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Empreendedor brasileiro fatura até R$ 2,8 mil ao mês

Pesquisa mostra que existem hoje no Brasil 48 milhões de empresários, e 70% deles faturam até três salários mínimos por mês

Por Vivian Codogno e Ricardo Rossetto
Atualização:

Um corte de funcionários há seis meses na Mercedes-Benz deixou Paulo Filho sem emprego. Aos 27 anos, ele percebeu que a saída para recolocar-se no mercado era montar um negócio. Hoje, dono de uma produtora de vídeos, fatura R$ 2,5 mil por mês – ganho 35% menor do que quando estava empregado. “Era isso ou aceitar um emprego para receber R$ 1,2 mil”, conta.

Após seis meses de desemprego,Paulo Filho investiu em uma produtora audiovisual Foto: Nilton Fukuda/Estadão

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Histórias como essa se multiplicaram pelo País. De acordo com os dados da Global Entrepreneurship Monitor (GEM) de 2016, obtida com exclusividade pelo Estado, cresce no Brasil o número de empresários, mas poucos são orientados pela vocação. Pressionados pelo desemprego, a maioria acaba restrita a um cenário de baixos rendimentos e pouca eficiência.

Segundo o levantamento, feito no País pelo Sebrae e Instituto Brasileiro de Qualidade de Produtividade (IBPQ), existem no Brasil 48 milhões de donos de empresas. Desse total, 44% entraram no mundo empresarial por necessidade (em 2008, eram 32%). E sete entre dez empresários recebem no máximo três salários mínimos (R$ 2,8 mil), o que os especialistas chamam de empreendedorismo de subsistência.

“Estamos passando por um momento de empreendedorismo de desespero no Brasil. Isso leva à baixa produtividade, tornando ineficiente a maior parte das pequenas empresas”, afirma o pesquisador de inovação e empreendedorismo da Fundação Dom Cabral, Hugo Tadeu. Segundo ele, sem qualificação adequada muitas dessas empresas se desestruturam rapidamente por falta de planejamento.

O presidente do Sebrae Nacional, Guilherme Afif Domingos, reconhece a dificuldade da base da pirâmide dos empreendedores em criar negócios de alta qualificação e escaláveis, o que os torna, essencialmente, autônomos formalizados. “O MEI (Microempreendedor Individual) é, na verdade, a porta de entrada. E dele espera-se uma evolução que ainda não acontece”, diz.

A pesquisa mostra aumento da participação dos mais jovens entre os empreendedores. Quase 50% das pessoas que iniciaram um negócio em 2016 tinham entre 18 e 34 anos. É o caso da cabeleireira Maria Eduarda da Conceição, de 27 anos. “Comecei como autônoma, mas trabalhar dessa forma nos dá ainda menos segurança.” Ela abriu a empresa há dois anos e fatura, em média, R$ 2 mil por mês.

Qualificação. Uma das modificações observadas na pesquisa GEM de 2016 relaciona-se com a motivação apontada pelos empreendedores para a abertura de empresas. Segundo o levantamento, 57% dos empresários brasileiros afirmaram buscar o empreendedorismo impulsionados pela oportunidade. Na outra ponta, 43% são atraídos pela necessidade de renda. O índice de empresas abertas por oportunidade, que havia crescido nos últimos anos e é um indicador de melhoria na qualidade dos negócios, recuou para os patamares registrados dez anos atrás.

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Para o professor de empreendedorismo e inovação da Saint Paul Escola de Negócio, César Akira, o índice alerta para a necessidade de um esforço para consolidar aquelas pessoas que já se tornaram empresárias, e, sobretudo, investir em capacitação. “O tema da qualificação pessoal deve vir antes da ideia de abrir uma empresa. Muitos empreendedores iniciais têm dificuldades básicas de conhecimento, como de matemática”, diz.

Afirmando que um país competitivo precisa de empresas competitivas, o especialista destaca que a eficiência estimula toda a cadeia produtiva e torna o país mais atrativo para os investidores estrangeiros. Segundo Akira, é necessário melhorar o ambiente institucional e promover incentivos – como desburocratização, investimento em educação e em infraestrutura – para fazer os negócios dos pequenos e médios empresários decolarem. “Em geral, quem é dono de um negócio não quer dividir a gestão da sua empresa com outra pessoa. Mas estabelecer parcerias com profissionais que tenham conhecimentos complementares é fundamental para o sucesso da empreitada”, afirma.

Resiliência. Apesar do cenário difícil para o empreendedorismo no País, Akira aponta algumas vantagens em relação aos principais parceiros comerciais no mundo. Em primeiro lugar, afirma, o mercado em grande escala sempre é um atrativo para as empresas, que podem alavancar seus negócios ao atingir um público cada vez maior.

Além disso, diz, há outra característica particular que pode ser vista como favorável ao ambiente de negócios: a capacidade de resiliência e adaptação do brasileiro. “Mesmo com o mercado difícil, as pessoas conseguem encontrar algumas oportunidades para vencer as adversidades. Isso, aliado à qualificação, pode nos garantir maior vantagem competitiva no futuro.”

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