com que nós colocássemos a ideia em prática.”

Um ponto destacado tanto por Licínio, da Wolo, como por Portela, do Fértil, é a importância dessas iniciativas não quererem alterar a identidade dos negócios, especialmente em startups que são voltadas para um público negro e/ou para a promoção de diversidade racial.

Elenco da produção Casa da Avó, da Wolo TV, focada em representatividade da população negra. Foto: Divulgação

“Nós entendemos que somos empresas dentro do mercado, mas também existem valores que estão agregados a essas marcas e entre eles está não compactuar com empresas investidoras que não criam oportunidades para pessoas pretas dentro do mercado”, afirma Renato. 

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Além do Google, o Nubank criou o programa Semente Preta, que investe em startups fundadas ou lideradas por pessoas negras. Outro banco que também apoia iniciativa semelhante é o BTG Pactual que, junto com a BlackRocks, promove o programa de aceleração Grow Startup. 

O Carrefour oferece consultoria técnica para empresas pretas e, a partir disso, fecha contratos de fornecimento para suas lojas. Para empreendedores periféricos, além do Vai Tec, existe também a Aceleradora de Negócios de Impacto da Periferia (Anip) e o Conecta+Brasil, do WhatsApp e CIEDS. 

Conheça as iniciativas para empreendedores negros

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Black Founders Fund (Google for Startups)Quem pode se inscrever: startups fundadas e lideradas por empreendedores negrosO que é oferecido: investimento financeiro com valor que varia de acordo com o tamanho e a necessidade de cada negócio, além de mentorias e créditos em produtos do GoogleStatus: por se tratar de um fundo, a seleção acontece enquanto ainda houver capital para investimentoContato: Instagram e LinkedIn

Estímulo ao Empreendedorismo Negro (Carrefour)Quem pode se inscrever: empreendedores que possuem ao menos 51% do capital societário originários de uma pessoa negraO que é oferecido: consultoria técnica, além de oportunidade dos empreendedores se tornarem fornecedores de produtos ou serviços ao CarrefourStatus: não há prazo de encerramento definido e o trabalho está sendo desenvolvido para ser permanenteContato: incubadoraGT8@carrefour.com

Grow Startup (BlackRocks e BTG Pactual)Quem pode se inscrever: startups que tenham no time fundador pelo menos uma pessoa preta ou pardaO que é oferecido: programa de aceleração com apresentação a banca de investidores e especialistas, além de créditos de US$ 5 mil em ferramentas e recursos da AmazonStatus: inscrições encerradas, mas as edições acontecem anualmente e a próxima, em 2022, está confirmadaContato: www.blackrocks.com.br

Semente Preta (Nubank)Quem pode se inscrever: startups brasileiras de base tecnológica fundadas e/ou lideradas por empreendedores negrosO que é oferecido: aporte de até R$ 1 milhão, que é dividido entre os negócios selecionados, além de mentorias e networkingStatus: inscrições encerradas, mas a empresa confirmou estar trabalhando para a abertura de uma nova ediçãoContato: sementepreta@nubank.com.br

Outros programas para empreendedores periféricos

Aceleradora de Negócios de Impacto da Periferia (Anip)Quem pode se inscrever: negócios criados nas periferias de todo o País, podendo ter edições direcionadas por localidade ou regiãoO que é oferecido: R$ 1.250 para todos os selecionados e um programa de aceleração por dois meses. Os destaques recebem um investimento-semente de R$ 15 mil e são acompanhados por mais seis mesesStatus: inscrições encerradas, com previsão de uma próxima edição no primeiro semestre de 2022Contato: contato@articuladoranip.com 

Conecta+Brasil (WhatsApp e CIEDS)Quem pode se inscrever: empreendedores periféricos de todo o BrasilO que é oferecido: capacitação para um uso do WhatsApp Business, além de treinamentos voltados para o desenvolvimento do negócioStatus: inscrições abertas até o dia 28/11Contato: conectamaisbrasil@cieds.org.br ou (21) 97175-1668 (WhatsApp)

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Vai Tec (Ade Sampa - Prefeitura de São Paulo)Quem pode se inscrever: negócios inovadores das periferias da cidade de São PauloO que é oferecido: investimento financeiro de R$ 35,7 mil, além de capacitações durante oito meses, mentorias em grupos, assessorias individuais e acesso a rede de contatosStatus: inscrições encerradas, mas com edições que acontecem anualmenteContato: contato@adesampa.com.br

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