29 de outubro de 2020 | 05h03
As mulheres empreendedoras estão mais pessimistas do que os homens quanto ao retorno de seus negócios à normalidade, é o que indica uma pesquisa realizada pelo Sebrae e pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). Segundo o levantamento, 66% das empresárias ouvidas acham que menos da metade dos clientes voltará a consumir em 30 dias, contra 59% dos homens.
Por outro lado, os dados apontam que, mesmo com todos os obstáculos, as empreendedoras são as que mais inovam - aproximadamente 42% delas passaram a comercializar novos produtos e/ou serviços durante a pandemia do coronavírus, enquanto esta foi uma realidade para 37% dos homens.
“O fato de elas serem mais afetadas também faz com que elas se movam mais rapidamente do que os homens. Eu recebo dezenas de mensagens de mulheres que estão adaptando seus negócios”, comenta Ana Fontes, fundadora da Rede Mulher Empreendedora.
Ainda de acordo com a pesquisa de Sebrae e FGV, as empreendedoras foram mais prejudicadas do que os homens no faturamento mensal das empresas, em que 77% delas afirmam diminuição, contra 73% dos homens. São as mulheres que também alegam ainda ter muitas dificuldades em manter seu negócio, sendo 45% empreendedoras e 42% empreendedores.
A pesquisa foi realizada com 6.033 empreendedores de todo o País, entre 28 de setembro e 1º de outubro. Dentre os entrevistados, 57% são microempreendedores individuais (MEI) e 38% microempresários, entre outros.
Para Ana Fontes, consultora e mentora em negócios femininos, que no próximo mês realiza a 9ª edição de seu evento voltado para elas, as mulheres não são pessimistas, mas sim realistas. “Elas foram mais afetadas. Os segmentos que as mulheres atuam foram os segmentos mais afetados; elas receberam um impacto maior do que os negócios dos homens.” A isso somam-se outros aspectos. “Tarefas domésticas, cuidar dos filhos e até mesmo a violência doméstica cresceu.”
Para Dani Junco, fundadora do B2Mamy, aceleradora de negócios focada em mães empreendedoras, a diminuição das vendas está ligada ao tempo. “Nós ainda equilibramos mais pratos que homens. Ter que rodar pratos a mais do que os meninos faz com que tenhamos resultados menores. Isso não tem a ver com competência técnica, tem a ver com a disponibilidade de tempo.”
Renata Malheiros, analista de Cultura Empreendedora do Sebrae, também acredita que as questões socioculturais estejam diretamente ligadas com o desempenho das empreendedoras durante a pandemia. Ela cita três fatores principais que afetam as mulheres, sendo eles:
Dani Junco enfatiza a importância de ter uma comunidade fortalecida. “É essencial estar conectado numa rede de apoio para ter ajuda dentro de casa e para empreender.” Ela conta que seu grupo de Facebook, B2Manas, passou de mil mulheres para quase 6 mil. “Lá é um espaço onde elas buscam pesquisas, trocam opiniões, fazem perguntas, pedem ajuda e realmente se ajudam, recebem um retorno.”
Mesmo enfrentando maiores dificuldades, desde o início da pandemia apenas 46% das empresárias buscaram empréstimos, contra 53% dos homens, diz a pesquisa. Para Renata, as mulheres são mais cautelosas ao adquirir dívidas. “Muitas vezes, as empresas não precisam de crédito e sim melhorar a gestão.”
“Outro fator, ainda olhando a questão social, é que é comum que as empreendedoras terceirizem as finanças com os parceiros ou com um contador”, explica analista do Sebrae.
Renata faz a ressalva de que não basta apenas capacitar mulheres. “É importante pensar sempre no micro do indivíduo e no macro da sociedade. Não adianta só empoderar e capacitar as mulheres sendo que o mundo lá fora não vai aceitar isso.”
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