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Empreendedores 'falham' duas vezes antes de ter sucesso no negócio

Pesquisa aponta que, em média, donos de pequenos negócios têm duas ideias mal sucedidas antes de apostar em uma que dá certo e 84% consideram que falhas ajudam a crescer

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Foto do author Ludimila Honorato
Por Ludimila Honorato
Atualização:

Natural de Minas Gerais, Isonel da Paixão Araújo, de 49 anos, se mudou para São Paulo na década de 90 já com a ideia de ter o próprio negócio. Começou a trabalhar como garçom e barman e, familiarizado com o setor, abriu um hortifruti em 1998. Ele acreditava que, por já atuar no meio, conhecer fornecedores e possíveis clientes, seria uma boa aposta. O negócio, porém, não fluiu como o esperado.

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“Quando você trabalha com produto alimentício, tem uma margem boa, mas também muita perda, porque são produtos perecíveis e isso me causava certa preocupação”, relata. A logística dos produtos não funcionou bem e o lucro que ele tinha era levado com os itens que estragavam.

Isonel fechou o negócio após um ano e meio e, refletindo hoje sobre o que ocorreu, avalia que não tinha preparo suficiente. O fato de não ter se dedicado 100% ao empreendimento (ele trabalhava como garçom), também influenciou negativamente. Persistente e buscando “algo a mais”, ele foi atraído para o setor de beleza por meio da irmã, que já tinha um salão.

Ali, a postura dele foi diferente, pois tinha aprendido com a experiência anterior. “Eu encarei de cabeça, apostei primeiro em mim para dar certo. Fiz cursos e estágio com minha irmã. Ela me orientou e indicou clientes.” Em 2000, ele abriu o próprio salão de cabeleireiro, que leva seu nome e está na mesma localização até hoje, na região do Jardim Paulista.

Isonel Araújo (centro) fez diferente no segundo negócio que abriu em São Paulo e viu o salão de beleza alavancar. Foto: Marcelo Chello/Estadão

Encarar o que deu errado como algo positivo é desafiador, mas empreendedores costumam persistir, ser inquietos e aprender com as experiências negativas. Segundo a Pesquisa Global de Empreendedorismo 2022, encomendada pela Herbalife Nutrition à OnePoll, os donos de negócio brasileiros têm, em média, duas ideias de empresa mal sucedidas antes de apostar em uma que dá certo. Além disso, 96% deles concordam, parcial ou totalmente, que erros são oportunidades de aprendizado, e 84% dizem que falhas ajudam a crescer.

A maioria dos 250 empresários ouvidos concorda que, para ter sucesso, não se pode ter medo de errar e está disposta a correr o risco de falhar a fim de ser bem sucedido. Eles também apontam o amadurecimento como fator de sucesso de um negócio. Quando tinha 24 anos, Wagner Alexandre abriu uma loja de assistência técnica para celulares que durou quatro meses. Ele teve outra empresa no mesmo segmento e depois uma hamburgueria. Entre os motivos para ter saído dos negócios, o curitibano lista falta de maturidade e destreza para trabalhar com sócios.

“No primeiro negócio, eu não tinha noção de estrutura de empresa, perspectiva de crescimento, visão de longo prazo. Jovem é imediatista e muitas vezes só enxerga o problema.  Às vezes, é preciso encarar como um desafio a ser superado, uma maneira de se desenvolver, criando planejamento para a situação”, diz, hoje com 34 anos.

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Ele considera que se tivesse estudado sobre empreendedorismo antes, teria evitado alguns percalços. No caso da hamburgueria, o negócio ia bem e até havia previsão de um segundo espaço, mas desencontros com o sócio levaram à dissolução. “Faltou maturidade de saber dedicar tempo necessário para cada empresa. Hoje, coma cabeça que tenho, penso que teria mantido os negócios antes.”

Depois da tempestade

Em 2017, Wagner decidiu abrir outra hamburgueria, desta vez sozinho, tendo em vista a bagagem anterior e aprendendo com os novos desafios. Hoje, a Pimp Burger tem duas unidades e vai iniciar a expansão por franquias, cuja formatação foi concluída no início de julho. O empresário aprendeu que é necessário formatar bem o contrato entre os sócios, definindo direitos e deveres de cada um, com funções bem descritas para não haver cobranças inadequadas no futuro.

“Fazer sociedade é algo muito complexo, e os conflitos são inerentes. É fundamental que os papéis de cada um estejam definidos, porque às vezes um tem perfil mais técnico, outro é comercial. É importante que tenham suas responsabilidades bem definidas e prestem contas”, diz o administrador Roberto Lange Rila, responsável pelos cursos de Gestão e Negócios do Senac EAD.

Depois de três negócios que não deram certo, Wagner Alexandre abriu aPimp Burger, que vai iniciar venda de franquias. Foto: Jayme Costa

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Wagner também percebeu que precisava mudar um pouco a postura: passou a ouvir mais sócios e funcionários, analisar melhor e com calma todos os pontos de um problema, estruturar as possíveis soluções e dividi-las com os responsáveis. Algo similar aparece na pesquisa: 36% dos empreendedores dizem que, com os erros passados, aprenderam a equilibrar a confiança na própria intuição com análise de dados.

Dar e receber feedback também foi apontado como um aprendizado por 24% deles. “Uma insatisfação não é motivo de discussão, mas ponto a ser alinhado. Tem de separar pessoal do profissional, conversar e entender que as melhores ideias não vão partir sempre de mim”, afirma o empresário.

Já Isonel, ao se dedicar completamente ao salão de beleza, viu o negócio prosperar, mas foram três anos entre abrir e o boom acontecer. Ele foi conquistando a clientela do entorno, principalmente funcionárias de edifícios comerciais e de escritórios da região. Foram elas que demandaram um serviço mais rápido e, assim, surgiu o modelo express, em que a cliente sai do salão em 30 minutos com unhas e cabelos feitos.

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Empresas também propuseram parceria com o empreendedor para dar vantagens especiais às colaboradoras, como um benefício. O cabeleireiro também investiu no público masculino e mantém duas barbearias próprias. Com a experiência, ele aprendeu e indica que se deve analisar bem o mercado em que se quer atuar, se preparar com capacitações e focar no trabalho bem feito. “O lucro não vem da noite para o dia, é uma consequência.”

“Sempre vamos aprender, no sucesso ou no fracasso, mas muitas vezes é com fracasso”, comenta o especialista do Senac EAD. Ele diz que a falta de planejamento, ignorar a necessidade de uma reserva para capital de giro e não separar o dinheiro pessoal do caixa da empresa são os principais erros que podem levar um negócio ao fim. Não ter um plano de negócio, inclusive, foi um desafio para 32% dos empreendedores da pesquisa.

Dicas para empreendedores

Confira abaixo algumas dicas do administrador Roberto Lange Rila para evitar erros no negócio e como contorná-los quando aparecerem:

  • Estude: antes de iniciar um negócio, conheça o mercado em que deseja atuar, identifique as necessidades e comportamentos do seu público, avalie concorrentes, preveja cenários otimista, pessimista e realista.
  • Não espere estar 100% pronto: mesmo estudando, o empreendedor nunca está completamente pronto. É preciso arriscar e dar o primeiro passo, senão pode perder o timing da empresa. Erros acontecem, mas com o planejamento inicial, é possível recalcular a rota com mais facilidade.
  • Identifique falhas: se a empresa não dá o retorno previsto e se o empreendedor não consegue honrar com os compromissos financeiros, é sinal de que algo está fora do eixo. Quanto antes identificar, melhor. Se preciso, busque mentorias para pequenos negócios.
  • Evite persistir no erro: o especialista afirma que, às vezes, a pessoa tem dificuldade de admitir que não deu certo e acaba criando um problema maior, pois insiste em manter um negócio que está dando errado.
  • Faça uma autoavaliação: ao identificar erros, organize a casa. Visualize as dívidas, as prioridades, negocie o que for possível e use a reserva de emergência da empresa - se tiver e for necessário. Liste o que deu errado e trace um novo plano, destacando o que fazer para não repetir as falhas.

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